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02/04/2005 - 10h36

Especialistas criticam jornais italianos por "antecipar" morte do papa

da BBC

Os jornais italianos não esperaram o anúncio oficial da possível morte do papa para publicar balanços do pontificado, biografias de João Paulo 2º e comentários sobre sua herança política e espiritual e por isso receberam críticas de vários especialistas no Vaticano.

O jornal "La Stampa", um dos mais conceituados do país, chegou até a dar como título de sua primeira página "João Paulo 2º 1978-2005", em letras garrafais. O Il Tempo saiu com o título "Ciao Karol".

Detalhes sobre o que acontece logo após o falecimento do pontífice e informações exaustivas sobre o conclave [reunião de cardeais para eleger o novo papa] também não foram omitidas à espera do momento crucial, assim como as listas de cardeais eleitores e dos candidatos mais cotados como sucessores de Karol Wojtyla.

O vaticanista do "La Stampa", Marco Tosatti, um dos profissionais mais sérios na cobertura das notícias ligadas à Igreja Católica e ao pontificado, justificou o título de seu jornal citando as declarações de dois importantes religiosos.

"Quando o cardeal Camillo Ruini afirmou, durante a homilia [pregação, comentário] da missa de sexta-feira à noite, que o papa já vê e toca o Senhor, ou o arcebispo Angelo Comastri, que, antes de rezar o terço na Praça de São Pedro, disse que esta madrugada Cristo vai escancarar as portas ao papa, é uma espécie de autorização", explicou Tosatti.

"Desrespeitoso"

No entanto, vários vaticanistas [como são chamados os especialistas nas questões da sede da Igreja Católica] criticaram a decisão dos jornais italianos.

"Inaceitável e desrespeitoso", na opinião do escritor e estudioso de questões vaticanas Giancarlo Zizola, autor do livro O Sucessor.

"A imprensa italiana tem muita pressa, não espera os eventos, quer chegar antes e às vezes exagera nessa corrida", comentou o chefe do escritório da agência de noticias italiana Ansa junto ao Vaticano, Franco Pisano.

Benny Lai é o decano dos vaticanistas italianos. Cobriu cinco conclaves e inventou o termo vaticanista em 1960, quando publicou um livro que contava os últimos cinco anos do pontificado do papa Pio 12.

O termo define os jornalistas que cobrem assuntos ligados à Igreja Católica e ao Vaticano.

"É culpa da concorrência das agências de notícias", analisa Lai, em entrevista à BBC Brasil.

"Os jornais não querem perder espaço e acabam cometendo erros de avaliação."

De acordo com ele, a concorrência de agências de noticias, televisão e internet condiciona a qualidade dos jornais.

"No passado, os vaticanistas tinham mais poder, autoridade, podiam tomar certas decisões. Agora é a máquina quem decide, e nessas decisões considera-se talvez demais a concorrência", observa.

Lai mostra com orgulho a carteirinha de jornalista que leva a data de 1952 e é assinada por Giovanni Battista Montini, na época substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, que se tornou mais tarde o papa Paulo 6º.

"O Vaticanismo, que é o conhecimento do mundo do Vaticano, uma coisa nada fácil, mudou muito. Há poucos profissionais com sérias competências. Mas eles também acabam sendo vítimas desse circo mediático que alguns querem incrementar", analisa Benny Lai, que recorda a morte do papa João 23 em 1963.

"Foram dez dias de agonia, mas a cobertura era certamente mais enxuta e menos apelativa", disse, observando que João Paulo 2º tem um coração muito forte e que ainda pode resistir.
 

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