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10/12/2004 - 19h27

A Semana: América do Sul tenta superar suas diferenças

ROGÉRIO SIMÕES
da BBC Brasil

O local escolhido era simbólico, e os objetivos, bastante nobres. Em Cuzco, antiga capital do império inca, a 3.400 metros acima do nível do mar, o encontro de presidentes sul-americanos lançaria a pedra fundamental de uma comunidade nos moldes da União Européia.

Mas o que se viu durante a semana que termina, na cidade peruana, foi não apenas o início oficial dessa união regional, mas também exemplos de como será difícil colocá-la em prática.

Realizado na quarta-feira, o encontro que lançou a Comunidade Sul-Americana de Nações deveria contar com os presidentes dos 12 países-membros.

Mas do Mercosul, apenas o idelizador da idéia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, honrou a iniciativa com a sua presença.

Tanto o argentino Néstor Kirchner como o uruguaio Jorge Batlle alegaram recomendações médicas para evitar a altitude de Cuzco. Já o paraguaio Nicanor Duarte disse que não poderia se ausentar do país porque precisava resolver questões internas.

Considerando que a comunidade sul-americana é principalmente uma união de dois blocos, o Mercosul e a Comunidade Andina (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela), a ausência de 75% dos governantes de um dos blocos não foi nada animadora.

Sem seus colegas de Mercosul, o presidente Lula fez sua parte: garantiu que a nova comunidade fosse oficializada e, em um acordo com o colega peruano, Alejandro Toledo, aprovou uma primeira medida concreta.

Os dois países assinaram um acordo para a construção de uma rodovia que deve facilitar a exportação de produtos brasileiros para a Ásia, via Oceano Pacífico.

Mas nem por isso Lula ficou imune a críticas. Em encontros a portas fechadas, o presidente chileno, Ricardo Lagos, disse que o continente tinha reuniões demais e medidas concretas de menos, numa indireta referência às iniciativas diplomáticas do presidente brasileiro.

Aparentemente, também o venezuelano Hugo Chávez e o colombiano Álvaro Uribe demonstraram desconforto com a falta de avanços concretos nas negociações sul-americanas.

Em outro palco, o do Mercosul, a Argentina demonstrou novamente insatisfação com o que considera falta de apoio brasileiro diante da sua situação econômica, por causa da grande exportação de produtos do Brasil para o vizinho.

Com isso, a América do Sul segue enfrentando diferenças políticas e econômicas, além das mais óbvias, as geográficas, para chegar a uma união verdadeira.

O encontro de presidentes do Mercosul, na próxima semana, em Ouro Preto, será mais uma chance de se tentar aparar as arestas. Mas o coro dos pessimistas continua crescendo.

Apoio a Sharon

O primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, conseguiu uma importante vitória política nesta semana, com a aprovação pelo seu partido, o Likud, de uma aliança com a oposição trabalhista.

O acordo entre os dois partidos, que deve ser definido na semana que vem, aumenta as chances de sucesso do plano de Sharon de retirada de soldados e colonos israelenses da Faixa de Gaza.

A vitória do premiê ocorre em um momento em que palestinos caminham para o estabelecimento de uma liderança aceita pelo Ocidente e por Israel.

Em eleições marcadas para 9 de janeiro, a comunidade palestina de Gaza, Cisjordânia e de Jerusalém Oriental vai escolher o substituto de Yasser Arafat no cargo de presidente da Autoridade Nacional Palestina.

O candidato favorito, Mahmoud Abbas, já bem visto em Washington e Tel-Aviv, forteleceu sua imagem junto aos palestinos ao se aproximar de líderes árabes, como durante sua viagem à Síria nesta semana.

Apesar do favoritismo, Abbas tem um adversário de peso, Marwan Barghouti, um líder popular, mas que se encontra preso em Israel.

Sua candidatura faz da disputa uma eleição legítima, em que palestinos terão a chance de realmente escolher entre propostas diferentes.

Barghouti ainda defende a Intifada iniciada em 2000, enquanto Abbas diz que ela agravou a situação dos palestinos. Abbas tem mais chances de vitória e, com um oponente de peso, caso ela realmente se realize, ele terá a força política necessária para negociar com Israel.

A um mês das eleições presidenciais palestinas, as notícias vindas da Terra Santa permitem um otimismo, nem que seja moderado. Depois de pelo menos três anos, palestinos e israelenses já podem ver uma luz no fim do túnel de seu sangrento conflito.

EUA e Europa

A quinta-feira viu o demissionário secretário de Estado dos Estados Unidos, Collin Powell, posar ao lado de seus colegas europeus da Otan, com esperanças de resolver as diferenças existentes entre os dois lados do Atlântico.

Em Bruxelas, durante o encontro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Powell pediu que os europeus colaborem com tropas no treinamento de forças iraquianas. O pedido foi registado, mas França, Alemanha, Espanha e Bélgica continuando negando tal compromisso.

Na mesma quinta-feira, foi anunciada a visita do presidente George W. Bush à Europa logo depois de sua posse, marcada para janeiro próximo.

Os Estados Unidos querem mostrar que a Europa, apesar das diferenças em relação à guerra no Iraque, continua muito importante na sua política externa.

Para aliviar a posição de Washington, um de seus principais aliados europeus, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, foi absolvido de uma acusação de corrupção na sexta-feira.

Berlusconi poderia ter sido condenado por corrupção envolvendo seu comportamento como empresário em negócios de suas empresas nos anos 80.

Mas uma de suas acusações foi rejeitada pela Justiça, e a outra considerada inválida por término do prazo legal. Berlusconi sobreviveu, e os Estados Unidos continuam contando na Itália com um importante aliado europeu.
 

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