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29/03/2005 - 16h16

Relatório critica Annan, mas o isenta de corrupção

ANGELA PIMENTA
da BBC Brasil, em Nova York

O relatório de uma comissão independente publicado nesta terça-feira critica o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, por ter falhado na supervisão do programa Petróleo por Comida, mas afirma não haver provas de envolvimento dele num escândalo de corrupção.

O documento também critica Annan por não ter detectado o conflito de interesse existente entre seu filho, Kojo, e a empresa suíça Cotecna, que empregou Kojo e ganhou um contrato dentro do programa em 1999.

"Não existe evidência de que a seleção da Cotecna em 1998 decorreu de qualquer influência afirmativa ou imprópria do secretário-geral no processo de seleção ou licitação", diz o relatório da comissão independente criada para para investigar o programa chefiada pelo ex-presidente do Banco Central americano, Paul Volcker.

Num comunicado, Annan disse que "como sempre esperei e acreditei fortemente, o inquérito me isentou de qualquer má conduta".

Durante uma entrevista coletiva, Volcker acrescentou que Annan tem colaborado integralmente com as investigações, mas que "depois de uma primeira entrevista, nos últimos meses Kojo tem evitado mais contatos".

Desvio

Kojo Annan trabalhou para a Cotecna entre 1996 e 2004 na África, tendo recebido cerca de US$ 360 mil da empresa entre salários e bonificações.

Mas o relatório não apresenta nenhuma evidência de que a ligação de Kojo Annan com a Cotecna tenha influenciado na decisão da ONU de premiar a empresa com o contrato dentro do Petróleo por Comida

Criado pela ONU em 1996, o programa tinha por objetivo permitir que o regime de Saddam Hussein vendesse petróleo para adquirir alimentos e remédios para a população iraquiana.

Na época, o Iraque vivia sob sanções econômicas impostas pela ONU depois de ter invadido o Kuwait.

Mas uma investigação feita pelo senado dos Estados Unidos, a partir de denúncias publicadas na imprensa iraquina, descobriu que o governo de Saddam Hussein faturou US$ 17,3 bilhões irregularmente com o programa.

Cerca de US$ 13,6 bilhões teriam supostamente vindo da venda de petróleo para países vizinhos que se dispuseram a quebras as regras.

O Petróelo por Comida movimentou cerca de US$ 65 bilhões e foi desativado em 2003, depois da queda do regime de Saddam.

O mesmo inquérito revelou ainda que outros US$ 4,4 bilhões teriam sido faturados com subornos e propinas cobrados na prestação de serviços e fornecimento de mercadorias de empresas que cumpriam contrato dentro do previsto pelo programa.

Pressão conservadora

Recentemente, ao comentar o envolvimento de seu filho, Annan se disse "decepcionado", acrescentando que desconhecia o envolvimento de Kojo com a Cotecna.

Desde que as investigações sobre o Petróleo por Comida iniciaram, Kofi Annan tem sido atacado por membros mais conservadores do Partido Republicano, que pedem a sua renúncia.

Mas Annan tem reiterado que pretende continuar no posto de secretário-geral, liderando o processo de reformas das Nações Unidas, anunciado na semana passada.

Ao apresentar o relatório, Volcker disse que "o objetivo maior da nossa investigação é contribuir para a reforma da ONU", acrescentando que "a credibilidade da ONU depende, em grande medida, de sua administração".

Publicado no começo de fevereiro, o primeiro relatório da comissão acusou o ex-diretor do Petróleo por Comida, Benon Savan de "grave conflito de interesse", por intermediar a venda de petróleo para a empresa African-Middle East Petroleum, além de questionar a origem de US$ 160 mil em posse de Savan.

Previsto para o final do verão no hemisfério norte, o terceiro e último relatório da comissão independente deverá focar-se no envolvimento ilícito que países e empresas tiveram com o Petróleo por Comida.
 

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