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21/03/2005 - 17h40

Com reformas, Annan luta por preservação da ONU

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Quando o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, propõe o mais profundo pacote de reformas da organização em seus 60 anos de existência, há um senso de urgência e até de desespero, mais do que de ousadia.

A crise de credibilidade levou uma gigantesca burocracia a reconhecer a necessidade de auto-reforma.

É uma questão de autopreservação da ONU e do próprio Annan.

O hábil secretário-geral, que fez carreira nos quadros da ONU, hoje é inclusive forçado a arriscar um ataque preventivo, algo mais compatível com George W. Bush.

Conciliação

Há a suspeita entre setores mais conservadores nos EUA -avessos em geral ao trabalho da ONU- que a prioridade de Annan com seu clamor por reformas é abafar as questões sobre suas próprias atividades como secretário-geral, uma gestão marcada por divisões geradas pela crise do Iraque, a controvérsia de corrupção no programa de troca de petróleo por comida neste mesmo Iraque e escândalos sexuais envolvendo de um ex-alto funcionário a capacetes azuis na África.

O apelo de Annan por reformas, inclusive, foi feito dias antes da divulgação dos resultados das investigações independentes empreendidas pelo ex-presidente do Banco Central americano, Paul Volcker, sobre as atividades de Annan e do seu filho Kojo no programa humanitário no Iraque.

Existem as propostas óbvias de mais transparência num escândalo de corrupção.

Mas Kofi Annan é mais ambicioso. Ele está consciente da necessidade de modernização da ONU, ou seja, de ajuste a uma nova realidade geopolítica.

O drama é conciliar os interesses dos membros mais privilegiados do clube com os da massa de associados. Annan quer, ao mesmo tempo, democratizar e elitizar o clube.

EUA

Há, por exemplo, as duas propostas de expansão do Conselho de Segurança de 15 para 24 integrantes (pela qual o Brasil pressiona de forma infatigável), mas também de enxugamento da desacreditada Comissão de Direitos Humanos que tem na sua corrente sessão de trabalho países não exatamente exemplares para monitorar abusos como são os casos da China, Nepal e Zimbábue.

O pacote de recomendações de reformas busca atender aos interesses de alguns poucos privilegiados, preocupados com proliferação nuclear, e da grande massa que considera que o foco da ONU deva ser a luta contra a pobreza.

Está transparente (para usar um termo tão precioso no momento) que é vital para o sucesso das reformas que haja concordância do sócio número um do clube da ONU, os EUA, que nos momentos de maior irritação com os rumos da organização, deixaram de pagar mensalidades.

O novo chefe da "casa civil" de Kofi Annan, Mark Malloch-Brown (que por si já corporifica o pacote de reformas), admite que a ONU não vai funcionar sem o reengajamento americano, que terá o "falcão" John Bolton como novo embaixador, com a missão de patrulhar pelas reformas que mais interessam ao seu país.

Mas Malloch-Brown adverte que não é possível satisfazer o governo Bush e desencantar o resto do mundo.

Embora haja muitas concessões aos americanos neste pacote de reformas, existe o outro lado da moeda, como a recomendação de aumento da ajuda ao Terceiro Mundo para 0.7% do PIB dos países mais ricos. Hoje a percentagem americana é de 0.1% e mais generosidade na ONU incomoda o governo Bush

Kofi Annan quer mais dinheiro e uma quantidade incalculável de boa vontade do gigante americano.

E ainda por cima precisa manter suas boas graças junto à massa de associados.

Com o seu malabarismo, o acuado secretário-geral pode receber o veto em frentes variadas. O pacote de reformas, aliás, não contempla a ampliação do poder de veto no Conselho de Segurança, restringido aos EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e França, os cinco membros permanentes originais.
 

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