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25/11/2004 - 19h46

China provoca união de empresários brasileiros e argentinos

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires

Empresários da Argentina e do Brasil mostraram nesta quarta-feira sinais de uma unidade inédita nos 13 anos de existência do Mercosul.

A inesperada união surgiu diante do temor quanto a uma possível invasão de produtos fabricados na China, depois que Brasil e Argentina reconheceram oficialmente o país como uma "economia de mercado" --algo que, até agora, nem Estados Unidos nem União Européia fizeram.

"O perigo não vem mais do vizinho. O perigo agora vem da Ásia", disse o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf. "É a China que merece nossa luz vermelha", afirmou.

"A China não é economia de mercado. Ela é uma economia estatizada. Os preços são artificiais e muito baixos. Foi um erro declarar a China como economia de mercado."

Perigo

As declarações de Skaf foram feitas na embaixada do Brasil em Buenos Aires, onde ele participou de um encontro do empresariado brasileiro com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Depois, os empresários brasileiros se uniram a argentinos para um encontro com o chanceler da Argentina, Rafael Bielsa.

Ao chegar para o mesmo encontro, Jorge Antonio Fernandez Martins, vice-presidente da empresa de ônibus Marcopolo, com sede no Brasil, fez mais críticas ao país asiático --cujo presidente, Hu Jintao, visitou Brasil e Argentina na semana passada.

"Chinês é sempre um perigo. Como eles não fabricam ônibus, não nos sentimos ameaçados. Eles só entram onde podem ter retorno seguro e rápido. Não é o caso dos ônibus."

Na opinião do economista Dante Sica, do Centro de Estudos Bonaerenses (CEB), empresários brasileiros e argentinos, de setores como o têxtil e o de sapatos, têm sim motivos para estar preocupados com uma possível "invasão" chinesa.

"Todo cuidado será pouco e governos e empresários devem estar atentos já que a produção chinesa é em massa e mais barata que a de muitos e muitos países".

Quando Dante Sica foi perguntado sobre essa união dos brasileiros e argentinos, citou frase do escritor Jorge Luis Borges: No nos une el amor sino el espanto. E depois traduziu: "Eles não estão unidos pelo amor, mas pelo susto".

Amorim

No entanto, o chanceler Celso Amorim insistiu que não há motivos para temer os produtos chineses, conhecidos por ser mais baratos que os de outros países.

"Estão fazendo tempestade em copo d'água. Os riscos são pequenos, e as vantagens são grandes", disse ele antes da chegada dos empresários brasileiros à embaixada.

Celso Amorim foi enfático ao destacar que os países contam com salvaguardas e poderão recorrer à OMC (Organização Mundial de Comércio), caso ocorra dumping.

No entendimento de Celso Amorim, o melhor é sair na frente, já que a China, declarou, tem um "enorme potencial" econômico. Ele lembrou que os países da América do Sul não foram os primeiros a dar tal oportunidade à China.

Mercosul

Para o chanceler brasileiro, talvez a discussão sobre o potencial do gigante asiático acabe servindo mesmo para fortalecer o Mercosul ainda mais internamente, mantendo-o como uma união aduaneira --hoje "imperfeita", segundo ele.

Amorim acredita que já é um bom sinal se a nova relação comercial com a China servir para provocar "gestos amorosos" entre brasileiros e argentinos.

Dessa forma, ele praticamente ignorou as críticas feitas, também na quarta-feira, de um setor da Fiesp que reabriu a discussão para que o bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai se limite a ser uma zona de livre comércio.

"Essa possibilidade está afastada. A história tem mostrado que a união aduaneira é que faz os países avançarem como bloco".
 

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