Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
02/04/2005 - 20h51

Oriente Médio dá pouco destaque à saúde do papa

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, no Cairo

O papa João Paulo 2º é admirado no Oriente Médio como um incentivador do diálogo entre as religiões mas, numa região com forte predominância muçulmana e cristãos independentes da igreja de Roma, o fim de um papado não é um tema que consiga entrar no dia-a-dia das pessoas.

A mídia árabe não ignora o que acontece com o papa e os dois principais jornais distribuidos em toda a região --o Al-Hyatt e o Al-Asharq Al-Awsat-- publicaram neste sábado uma página inteira cada um sobre o tema, mas fica claro que ele não tem a estatura de principal assunto do dia.

As pequenas comunidades católicas romanas no Oriente Médio se uniram aos cristãos ocidentais em orações para o papa, mas não há notícias sobre cerimônias organizadas por outras denominações ou religiões para homenagear o pontífice.

É esperado que os governos de países árabes emitam notas de condolências caso o papa venha mesmo a morrer, mas até agora estas nações se mantiveram silenciosas sobre o tema.

"Quando o papa visitou os países árabes tivemos muitos diálogos interessantes. Sob o papado dele, conseguimos chegar a um acordo para aumentar os contatos entre nossas religiões", disse o presidente da Comissão de Diálogo Interreligioso da Universidade Islâmica de Al-Azhar, no Cairo, Ali Al-Samman.

Contatos

A Universidade de Al-Azhar é considerada um dos principais centros de teologia muçulmana sunita do mundo árabe e as decisões emitidas pelos líderes da universidade tem influência bem além das fronteiras egípcias.

Religiosos concordam que os contatos entre muçulmanos e católicos se ampliaram nos últimos anos mas ainda há questões --não só contemporâneas, mas também históricas-- influenciando o entendimento entre as duas religiões.

Recentemente, a Universidade de Al-Azhar pediu que Vaticano emita uma pedido de desculpas pelos "crimes cometidos contra os muçulmanos durante as cruzadas", do século 11 aos século 13. O Vaticano ainda não se manifestou oficialmente sobre o pedido.

Em 2001, o papa fez uma visita ao Oriente Médio - passando por Egito, Síria, Israel e Cisjordânia - que foi considerada um marco.

Na capital síria, Damasco, João Paulo 2º se tornou o primeiro sumo pontífice católico a visitar uma mesquita, quando entrou no templo de Ummayad. Em toda a viagem, as aparições do papa foram acompanhadas por multidões, formadas tanto por cristãos quanto por fiéis de outras religiões.

O xeque Abdel Naser Khatib --um libanês-brasileiro que é um dos líderes religiosos no Vale do Bekaa, no leste do Líbano-- diz que João Paulo 2º pode ser considerado um dos batalhadores pelo entendimento entre as religiões.

"O importante é nossas religiões entenderem que temos apenas um Deus e que uma fé complementa a outra. O papa João Paulo 2º fez um grande trabalho nesse sentido e nossa esperança é que, depois do papado dele, este trabalho continue", disse.

O papa também agradou a opinião pública árabe por sua posição fortemente contrária à guerra no Iraque e pelas declarações críticas a atitudes israelenses, emitidas pelo Vaticano durante seu papado.

Coptas

O Egito tem uma minoria cristã (cerca de 5% da população de 76 milhões de pessoas), mas os cristão egípcios são da denominação copta, que rompeu com a igreja de Roma no século 5.

Os coptas têm o seu própria papa --atualmente Shenouda 3º-- e a sede da igreja fica na cidade de Alexandria.

"Nós coptas, nestes últimos anos, começamos a nos interessar mais a respeito do que acontece no cristianismo em todo o mundo e obviamente em Roma", disse o professor de francês Gammal Melek.

"Nós vemos o papa João Paulo 2º como uma personalidade muito sábia. Durante séculos os coptas e católicos romanos viveram em isolamento total e isso só começou a mudar nos últimos anos", disse.

Católicos

A comunidade católica romana no Cairo --como na maioria dos países do Oriente Médio-- é formada praticamente apenas pelos estrangeiros que vivem na região.

"Nas paróquias católicas aqui no Cairo as pessoas estão orando pelo papa como em vários outros lugares do mundo, mas minha impressão pessoal é de que existe uma distância ainda grande entre os coptas e os católicos", opinou a professora francesa Bernadette Lucelle, uma católica que mora há cinco anos no Egito.

O assunto é considerado delicado pelos religiosos católicos no país. Os padres católicos procurados pela BBC Brasil preferiram não falar sobre como andam as relações entre a religião deles e as outras existentes no Egito.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página