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01/03/2005 - 21h11

Apesar de renúncia de premiê, pressão sobre o governo continua

PAULO CABRAL
da BBC Brasil

A renúncia do gabinete do governo libanês nesta segunda-feira está provocando intensas movimentações no Parlamento e entre as principais lideranças políticas do país para a definição de uma administração-tampão até as eleições de maio.

A oposição promete que os protestos contra o governo pró-Síria vão continuar até que as tropas sírias se retirem do país, mas nesta terça-feira os manifestantes já eram contados às centenas e não mais aos milhares, como vinha acontecendo desde o atentado que matou o ex-primeiro-ministro Rafik al Hariri, há duas semanas.

A principal vigília da oposição acontece na praça central de Beirute (capital), ao lado do mausoléu de Al Hariri. São principalmente manifestantes jovens --a maioria cristãos-- que agitam bandeiras e exibem fotos do ex-primeiro ministro assassinado, em protestos mais alegres do que raivosos.

No entanto, na cidade de Trípoli, partidários do primeiro-ministro demissionário, Omar Karami, fizeram manifestações a favor do governo. Um partidário de Karami foi morto por um tiro de fuzil disparado por um atirador ainda não-identificado.

Além de pedir a saída das tropas sírias, a oposição também tem como exigência mais imediata a renúncia dos chefes dos serviços de inteligência libaneses que, segundo alguns líderes políticos, têm mais poder do que o gabinete de governo.

Governo-tampão

Apesar da renúncia de Karami ter sido aceita na própria segunda-feira pelo presidente católico Emile Lahoud, o primeiro-ministro continua formalmente no comando país até que um gabinete-tampão, para ficar no poder até as eleições parlamentares de maio, seja formado.

Lahoud está fazendo consultas com os líderes políticos libaneses para montagem do governo, mas a tarefa é dificultada pela grande oposição ao presidente, cada vez mais isolado em sua posição pró-Síria. Desde o assassinato de Al Hariri, o governo tem mantido ao mínimo os comentários sobre o caso, em contraste com o grande barulho feito pela oposição.

Líderes dos principais grupos religiosos libaneses --xiitas, católicos, sunitas e drusos-- cobram de Lahoud a formação de um governo de união nacional. Mas parte dos oposicionistas também tem suas exigências, sendo a principal a renúncia de outros elementos ligados ao governo libanês.

'Sabemos muito bem que não é o governo libanês que dirige o país, mas sim os serviços de informação que recebem ordens de Síria. Se não houver mudanças também neste sentido, não podemos participar de nenhum governo', disse à BBC Brasil um do líderes da Aliança Democrática, Elias Attala, antes de tomar o microfone para falar aos manifestantes reunidos na praça central de Beirute.

No entanto, Attala --assim como outros importantes líderes da oposição-- defende uma saída síria tranqüila e baseada nas disposições do tratado de Taef, assinado entre sírios e libaneses ao fim da guerra civil no Líbano.

Mas nas ruas de Beirute, fora dos círculos políticos oficiais, a agressividade contra a presença Síria é mais clara. Há relatos de trabalhadores sírios --há cerca de 1 milhão deles no Líbano-- hostilizados por libaneses e são comuns cartazes pedindo a saída imediata das tropas sírias.

Um taxista, ao ver o equipamento da BBC, perguntou o que tantos jornalistas estavam "vindo fazer aqui no Líbano". "O Líbano não tem problemas. Nosso problema é a Síria", disse.

União

A Aliança Democrática, de Elias Attala, é um dos grupos de oposição formados depois do assassinato de Al Hariri, unindo representantes das diversas facções libanesas.

Desde o fim da guerra civil no início dos anos 90, o governo libanês é dividido entre grupos religiosos, com os católicos indicando o presidente, os muçulmanos xiitas indicando o primeiro-ministro e os muçulmanos sunitas, o presidente do Parlamento. Os drusos membros de uma seita muçulmana não fazem parte da divisão formal de poder, mas têm importante peso político e estão participando ativamente do movimento oposicionista.

A morte de Al Hariri conseguiu catalisar o sentimento anti-Síria no país e unir facções com rivalidades antigas. Por exemplo, drusos e católicos, que agora estão se unindo à frente da oposição, têm um histórico de conflitos armados que já vem de fins do século 19.

O general reformado do Exército libanês, o druso Salim Abou Ismail, diz que os temores de que a morte de Al Hariri causaria uma instabilidade grave e permanente no Líbano estavam errados.

"As pessoas estão tensas e houve momentos de incerteza, mas não uma instabilidade permanente, porque ninguém mais quer guerra aqui. Al Hariri, que Deus abençoe sua alma, pode se tornar (com o movimento provocado por seu assassinato) o salvador do novo Líbano."

O ex-militar, hoje editor-chefe de uma revista sobre defesa no Oriente Médio, também diz que não têm fundamento os temores expressados por alguns politicos libaneses de que poderia haver um racha nas Forças Armadas do país.

"Nossos colegas militares que estão no serviço ativo estão muito tranqüilos e absolutamente unidos quanto ao futuro do país", afirma.

Hizbollah

Outro fator que ainda gera dúvidas é qual vai ser a atitude do Hizbollah em relação aos Sírios. O grupo formado para "defender o sul do Líbano de Israel" é --além de uma forte milícia armada que conta com apoio da Síria-- também uma importante força política no cenário libanês.

Na segunda-feira, uma manifestação pró-Síria com o apoio do Hizbollah acabou sendo cancelada para evitar confrontos com outro protesto --que acabou reunindo dezenas de milhares de pessoas-- convocado pela oposição.

O Hizbollah também tem se mantido em relativo silêncio desde a morte de Al Hairiri e os próximos movimentos do grupo islâmico ainda estão sendo esperados.

Especial
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