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01/02/2005 - 16h16

Londres terá rua sem calçadas nem sinais de trânsito

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil

Uma rua do centro de Londres que é um dos principais destinos turísticos da cidade vai passar por uma radical transformação: as calçadas e sinais de trânsito de Exhibition Road serão abolidos e carros terão de respeitar um limite de velocidade de pouco mais de 30 quilômetros por hora.

A medida visa priorizar o espaço para o uso de pedestres, reduzir o tráfego e tornar a rua mais harmoniosa para visitantes e moradores, que atualmente se aglomeram em calçadas estreitas.

Segundo Jeremy Dixon, da equipe de arquitetos Dixon Jones, responsável pelo projeto, ao contrário do que pode parecer, a remoção de barreiras em Exhibition Road "incentiva um senso de responsabilidade e autonomia por parte de motoristas e pedestres".

A idéia de criar áreas compartilhadas por pedestres e carros é inspirada em experiências realizadas na Holanda, Dinamarca e Alemanha. Nesses países, algumas cidades contam com ruas que abriram mão de sinais de trânsito e calçadas.

O arquiteto não crê que os motoristas e pedestres ficarão sem rumo em Exhibition Road. "A indicação de como o trânsito deve seguir será dada por novos postes de iluminação e árvores dispostas ao longo da rua. Será um ambiente totalmente diferente do esquema normal regido pelo tráfego de carros", diz Dixon.

Rua olímpica

Richard Rogers, o assessor-chefe de arquitetura e urbanismo da prefeitura de Londres, afirma que Exhibition Road é um dos cem espaços urbanos que a prefeitura pretende criar priorizando pedestres em detrimento dos carros.

Caso Londres venha a sediar os Jogos Olímpicos de 2012, Exhibition Road, um centro cultural que abriga museus como o Victoria & Albert, o Museu de História Natural e o Museu de Ciência, poderia se tornar também um centro olímpico.

A rua poderia servir de rota da maratona, evento que marca o encerramento dos jogos.

Além disso, o trânsito mais livre para pedestres supostamente facilitaria o acesso ao Hyde Park, um dos cartões postais da cidade e um dos possíveis locais de competições.

De acordo com Richard Rogers, o trânsito e a locomoção em Londres são pouco condizentes com o padrão de excelência da cidade.

"Estive em Cuzco, no Peru, e vi ruas muito melhores que as de Londres. Um estrangeiro me disse que contando a partir do oeste de Riga, a capital da Letônia, Londres tem o mais caótico sistema de transporte público urbano. Eu concordo", diz Rogers, que é responsável por obras como o Centro George Pompidou, em Paris, e o edifício do Lloyds, em Londres.

King afirma que o projeto desagradará muitos motoristas que passam por Exhibition Road, já que além de ter pisar no freio, eles deixarão de contar com 30 áreas para estacionar. Em contrapartida, "os pedestres ganharão um dos melhores pontos de encontro da cidade", afirma.

Mas muitos dos pedestres ouvidos pela BBC Brasil encararam o projeto com ceticismo ou perplexidade. É o caso de Craig Douglas, um jamaicano residente na capital britânica.

"Deixa ver se eu entendi, não vai ter mais calçada, vai ser uma grande rua, com pedestres e carros juntos? Acho que isso vai ser bizarro, uma coisa louca", afirmou.

Douglas só se mostrou menos cético quando foi acrescida a informação de que o projeto visa priorizar pedestres e possivelmente permitiria a ele passear livremente pela rua com sua filha de colo e família.

"Ok, deixa rolar, vamos ver como fica. Se não der certo, depois a gente põe as calçadas de volta."

Verba

Mas o condado de Kensington e Chelsea, responsável em captar as cerca de 35 milhões de libras (R$ 175 milhões) necessárias para implantar o projeto, não pode se dar ao luxo de pôr o experimento em prática e depois voltar atrás.

A verba não deverá ser bancada pelo governo. Sairá de dois fundos patrocinados por loterias.

Mesmo os representantes do sofisticado condado, onde ficam alguns dos imóveis mais caros da cidade, estão cientes de que o projeto envolve dificuldades de implantação, sendo a principal delas, talvez, mudar a mentalidade de motoristas.

"Nunca será possível dizer que não haverá brigas de trânsito. Elas ocorrem em todas as partes do mundo. Mas se, por exemplo, você está passando pelo estacionamento de um supermercado, não vai dirigir em alta velocidade", diz Merrick Cockell, presidente do Condado de Kensigton e Chelsea.

"Aqui haverá indicações claras de que não se deve avançar uma certa velocidade. Com uma única superfície, sem calçadas, as pessoas saberão que devem ser cuidadosas", acrescenta.

Mas nem todos os freqüentadores de Exhibition Road acreditam que os motoristas se tornarão mais cuidadosos.

"O projeto parece anárquico. Não se pode esperar que os motoristas de repente comecem a demonstrar bom senso. Pedalo regularmente para cá e sei que não funciona assim. Em tese poderia dar certo, mas as pessoas não mudam seus hábitos assim tão fácil", diz Scott Patterson, cientista do Imperial College, uma das universidades da rua.

Há, no entanto, ciclistas e pedestres que acreditam que o experimento de Exhibition Road os beneficiará. É o caso de Gwyneth.

"Sou favorável a qualquer coisa ligada à diminuição de acesso a carros. Haverá conflitos. Muitos se irritarão por não poderem estacionar. Mas sou uma pedestre e uma ciclista, mais do que uma motorista. É preciso visitar cidades como Veneza, por exemplo, para entender como é agradável uma cidade sem carros", disse Gwyneth.

Alguns turistas dizem estranhar o projeto. "Como é que as pessoas vão circular sem calçadas? Não parece uma boa idéia. Há sempre tanta gente na rua e muitos turistas. Não entendo qual é a vantagem", afirma o estudante americano Jarred Nugent.

As possíveis vantagens e desvantagens do experimento de Exhibition Road só virão à tona, no entanto, no final da década.
 

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