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31/03/2005
-
09h24
da BBC, em Nova York
Paul Wolfowitz se assume como uma figura capaz de gerar controvérsias multilaterais.
Mas, apesar do debate acalorado sobre suas qualificações e seu papel de arauto supremo dos neoconservadores americanos, nunca houve grandes dúvidas sobre seu endosso nesta quinta-feira pelos 24 diretores executivos do Banco Mundial para presidir uma das mais importantes instituições públicas mundiais.
A formalização do nome do atual subsecretário de Defesa dos EUA e um dos principais arquitetos da guerra do Iraque deverá acontecer no quartel-general do Banco Mundial em Washington um dia após ele ter recebido pessoalmente em Bruxelas o sinal verde dos países europeus.
Com 30% dos votos, o bloco poderia ter vetado ou adiado a escolha.
Mas, desde o anúncio do nome de Wolfowitz pelo presidente Bush há duas semanas, os dirigentes europeus tinham sinalizado que a ordem do dia era pragmatismo.
A prioridade é tentar consertar as relações transatlânticas. Como resumiu o ministro das Finanças da Irlanda, Brian Cowen, é a realpolitik da situação.
Bazar
Mas há também um intenso comércio diplomático. Uma certa consternação européia denota divergências com a política americana, mas também foi jogo de cena.
Em troca da bênção, os europeus querem mais influência e cargos-chave no Banco Mundial.
Querem ainda apoio americano para a candidatura do francês Pascal Lamy a chefe da Organização Mundial do Comércio. Azar do candidato brasileiro, Luis Felipe Seixas Corrêa.
Nem todos aderiram a este bazar oficial. Cerca de 1,3 mil ONGs denunciaram a escolha e houve editoriais de desalento de suspeitos habituais, como o francês Le Monde, para o qual a indicação de Wolfowitz é uma "nova manifestação da arrogância americana".
O coro de desaprovação teve vozes distintas. O Financial Times, que publicou um editorial sobre a "pobre escolha", lembrou que muito mais relevante no debate sobre a ida de Wolfowitz ao Banco Mundial não é o seu papel de estimulador da invasão do Iraque, mas os problemas de reconstrução do país, que foram subestimados pelo otimismo zeloso do subsecretário de Defesa.
Mais surpreendente foi a censura da revista The Economist, ressaltando que o lance é um recado de Bush ao mundo que ele quer "capturar o Banco Mundial e torná-lo um braço da política externa americana".
A sugestão da revista é para Wolfowitz, no seu discurso de posse, decepcionar o ex-patrão e provar que não é um "lacaio".
Ofensiva de charme
Por ora, Wolfowitz se limita a gestos de boa vontade e uma ofensiva de charme.
Ele insiste que acatará o jogo multilateral do Banco Mundial e que seguirá a política da instituição, que é combater a pobreza, e não a sua profissão de fé, que é derrubar ditaduras, de preferência aquelas contrárias aos interesses americanos.
Curiosamente, Sebastian Mallaby, colunista do Washington Post e autor de um aclamado livro sobre o Banco Mundial, argumenta que o medo de que Wolfowitz tente usar o banco como um instrumento da política externa americana é sua própria força.
O argumento é que a escolha mostra a importância que Bush está dando a um organismo multilateral e que laços mais estreitos entre o banco e seu principal acionista serão mutuamente benéficos.
Mallaby admite que o fervor messiânico de Wolfowitz para disseminar democracia, mesmo com o uso da força, é uma questão espinhosa.
O problema não é o seu idealismo, mas se trará os resultados desejados por uma instituição como o Banco Mundial, na medida em que os vínculos entre democracia e redução da pobreza permanecem discutíveis.
Cobrar eficiência e transparência dos países que recebem ajuda é uma obrigação do presidente do Banco Mundial.
Mas o que fará Wolfowitz diante da combinação de boa governança e ditadura?
Análise: Comércio diplomático garante cargo no Bird a Paul Wolfowitz
CAIO BLINDERda BBC, em Nova York
Paul Wolfowitz se assume como uma figura capaz de gerar controvérsias multilaterais.
Mas, apesar do debate acalorado sobre suas qualificações e seu papel de arauto supremo dos neoconservadores americanos, nunca houve grandes dúvidas sobre seu endosso nesta quinta-feira pelos 24 diretores executivos do Banco Mundial para presidir uma das mais importantes instituições públicas mundiais.
A formalização do nome do atual subsecretário de Defesa dos EUA e um dos principais arquitetos da guerra do Iraque deverá acontecer no quartel-general do Banco Mundial em Washington um dia após ele ter recebido pessoalmente em Bruxelas o sinal verde dos países europeus.
Com 30% dos votos, o bloco poderia ter vetado ou adiado a escolha.
Mas, desde o anúncio do nome de Wolfowitz pelo presidente Bush há duas semanas, os dirigentes europeus tinham sinalizado que a ordem do dia era pragmatismo.
A prioridade é tentar consertar as relações transatlânticas. Como resumiu o ministro das Finanças da Irlanda, Brian Cowen, é a realpolitik da situação.
Bazar
Mas há também um intenso comércio diplomático. Uma certa consternação européia denota divergências com a política americana, mas também foi jogo de cena.
Em troca da bênção, os europeus querem mais influência e cargos-chave no Banco Mundial.
Querem ainda apoio americano para a candidatura do francês Pascal Lamy a chefe da Organização Mundial do Comércio. Azar do candidato brasileiro, Luis Felipe Seixas Corrêa.
Nem todos aderiram a este bazar oficial. Cerca de 1,3 mil ONGs denunciaram a escolha e houve editoriais de desalento de suspeitos habituais, como o francês Le Monde, para o qual a indicação de Wolfowitz é uma "nova manifestação da arrogância americana".
O coro de desaprovação teve vozes distintas. O Financial Times, que publicou um editorial sobre a "pobre escolha", lembrou que muito mais relevante no debate sobre a ida de Wolfowitz ao Banco Mundial não é o seu papel de estimulador da invasão do Iraque, mas os problemas de reconstrução do país, que foram subestimados pelo otimismo zeloso do subsecretário de Defesa.
Mais surpreendente foi a censura da revista The Economist, ressaltando que o lance é um recado de Bush ao mundo que ele quer "capturar o Banco Mundial e torná-lo um braço da política externa americana".
A sugestão da revista é para Wolfowitz, no seu discurso de posse, decepcionar o ex-patrão e provar que não é um "lacaio".
Ofensiva de charme
Por ora, Wolfowitz se limita a gestos de boa vontade e uma ofensiva de charme.
Ele insiste que acatará o jogo multilateral do Banco Mundial e que seguirá a política da instituição, que é combater a pobreza, e não a sua profissão de fé, que é derrubar ditaduras, de preferência aquelas contrárias aos interesses americanos.
Curiosamente, Sebastian Mallaby, colunista do Washington Post e autor de um aclamado livro sobre o Banco Mundial, argumenta que o medo de que Wolfowitz tente usar o banco como um instrumento da política externa americana é sua própria força.
O argumento é que a escolha mostra a importância que Bush está dando a um organismo multilateral e que laços mais estreitos entre o banco e seu principal acionista serão mutuamente benéficos.
Mallaby admite que o fervor messiânico de Wolfowitz para disseminar democracia, mesmo com o uso da força, é uma questão espinhosa.
O problema não é o seu idealismo, mas se trará os resultados desejados por uma instituição como o Banco Mundial, na medida em que os vínculos entre democracia e redução da pobreza permanecem discutíveis.
Cobrar eficiência e transparência dos países que recebem ajuda é uma obrigação do presidente do Banco Mundial.
Mas o que fará Wolfowitz diante da combinação de boa governança e ditadura?
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