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17/12/2004 - 08h29

Brasil esclarece a ditadura lentamente, diz Maxwell

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, em Washington

O Brasil do governo Lula vem realizando avanços no esclarecimento de fatos ligados à ditadura militar, mas de forma bem mais lenta do que outros países da América Latina. Esta é a opinião do historiador britânico Kenneth Maxwell.

Em entrevista à BBC Brasil, o historiador do Centro de Estudos Latino-Americanos David Rockfeller, da Universidade de Harvard (EUA), disse ainda que o esclarecimento dos fatos é essencial para a sociedade brasileira e, inclusive, para os próprios militares.

Segundo Maxwell, a democracia ficará comprometida no Brasil caso esses assuntos não sejam tratados.

"Mesmo os militares precisam enfrentar o assunto. As Forças Armadas brasileiras vêm participando ativamente de importantes missões internacionais, buscando reformas e um papel de destaque na América Latina e no mundo. É importante para elas avaliarem os erros do passado", afirma Maxwell.

O historiador elogia o governo pelos avanços na pesquisa de arquivos da ditadura, mas disse que o processo ainda caminha lentamente.

"O governo Lula está um pouco mais aberto e as coisas estão entrando em discussão, mas claro que há ainda uma grande reticência em enfrentar os militares sobre estas questões. Mas acho que com a pressão da imprensa, da sociedade civil e das famílias das vitimas dos dois lados (militares e oposicionistas) o esclarecimento pode caminhar".

Maxwell não acredita no risco de revanchismo no Brasil, porque os envolvidos estão melhor cobertos pela Lei da Anistia, do que em outras partes da América Latina.

"Eu acho perigoso não falar destas coisas. Chegou a hora de abordar o assunto", acha.

América Latina e EUA

Sobre o resto da América Latina, Maxwell disse que aos poucos os países vêm consolidando as suas democracias, o que lhes permite abrir os arquivos contendo "histórias que ficaram enterradas por décadas".

"O que está acontecendo com o ex-ditador chileno Augusto Pinochet é muito importante. Se ele for realmente submetido à Justiça, outros países podem fazer o mesmo", acredita o historiador.

O historiador lembra, no entanto, que é ainda complicado obter e divulgar informações nos Estados Unidos sobre a suposta participação do país na criação e manutenção das ditaduras da América Latina.

Kenneth Maxwell afirmou não ter dúvidas de que houve envolvimento americano nos regimes militares, mas diz que os detalhes e a extensão desta participação ainda são obscuros.

Neste ano, o pesquisador entrou em uma acalorada polêmica a respeito da participação dos Estados Unidos na Operação Condor, um operação de perseguição política a opositores realizada por ditaduras da América do Sul, incluindo a do Brasil.

Maxwell e o ex-subsecretário de Estado Americano, William Rogers, discordaram em artigos publicados na influente revista especializada Foreign Affairs (Assuntos Internacionais) sobre o envolvimento americano - principalmente do ex-secretário de Estado, Henry Kissinger, na operação sul-americana.

Maxwell acabou abandonando a função de comentarista de livros sobre América Latina que tinha na revista - e também renunciou à sua cadeira no Conselho de Relações Internacional.

A polêmica, segundo ele, mostrou como, mesmo três décadas depois, as ditaduras latino-americanas continuam um assunto tabu nos Estados Unidos.

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