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16/05/2008 - 10h17

Luta por recursos e terra mergulham Pará na violência

EDSON PORTO
enviado especial da BBC Brasil a Santarém (PA)

Para qualquer lugar que Maria Ivete Basto vá ela é sempre acompanhada por um policial armado à paisana. Ivete é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém, no Pará, e foi ameaçada de morte várias vezes.

"As ameaças vêm por meio de recados, de gente falando, telefonemas", conta ela, na sede do sindicato, sempre sob a supervisão de seu protetor. "Mas a gente não sabe bem que é."

Ela é apenas um exemplo de como é violenta a disputa por terras e os recursos naturais no Estado, que voltou ao noticiário recentemente por causa do caso da missionária Dorothy Stang, morta por um pistoleiro em 2005.

Em um novo julgamento, no dia 6 de maio, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Souza, acusado de ser o mandante do assassinato da americana naturalizada brasileira, foi absolvido. A absolvição gerou manchetes no país todo e deixou pessoas como Maria Ivete em uma posição ainda mais delicada.

"A impunidade alimenta a violência", diz ela. "Para a gente, o resultado do novo julgamento é um grande perigo."

Dorothy foi morta, segundo investigação da polícia do Estado, porque defendia e ajudou a criar assentamentos de terra no município de Anapu, onde foi morta.

Marcados para morrer

A CPT (Comissão da Pastoral da Terra) no Estado afirma que existe uma lista de pelo menos 99 pessoas marcadas para morrer no Pará por causa de disputa de terras ou recursos naturais. A CPT também calcula que 800 pessoas foram mortas nesse conflito nos últimos 35 anos.

Para a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Pará, Mary Cohen, o modelo de desenvolvimento do Estado é que leva à violência.

"Nós temos um modelo de desenvolvimento excludente, que está colocando em conflito o ribeirinho e o índio de um lado e os grandes produtores do outro", avalia.

O líder comunitário Valdecy dos Santos também diz que está marcado para morrer por causa de disputa com madeireiros.

"Na nossa comunidade, que fica perto de Santarém, estamos brigando para que o nosso assentamento seja transformado em terra comunitária", conta. "Mas enquanto ainda estamos brigando, muitos madeireiros estão entrando na região."

Segundo ele, a exploração ilegal de madeira aumentou porque os madeireiros ficaram com medo de que a regularização da terra tornasse mais difícil entrar na região. Ele denunciou as atividades ao Ibama, o que gerou apreensões de madeira e ameaças.

"No dia em que eu e uma pessoa do Ibama fomos lá para tirar fotos das atividades acabamos sendo pegos pelos madeireiros e ameaçados de morte."

Ele ficou várias horas na mão dos raptores e acho que ia ser morto. "Eles só nós soltaram quando descobriram que o rapaz que estava comigo era do Ibama."

O secretário do Sindicato de Produtores Rurais de Santarém contesta a idéia de que a região é violenta.

"É muito fácil dizer que você é ameaçado de morte. Eu posso dizer isso, mas nos últimos anos tivemos apenas duas mortes por causa de conflitos. A violência mesmo está em outras áreas, como o sul do Estado."

 

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