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14/01/2005 - 19h09

A Semana: Esperança e violência no Oriente Médio

ROGÉRIO SIMÕES
da BBC Brasil

A semana começou com festa e otimismo na Palestina. Depois da morte de Yasser Arafat, em novembro, chegara a hora de os palestinos escolherem seu novo líder, a nova face da sua luta por um Estado independente.

Nas eleições de domingo para a presidência da Autoridade Nacional Palestina, não houve surpresas. Mahmoud Abbas, ex-primeiro-ministro palestino e contrário à continuação da luta armada, foi eleito com mais de 60% dos votos.

Dos quatro quantos do mundo, vieram congratulações e mensagens de apoio a Abbas, que carregava a esperança de uma nova fase na relação com Israel.

O presidente americano, George W. Bush, não demorou para enviar seu apoio. Logo depois de divulgado o resultado, já no domingo, Bush afirmou estar "ansioso" para trabalhar com o novo líder palestino.

Na segunda-feira, Bush foi além. Em uma conversa telefônica com Abbas, disse que esperava recebê-lo em Washington, convite que o presidente americano nunca estendeu a Yasser Arafat.

Como indicativo de que o futuro parecia mesmo róseo, na terça-feira Mahmoud Abbas recebeu um telefonema do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon.

Na conversa, Sharon parabenizou-o pela vitória e disse acreditar que os dois se encontrariam "em breve". A desconfiança e falta de perspectivas que marcou a relação entre a Autoridade Palestina e o governo israelense nos últimos anos parecia coisa do passado.

Mas a alegria durou pouco. Na quarta-feira, soldados israelenses já estavam de volta aos territórios palestinos ocupados, depois de uma trégua de poucos dias para a realização das eleições.

Os grupos armados palestinos, que após o pleito haviam dito que continuariam com seus ataques contra alvos israelenses, começaram a mostrar que não facilitarão a vida do novo presidente.

Com os dois lados novamente prontos a violenta rotina, dois incidentes começaram a pôr dúvidas nas perspectivas otimistas para a região.

Membros do Jihad Islâmico mataram um israelense num ataque a um assentamento na Faixa de Gaza, e tropas israelenses mataram dois militantes palestinos na Cisjordânia.

A situação piorou na noite de quinta para sexta-feira. Os três grupos armados palestinos que prometeram manter sua guerra contra a ocupação israelense, Hamas, Jihad Islâmico e Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, organizaram um ousado ataque a um posto de controle.

Seis israelenses morreram. Como resposta, na sexta-feira o premiê israelense colocou um balde de água fria na perspectiva de um encontro com Abbas. Disse que estava suspendendo os contatos com a Autoridade Palestina até que a entidade prove que vai combater os grupos militantes.

Para Abbas, o fato de os três grupos terem assumido a autoria do atentado conjuntamente foi particularmente danoso, pois indica a intenção clara dos militantes de questionar a autoridade do novo presidente.

O fato de as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa fazerem parte do mesmo grupo político de Mahmoud Abbas, o Fatah, dificulta ainda mais sua posição.

A morte de Yasser Arafat pode ter afastado um obstáculo para futuras negociações entre palestinos, Israel e o eterno mediador do conflito, os Estados Unidos. Mas a semana que termina provou que os desafios vão muito além de uma simples troca de comando.

Os EUA e a tortura

O tratamento de prisioneiros mantidos pelos Estados Unidos esteve, de uma forma ou de outra, no noticiário da semana.

Enquanto no Texas o soldado Charles Graner era julgado por abusos contra prisioneiros na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, a entidade de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch atacava a chamada "guerra ao terrorismo" americana.

Relatório da Human Rights Watch divulgado na quinta-feira diz que, no caso do escândalo de Abu Ghraib, em que imagens de abusos (ou pura e simplesmente tortura) foram registradas, os Estados Unidos estavam tentando transferir a responsabilidade aos soldados individualmente.

Em resposta, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Richard Boucher, disse que denúncias de tortura em Abu Ghraib e na base de Guantánamo estão sendo investigadas e que soldados envolvidos estão sendo processados.

Além disso, Boucher foi categórico ao dizer: "Nós não admitimos tortura ou abusos de presos".

Mas essa posição foi colocada em dúvida no dia seguinte por Tom Ridge, que acaba de deixar o cargo de secretário de Segurança Interna americano.

Em entrevista à BBC, Ridge disse que em circunstâncias extremas "(a tortura) pode acontecer". Segundo ele, diante de uma ameaça nuclear, por exemplo, "você vai tentar esgotar todos os meios que você puder para extrair informação e salvar centenas e milhares de pessoas".

Em seguida, o próprio Ridge adimitiu que informações extraídas nessas circunstâncias podem não ser confiáveis.

Tom Ridge foi substituído no posto de secretário de Segurança Interna, criado logo depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, por Michael Chertoff.

Advogado, Chertoff estava à frente da divisão criminal do Departamento de Justiça quando as torres do World Trade Centre foram derrubadas.

Ele é visto como uma figura central na condução legal da chamada "guerra ao terrorismo" lançada pelo presidente Bush.

Agora, sua missão será proteger os Estados Unidos de novos atentados. Se ele seguir a receita de seu antecessor, não haverá limites nos meios adotados para que ela seja cumprida.

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