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25/11/2004 - 14h24

Nápoles pode sofrer intervenção do Exército italiano

VALQUÍRIA REY
da BBC Brasil, em Nápoles

Conhecida como a "capital italiana do homicídio" e considerada por alguns uma cidade sem lei, Nápoles corre o risco de sofrer intervenção do Exército.

Temendo que a situação piore drasticamente e possa sair do controle, o ministro do Interior [responsável pela segurança interna do país], Giuseppe Pisanu, disse que o governo responderá com firmeza à expansão da violência mafiosa.

"A segurança de Nápoles é um problema nacional", disse Pisanu ao anunciar o envio de um contigente de mais 325 policiais para ajudar a patrulhar a cidade em mais uma tentativa governamental de controlar a organização criminosa.

A guerra entre bandos rivais da Camorra, a versão napolitana da máfia siciliana, vem provocando uma escalada da violência em Nápoles.

Somente nas duas últimas semanas, pelo menos 13 pessoas foram assassinadas com crueldade na terceira maior cidade da Itália. Algumas, encontradas enroladas em papel celofane, com sinais de tortura ou carbonizadas dentro de seus próprios carros.

Maioria favorável

Os crimes chocaram a opinião pública italiana e fizeram vir à tona uma realidade que todos gostariam de esquecer: a Camorra continua mais ativa do que nunca.

De acordo com uma pesquisa realizada no final de outubro pelo Instituto Ipsos, 52% dos italianos são favoráveis à intervenção militar, numa tentativa de resolver definitivamente o problema da criminalidade.

Para tentar conter violência, a prefeita Rosa Russo Jervolino recentemente proibiu a venda de armas leves na cidade, inclusive a de certos tipos de facas de cozinha. Ainda assim a prefeita é contra a intervenção militar na cidade. De acordo com ela, a ação militar não atacará os problemas de fundo.

"Se Nápoles não tivesse o alto desemprego atual e contasse com um nível de renda sustentável, certamente a situação seria melhor", afirmou. "Militarizar a cidade não resolverá o problema. Já contamos com quase 13 mil homens, um para cada 238 habitantes, a média mais alta da Itália".

Conforme a prefeita, apenas um trabalho social e de conscientização política pode ajudar a encontrar uma solução duradoura que ataque os problemas de fundo.

Assassinatos

Nos populosos bairros Scampi e Secondigliano, onde ocorreram a maioria dos últimos assassinatos e o clã liderado por Paolo Di Lauro luta pela hegemonia do bilionário mercado de drogas, as pessoas têm medo de sair de casa.

"Quando estou sozinha, caminho de costas", diz Antonella Rossoni, de 18 anos. "Aqui, os jovens não são totalmente bons. Há de tudo: os que vendem drogas, os que distribuem e os que compram."

Antonella não estuda e não trabalha. Integrante do grupo de 58,8% de jovens napolitanos desempregados, diz que não tem nada para fazer o dia inteiro. Apesar do assédio dos mafiosos, nunca quis vender drogas. Mas já foi noiva de um traficante.

Aqueles que dirigem motos deixaram de usar os capacetes, apesar de ser obrigatório. Eles temem ser confundidos com os matadores de aluguel, que sempre usam a cabeça coberta quando estão em serviço. A polícia diz que não pode fazer nada.

Padre com guarda-costas

Nos outros bairros da periferia empobrecida de Nápoles, apesar de a situação estar um pouco mais calma, a realidade não é muito diferente. Garotos com entre 12 e 17 anos vendem drogas enquanto jogam futebol pelas ruas e a polícia não entra em determinas áreas.

No centro, no bairro Forcella, o padre Luigi Merola reza missa acompanhado por guarda-costas, porque foi ameaçado pelos mafiosos.

Em qualquer parte da cidade portuária, acostumada com a pobreza, o desemprego, as drogas e o crime organizado, as pessoas dizem que a situação piorou nos últimos tempos e se queixam da pouca eficácia da polícia.

"Eles sempre chegam depois que as coisas já aconteceram", queixa-se o comerciante Cesare Pertoni. "Mas e antes? Nunca sabemos onde é que eles estão."

Os policiais, por outro lado, concentraram esforços para colocar na cadeia os líderes mafiosos, acreditando que estavam pondo fim à velha Camorra, criada há mais de 200 anos. Mas não foi o que aconteceu.

Alianças

A ruidosa e caótica Nápoles sofre essa onda de violência selvagem porque falta um grande chefe que controle as mais de 20 "famílias" que disputam a hegemonia da cidade e restaure o velho sistema de alianças.

"É uma crise de crescimento interno de uma estrutura da Camorra", explica Antonio De Jesu, diretor do Escritório de Prevenção Geral da Polícia de Nápoles. "São os coronéis que querem o posto de general. Querem o controle das praças de droga, onde podem ganhar até 50 mil euros por dia".

De Jesu não acredita que a polícia consiga sozinha acabar com o crime organizado em Nápoles. De acordo com ele, se o problema do desemprego não for solucionado, a máfia continuará recrutando as pessoas que estão afastadas do mercado de trabalho em seus negócios de drogas, armas, extorsão e prostituição.

Analistas dizem que a Camorra napolitana deve faturar, em 2004, US$ 5 bilhões.

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