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28/03/2005 - 05h19

Caio Blinder: Oportunismo no caso Schiavo desmoraliza republicanos

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Apesar do drama, da paixões e das complexidades, o caso Terri Schiavo não polarizou os americanos, e as várias instâncias judiciais mantiveram uma posição consistente durante a controvérsia.

A opinião pública e os juízes não se intimidaram e se irritaram com a exploração política de uma saga atroz movida pelos republicanos no Congresso e pelos dois irmãos Bush (George, presidente, e Jeb, governador da Flórida).

O oportunismo de políticos talvez tenha sido mesclado com nobres princípios para prolongar a vida de uma mulher que entrou em estado vegetativo há 15 anos após sofrer lesão cerebral.

O recado popular, no entanto, foi claríssimo. Congresso e governo não deveriam ter se intrometido em uma tragédia familiar e, nessas situações de vida ou morte, não podem bancar Deus.

Já os juízes da Suprema Corte podem estar divididos na sua filosofia judicial, mas estão unidos para defender as prerrogativas do Judiciário contra as intrusões dos outros Poderes.

Desgaste republicano

Depois de uma intromissão inusitada e insolente para que o caso de Terri Schiavo fosse revisto pela Justiça federal (e não estadual, onde se confirmou ser o seu devido lugar), os republicanos recuaram diante do descrédito popular e judicial. Eles optaram pelo silêncio.

O desgaste republicano não chega a representar um grande consolo para os democratas. A oposição não agiu como oposição. Larry Sabato, professor da Universidade da Virgínia, foi direto ao ponto. Os democratas foram covardes.

Ainda tentando calcular como se comportar após a derrota nas eleições de novembro e como se contrapor à hegemonia dos republicanos nos chamados valores morais, os democratas não combateram com vigor o oportunismo e a incoerência do partido governista no drama de Terri Schiavo.

Os republicanos calcularam que tinham uma oportunidade de ouro. Como no caso do aborto e da pesquisa de células-tronco, eles tentaram usar a agonia de uma mulher para mostrar que zelam pela cultura da vida e acelerar a ofensiva para inclinar a balança judicial para o lado conservador. No entanto, saíram desmoralizados.

O partido que se considera guardião de um governo limitado foi metido demais e provou que defende a autonomia dos estados quando lhe convém.

O problema dos republicanos não é com o ativismo judicial, mas com o ativismo judicial liberal. Ironicamente, os conservadores estão agindo hoje como os liberais que eles tanto atacam.

Um memorando que circulou entre senadores republicanos destacou que a saga Terri Schiavo seria fundamental para "excitar" a base do partido e a direita religiosa quando há batalhas importantes à frente, como nomeações para a Suprema Corte e as eleições de 2006 e 2008.

Mas existe esse desafio imediato de a maioria expressiva dos americanos assumir um sentimento distinto da Casa Branca e dos líderes do Congresso.

Os americanos se mostraram pragmáticos nessa controvérsia --defendendo o desligamento do tubo de alimentação de Terri Schiavo-- e incomodados com o macarthismo ético de uma minoria zelosa.

O Partido Republicano poderá pagar caro caso seja visto como refém da direita religiosa, para não mencionar escravo --que em italiano se diz schiavo.
 

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