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01/03/2005 - 07h09

Posse de Vázquez inicia 1º governo de esquerda no Uruguai

DIEGO TOLEDO
da BBC Brasil, em Montevidéu

O médico oncologista Tabaré Vázquez assume nesta terça-feira o cargo de presidente do Uruguai em uma cerimônia que marcará, pela primeira vez na história, a chegada de um líder de esquerda à Presidência do país.

Além de consolidar uma histórica transição política no Uruguai, a posse de Vázquez reunirá algumas das principais lideranças de esquerda da América Latina, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder venezuelano Hugo Chávez.

Tabaré Vázquez anunciou na segunda-feira que o presidente de Cuba, Fidel Castro, não comparecerá à posse "por razões de saúde". Uma das primeiras medidas do novo líder uruguaio será a retomada das relações bilaterais com Cuba.

O governo cubano rompeu o diálogo com o antecessor de Vázquez, Jorge Batlle, em 2002, quando o Uruguai defendeu na Comissão de Direitos Humanos da ONU o envio de observadores a Cuba --o que causou profunda irritação em Fidel.

Na quarta-feira, um dia depois da posse de Vázquez, Lula, Chávez e o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, se reunirão em um encontro privado em Montevidéu para reforçar os planos de integração dos líderes sul-americanos.

Plano de emergência

A guinada à esquerda no governo uruguaio é reforçada por um dos primeiros projetos que Tabaré Vázquez deve enviar ao Parlamento: a proposta de criação do Ministério de Assuntos Sociais.

O presidente eleito afirma que o novo órgão é "indispensável" para a aplicação do Plano de Emergência Social, uma proposta apresentada pela equipe de Vázquez para eliminar a "pobreza extrema" no país a um custo de US$ 100 milhões.

Eleito no primeiro turno das eleições de novembro com mais de 50% dos votos, Tabaré Vázquez não só quebrou a hegemonia dos partidos conservadores Nacional (Blanco) e Colorado no poder como também conquistou a maioria no Congresso --com 52 dos 99 deputados e 16 dos 30 senadores.

O apoio no Parlamento é o resultado de uma aliança de mais de 20 grupos políticos, incluindo de socialistas moderados a ex-guerrilheiros radicais, reunidos em uma coalizão batizada de Encontro Progressista-Frente Ampla.

Apesar de derrotado nas eleições, o Partido Nacional anunciou na semana passada que está disposto a aceitar cargos no novo governo, embora defenda uma plataforma de oposição à Frente Ampla.

De acordo com analistas, as diferenças entre os grupos que formam a base do governo podem representar um obstáculo para Vázquez. Mas, para evitar problemas, o presidente eleito tem buscado soluções de consenso.

Uma delas foi a indicação do economista Danilo Astori para o cargo de ministro da Economia. Moderado e respeitado nos mercados, o futuro ministro teve sua nomeação apoiada inclusive pelos partidos de oposição --que assinaram um acordo a favor do programa econômico do governo do presidente eleito.

Cerimonial

Na véspera da posse, questionado sobre como se sentia com a aproximação do primeiro dia como presidente uruguaio, Vázquez foi bem-humorado: "como em uma despedida de solteiro, porque amanhã me caso com o Uruguai".

A posse do presidente eleito será acompanhada por representantes de 130 delegações, incluindo autoridades de governos estrangeiros, ONGs, sindicatos e organismos multilaterais.

De acordo com o governo uruguaio, mais de 500 mil pessoas devem ir às ruas nesta terça-feira durante os eventos relativos à posse. Cerca de 2 mil membros das forças de segurança do Uruguai participam de operações de vigilância em Montevidéu.

Nas primeiras horas do dia, fogos de artifício e festas paralelas deram início à mobilização na cidade. Pelos muros da capital do Uruguai, pichações e faixas saudavam Tabaré Vázquez, Hugo Chávez e Fidel Castro.

A programação oficial da posse começa às 13h30 no horário local (12h30 em Brasília), com o juramento do presidente eleito. Pouco mais de duas horas depois, Vázquez receberá a faixa presidencial de Jorge Batlle.

O presidente que deixa o cargo afirmou que seu sucessor poderá governar o Uruguai e tomar decisões desde o primeiro dia de mandato porque o país passou por uma "transição transparente" como não ocorria há 50 anos.

Battle disse ainda que deixa um "país em crescimento", após um aumento de 12% do PIB (Produto Interno Bruto) uruguaio em 2004. "Isso assegura para o ano de 2005 um crescimento de 7%, uma inflação de um dígito e uma queda do desemprego a 10 pontos", prevê.

Atualmente, a taxa de desemprego no Uruguai gira em torno de 12% --oito pontos a menos do que em 2002, auge da crise financeira no país, quando os uruguaios sentiram em cheio os efeitos da moratória argentina e da desvalorização do real no Brasil.
 

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