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11/02/2005 - 19h28

A Semana: Sharon e Abbas reacendem esperança de paz

ROGÉRIO SIMÕES
da BBC Brasil

O Mar Vermelho era o mesmo, mas o significado do encontro, bem diferente. Na última terça-feira, o israelense Ariel Sharon e o palestino Mahmoud Abbas reuniram-se no balneário egípcio de Sharm-el-Sheikh para recolocar nos trilhos um semi-morto processo de paz.

Em 2003, do outro lado do mar, em Aqaba, na Jordânia, os mesmos Sharon e Abbas haviam se comprometido, na presença do presidente americano, George W. Bush, com o chamado "Road Map", ou Mapa da Paz, proposto por Washington.

Mas o diálogo iniciado na semana que termina trouxe uma diferença. Sharon continua sendo o chefe de governo israelense, mas Abbas foi "promovido": agora é o presidente da Autoridade Nacional Palestina, não apenas um premiê com poderes limitados.

Na segunda-feira, as expectativas positivas em relação ao encontro aumentaram depois que os dois lados anunciaram que iriam acertar uma trégua em Sharm-el-Sheikh.

No dia seguinte, Sharon e Abbas encontraram-se, sorriram, apertaram as mãos e confirmaram que estavam definindo um cessar-fogo. Abbas compremeteu-se a conter ataques contra alvos israelenses, e Sharon prometeu paralisar suas ações militares contra palestinos.

Mas a confiança no acordo durou poucas horas. Ainda na terça-feira, o grupo Hamas afirmou que não se sentia obrigado a respeitar o cessar-fogo anunciado pelo presidente da Autoridade Palestina.

No dia seguinte, o quadro ficou mais difícil ainda: Hamas e o Jihad Islâmico, outro grupo armado palestino responsável por ataques a civis e militares israelenses nos últimos anos, disseram com todas as letras que a trégua não os incluía.

Na quinta-feira, veio a confirmação: o Hamas lançou cerca de 50 mísseis contra assentamentos judaicos na Faixa de Gaza, alegando estar vingando a morte de um palestino na região.

Mahmoud Abbas reagiu rapidamente. No mesmo dia, demitiu vários membros das suas forças de segurança que eram responsáveis por evitar tais ataques e foi até a Faixa de Gaza para negociar com os militantes.

O que analistas dos dois lados temem é que se repita o fracasso das negociações de 2003.

Naquele ano, dias depois do encontro entre Abbas e Sharon, Israel continuava com sua política de assassinar líderes de grupos palestinos, que por sua vez seguiam realizando atentados contra civis israelenses.

Mas há várias diferenças entre os dois momentos. O encontro de terça-feira foi o primeiro de Ariel Sharon com um presidente da Autoridade Palestina, já que com Yasser Arafat o premiê israelense nunca havia aceitado dialogar.

Agora Sharon também tem um novo objetivo a curto prazo, o de retirar tropas e assentamentos da Faixa de Gaza, decisão que ainda pode lhe trazer problemas políticos internos.

Do lado palestino, Abbas era antes um primeiro-ministro enfraquecido, mas agora tem nas mãos o mandato de presidente obtido em eleições que, inclusive, faziam parte das exigências do Mapa da Paz.

Para os palestinos e israelenses que sonham com uma co-existência pacífica de dois Estados independentes na Terra Santa, a esperança, pelo menos, está de volta.

EUA x Irã

O segundo mandato de George W. Bush à frente da Casa Branca começou com novas frases de efeito contra os remanescentes do "Eixo do Mal", termo cunhado pelo presidente americano em 2002.

Com a derrubada de Saddam Hussein no Iraque, Irã e Coréia do Norte são agora os principais alvos da retórica de Washington tanto sobre tirania como sobre armas de destruição em massa.

Na semana que termina, os dois países reagiram. No Irã, as celebrações lembrando a Revolução Islâmica de 1979 foram marcadas por frases duras do presidente Mohammed Khatami contra os Estados Unidos.

Falando a embaixadores estrangeiros em Teerã, na quarta-feira, Khatami disse que o enriquecimento de urânio era um direito do Irã, mas reafirmou que o país não tem interesse em produzir armas atômicas.

Khatami, entretando, não economizou palavras ao dizer que, se outros países com os quais Teerã tem negociado o destino de seu programa nuclear não cumprirem seus compromissos, o Irã poderá mudar de posição. Essa possível mudança, disse Khatami, terá "grandes conseqüências".

Na mesma quarta-feira, depois de ter que os Estados Unidos estejam pensando em atacar o Irã, a secretária de Estado Condoleeza Rice ameaçou pedir sanções contra o país no Conselho de Segurança da ONU.

Com os ânimos entre Washington e Teerã já exaltados, Khatami voltou a responder duro. Na quinta-feira, disse que o Irã será "um inferno" para qualquer um que iniciar uma guerra contra o país.

EUA x Coréia do Norte

O Irã recebeu a companhia dos norte-coreanos em sua troca de farpas com Washington.

Quase um mês depois de ser incluída numa lista de supostos "postos avançados da tirania" feita por Condoleeza Rice, a Coréia do Norte quis mostrar que não aceita desaforos.

Na quinta-feira, anunciou que estava abandonando as negociações sobre seu programa nuclear, que envolviam os Estados Unidos, a Rússia, a China, a Coréia do Sul e o Japão. E não apenas isso: pela primeira vez, afirmou explicitamente que possui um arsenal nuclear.

A justificativa para a declaração foi a postura do governo Bush em seu segundo mandato, inclusive a declaração sobre "posto avançado da tirania" feita por Rice.

Pyongyang argumenta que Washington continua com sua política de forçar uma mudança de regime na Coréia do Norte, sem descartar uma ação contra o país asiático.

Os Estados Unidos imediatamente exigiram que os norte-coreanos voltem à mesa de negociação. O premiê australiano, John Howard, disse achar que a afirmação sobre as armas nucleares era um blefe.

Mas, diante da dificuldade de se saber o que se passa dentro da isolada Coréia do Norte, pagar para ver parecer ser ainda um risco grande demais, mesmo para uma superpotência como os Estados Unidos.

Quem vai mandar no Iraque?

Duas semanas depois das eleições no Iraque, o resultado ainda é desconhecido e nem se pode dizer se ele dará legimitidade ao processo eleitoral, elogiado pelo Ocidente.

Ainda não se sabe qual foi o nível de participação dos sunitas ou se, mesmo entre os outros grupos étnicos, o resultado será aceito por todas as partes envolvidas.

Mas a perspectiva de vitória dos xiitas ligados ao aiatolá Ali Al-Sistani levou a muita especulação sobre que tipo de Iraque deverá sair da nova Constituição, prevista para ser elaborada e aprovada pela nova Assembléia Nacional até agosto.

Na terça-feira, um porta-voz de Sistani, Hamed Khafaf, precisou dizer que o líder religioso não tinha a intenção de defender que a lei islâmica seja adotada no Iraque.

No dia seguinte, o líder curdo Jalal Talabani disse à BBC que não aceitará um regime islâmico no país.

Enquanto isso, os insurgentes, em sua maioria sunitas, continuavam com seus ataques a policiais e membros da comunidade xiita. Na sexta-feira, pelo menos 13 morreram num atentado a uma mesquita.

Guerra na vizinhança

Não muito longe da fronteira com o Brasil, outra guerra tem deixado dezenas de mortes a cada semana.

Na quarta-feira, um confronto com membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), no noroeste do país, deixou 17 soldados do Exército colombiano mortos. Do lado rebelde, 11 rebeldes morreram.

Na semana anterior, dois outros combates no sul da Colômbia terminaram com a morte de 23 soldados do governo.

Os ataques indicam uma nova disposição do grupo revolucionário marxistas de intensificar as ações contra tropas do Exército, num conflito que já dura quatro décadas.

O presidente Álvaro Uribe, que ainda conta com grande popularidade, ainda não conseguiu cumprir sua principal promessa de campanha: acabar com a guerra civil no país.
 

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