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01/03/2005 - 07h10

Análise: Síria enfrenta isolamento internacional

JON LEYNE
da BBC Brasil, em Damasco

Os recentes acontecimentos no Oriente Médio têm sido um mau negócio para o governo da Síria de Bashar Al-Assad.

Esse é o país do Oriente Médio que mais tem a sofrer com o novo clima internacional do segundo mandato do presidente americano, George W. Bush.

A situação, que está se desenvolvendo rapidamente, deixou Assad sem reação.

Há anos a Síria sobrevive. Ninguém em Washington gosta muito do governo de Damasco, mas os sucessivos presidentes americanos sentiram que precisavam manter abertos os canais com os sírios.

Mudanças

Ouvindo o presidente Assad hoje, parece que nada mudou.

"Cedo ou tarde (os americanos) vão se dar conta de que somos a chave para a solução", disse o líder sírio ao jornal italiano La Repubblica.

Essa é exatamente a lógica que costumava ser preferida por Yasser Arafat e, antes dele, pelo ex-líder da Sérvia Slobodan Milosevic.

"Desde os anos 1980, a Síria fez esse jogo de ser ambos, o incendiário e o bombeiro", disse o analista Michael Doran, no The New York Times de segunda-feira.

O problema é que o governo Bush mudou as regras do jogo.

E há muitos que acreditam que a Síria pode ser o novo alvo para um governo que acredita em maciças demonstrações do poder da América.

Não que uma invasão dos Estados Unidos, ou mesmo uma ação militar limitada, seja iminente. Na verdade, por enquanto isso seria contraproducente.

Mas a Síria poderia vir a passar pelo tipo de pressão diplomática sustentada que ajudou a solapar o governo iraquiano, muito antes que os tanques americanos passassem a fronteira.

A última visita de um secretário de Estado americano é agora uma memória distante.

O embaixador dos Estados Unidos voltou a Washington para consultas, sem data marcada para volta.

Um resolução da ONU, de número 1559, foi aprovada, pedindo que a Síria retire suas tropas do Líbano.

Mudanças?

E a Síria tem poucos amigos no mundo árabe, na medida em que países como o Egito e a Arábia Saudita lutam para manter boas relações com Washington.

A Síria agora está com problemas em três áreas: o seu envolvimento no Líbano; seu suposto apoio aos insurgentes no Iraque e as novas alegações de Israel quanto ao envolvimento do país no atentado em Tel Aviv, na última sexta-feira.

Não há sinal ainda de que o governo da Síria entenda a profundidade da crise. Mesmo que entendesse, é difícil ver o que Damasco poderia fazer para aplacar o Tio Sam.

"Esse regime mostrou nos últimos cinco anos que, em tempos de crise, sempre recai em posições duras", diz Amman Abdulhamid, um dos críticos mais abertos do governo sírio.

Para Abdulhamid, a "falta de visão" e "inabilidade de empreender reformas" do governo sírio geram uma crise atrás da outra.

"Eles não vêem o que está acontecendo no resto do mundo", diz outro dissidente sírio, Haitham al-Malih.

A maioria dos críticos do governo sírio, entretanto, respeita o presidente Bashar Al-Assad, a quem vêem como um reformista.

O problema estaria no fato de que o próprio Assad não tem muito poder, que é compartilhado na Síria por uma série de "feudos" independentes - o que se aplica, por exemplo, aos serviços de inteligência do país.

Isso não só dificulta mudanças, como torna plausível a tese de que elementos do governo poderiam ter encomendado o assassinato do ex-primeiro-ministro libanês, Rafik Hariri, apesar de o próprio Assad já ter dito que a ação teria sido um tiro no pé.

Além disso, Washington está diminuindo a margem de manobra da Síria.

As ofertas de Damasco para reabrir as negociações de paz com Israel, por exemplo, foram rejeitadas. É difícil saber o que a Síria poderia fazer para aliviar a pressão americana.

A situação da Síria também é determinada pelos desdobramentos no resto do Oriente Médio.

Quanto mais avança o processo de paz entre israelenses e palestinos, mais isolados os sírios ficam.

Portanto, independentemente de as acusações de israelenses e americanos serem verdadeiras, faria um certo sentido que a Síria tivesse interesse em sabotar os esforços para a paz no Iraque ou em Israel.

É improvável que a população síria, apática após anos de repressão, tome as ruas para pedir mudanças.

Mas, a não ser que haja uma virada no atual ambiente internacional, a Síria poderá enfrentar anos de crescente isolamento e declínio econômico, talvez até sanções da ONU. E a única coisa que o governo sírio parece poder fazer neste momento é procurar ganhar tempo.
 

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