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10/01/2005 - 18h00

Cientistas decifram DNA de possível arma biológica

PAUL RINCON
da BBC Brasil

Especialistas decifraram a seqüência completa do DNA de um dos micróbios mais infecciosos conhecidos pela ciência.

A bactéria Francisella tularensis é considerada como uma possível arma de bioterrorismo porque são necessários apenas dez micróbios para causar doenças em seres humanos.

O trabalho de seqüenciamento do genoma já está acelerando a procura por uma vacina contra esse micróbio que é potencialmente mortal.

O estudo foi publicado pela revista "Nature Genetics" por uma equipe internacional de cientistas, inclusive do Ministério de Defesa da Grã-Bretanha.

Candidatos

"Não consigo pensar em outros (patogênicos) que sejam mais infecciosos", disse o co-autor do estudo, professor Richard Titball, do Laboratório de Defesa, Ciência e Tecnologia, em Port Down, na Grã-Bretanha.

"Existem uns dois que estão no mesmo nível e também são candidatos a armas biológicas."

A bactéria provoca uma doença chamada tularemia em seres humanos e animais. O micróbio recebia pouca atenção dos cientistas antes de 11 de setembro de 2001, mas agora ocupa um lugar elevado na lista de agentes biológicos que os especialistas temem que possam ser usados em ataques terroristas.

Casos naturais de tularemia ocorrem na América do Norte, na Europa e na Ásia. Os seres humanos podem pegar a doença de mordidas de carrapatos, moscas, mosquitos ou pela inalação de partículas no ar.

Muitos casos envolvem agricultores que contraem a doença depois de inalar o pó de terra onde animais infectados --freqüentemente mamíferos pequenos como coelhos e esquilos-- vinham habitando.

Um surto registrado em Martha's Vineyard, nos Estados Unidos, foi provocado provavelmente por alguém que tropeçou em uma carcaça de coelho quando cortava a grama. A bactéria no ar infectou duas pessoas.

Ameaça no ar

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a dispersão no ar de 50 kg de Francisella tularensis em uma área urbana de 5 milhões de habitantes mataria 19 mil pessoas e deixaria incapacitadas outras 250 mil.

"Mesmo as pessoas que não morrem ficam doentes de forma crônica por várias semanas e meses. Essa é uma doença que deixa as pessoas realmente doentes", disse Titball à "BBC".

Ao contrário de bactérias como a do antraz ou do cólera, os cientistas sabiam quase nada sobre esta bactéria até recentemente.

A esperança é de que o trabalho de seqüenciamento genético, que demorou cinco anos para ser concluído, leve à criação de um programa mundial de biodefesa contra a Francisella tularensis possibilitando o desenvolvimento de novas vacinas e equipamentos de diagnóstico.

Pesquisadores de institutos da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos e da Suécia seqüenciaram uma forma especialmente virulenta da bactéria. Isso permitiu que eles identificassem um grupo incomum de genes que poderia estar envolvido no surgimento da doença.

Os genes identificados nunca foram vistos em outro organismo vivo. Os cientistas ainda não sabem como a Francisella tularensis adquiriu esses genes ou como eles funcionam.

De acordo com o professor Titball, no entanto, a presença deles pode sugerir que o micróbio tem formas ainda desconhecidas de causar a doença.

Os pesquisadores vão explorar duas estratégias para desenvolver uma vacina.

Uma delas será desativar genes que causam a doença, de tal forma que essas bactérias funcionariam como uma vacina viva.

A outra será pegar determinadas proteínas da bactéria que poderiam ser usadas para reforçar o sistema imunológico. A equipe de cientistas diz que já identificou os alvos que seriam apropriados para esse segundo caminho.

A pesquisa também pode ajudar a entender melhor como os organismos reagem à sua virulência.

Stalingrado

Bill Keevil, microbiologista da Universidade de Southampton, disse acreditar que esse estudo ajudaria enormemente a pesquisa de novos tratamentos.

"Até recentemente, não havia muito interesse em termos de saúde pública na Grã-Bretanha porque a Francisella tularensis não infecta muitos britânicos. Mas, é claro, com o ângulo do bioterrorismo agora existe mais interesse", diz.

A tularemia foi descrita pela primeira vez como uma praga de roedores em 1911 e, pouco depois, como uma doença fatal para humanos.

Os japoneses foram os primeiros a estudar seu potencial como um agente de arsenal de guerra, durante um programa desenvolvido entre 1932 e 1945.

Ken Alibek, um ex-cientista soviético de armas biológicas, sugeriu que o Exército Vermelho pode ter usado a tularemia de forma deliberada contra as Forças alemãs no fronte da Europa do Leste, na 2ª Guerra Mundial.

Os militares dos Estados Unidos fizeram da bactéria uma arma durante os anos 1950 e 1960. Um esforço paralelo dos soviéticos teria continuado até o início dos anos 1990. Não se sabe se países da ex-URSS ainda mantêm estoques da bactéria.

Especial
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