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07/02/2005 - 09h44

Egito resiste a reformas, mas é chave para Bush

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Ariel Sharon e Mahmoud Abbas se reúnem nesta terça-feira no balneário de Sharm el-Sheik, no Egito, no primeiro contato do mais alto nível entre israelenses e palestinos em mais de quatro anos.

Circunstâncias como a morte de Yasser Arafat e o plano de retirada unilateral de Israel da faixa de Gaza abriram oportunidades diplomáticas na região.

O momento está sendo aproveitado também pelo presidente egípcio, Hosni Mubarak, para retomar o seu papel de grande mediador no Oriente Médio.

Líder do primeiro país árabe que assinou um acordo de paz com Israel, Mubarak se recusava a se reunir com Sharon desde que ele tomou posse, em 2001.

Linha de frente

Secundado pelo rei Abdullah da Jordânia, Mubarak decidiu convocar esta cúpula em Sharm el-Sheik em um momento que convém às várias partes interessadas.

O veterano presidente de 76 anos, no poder desde 1981, acaba funcionando como um intermediário no Oriente Médio para os americanos.

Mubarak tem uma posição curiosa. Hoje ele está novamente na linha de frente dos interesses do governo Bush para suavizar o conflito entre israelenses e palestinos e policiar uma região tão turbulenta.

Beneficiário de uma ajuda americana de US$ 2 bilhões por ano, o presidente egípcio nem sempre cumpriu com afinco o seu papel pró-Washington.

Era mais difícil com a inflexibilidade de Sharon.

Há uma nova dinâmica e Mubarak tem agora uma preocupação especial em impedir o caos em Gaza após a retirada israelense nos próximos meses e, nestes termos, tem sido muito ativo para convencer facções radicais palestinas a aceitarem um cessar-fogo.

Mas o presidente egípcio também está na linha de frente da insatisfação de dirigentes árabes com a pregação do governo Bush em prol de reformas políticas e democracia no Oriente Médio.

A importância estratégica do autocrático Mubarak, aliás, mostra os limites e mesmo ambigüidades da pregação de Bush.

'Reformistas'

O presidente é capaz de lançar apelos por mobilização popular contra o regime iraniano, mas é muito mais cuidadoso quando faz referências ao Egito ou à Arábia Saudita.

No seu discurso na segunda posse, em 20 de janeiro, Bush disse que visualiza como "futuros líderes de países livres aqueles reformistas que hoje enfrentam repressão, prisão ou exílio".

Palavras genéricas. Em termos práticos quem está nesta categoria, por exemplo, é Ayman Nour, um jovem, moderado e secular líder da oposição egípcia que foi preso um dia antes das eleições iraquianas de 30 de janeiro.

Houve uma desculpa fajuta de fraude para a detenção. Como lembrou o jornal Washington Post, em editorial, a ofensa genuína de Nour é representar "'uma alternativa democrática à ditadura corrupta" de Mubarak.

A prisão de Ayman Nour faz parte de uma nova onda de repressão no Egito em meio aos sinais de que Mubarak se prepara para formalizar sua "candidatura" em setembro em um referendo que irá garantir um quinto mandato de seis anos.

Mais do que isto, setores reformistas temem que o velho dirigente esteja preparando o seu filho Gamal para sucedê-lo.

Esta é a dupla face de Mubarak: de um lado, ele é um oponente deste cenário de democracia à la Bush; do outro, o presidente egípcio tem sido construtivo para criar uma escalada diplomática na região como não se via nos últimos anos.

Com o sucesso do seu trabalho de mediação, Mubarak irá comprovar, de novo, como tem um papel vital na região.

É melhor ou pior com ele? A sensibilidade americana com a realidade política do Egito sinaliza a resposta.
 

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