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03/04/2005 - 14h45

Análise: Moral uniu papa e Bush, mas guerra os separou

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

João Paulo 2º era um ídolo da direita cristã americana desde os tempos em que ela era conhecida como "maioria moral" nos anos 70 e com suas legiões evangélicas contribuiu para a ascensão de Ronald Reagan ao poder e sua revolução conservadora.

George W. Bush, que sempre fez questão de se apregoar como um cruzado moral nas linhas de Reagan, também considerava o papa um companheiro de armas.

O reverso, porém, nem sempre valia. É verdade que eles estavam unidos em um absolutismo moral e na valorização da liberdade como um pilar da civilização cristã ocidental.

Por esta razão, no seu primeiro pronunciamento após a morte do papa, Bush disse que o mundo "perdera um defensor da liberdade humana" e da luta para derrotar o comunismo soviético.

Mas conceitos sobre o valor da vida e liberdade podem ser relativizados por alguns mensageiros e assim o presidente americano acabou se chocando com o papa em algumas de suas cruzadas.

Guerra x paz

A determinação pacifista do papa cresceu em proporção direta à beligerância americana. João Paulo 2º foi uma voz de destaque na oposição à invasão do Iraque (assim como na primeira guerra do Golfo Pérsico) e nunca escondeu sua indignação em relação ao abuso de prisioneiros em Abu Ghraib.

O papa trouxe a questão à tona no último dos três encontros que teve com Bush, no Vaticano, em junho passado, quando já estava bastante debilitado.

Para o presidente, em campanha de reeleição, a admoestação do papa era o preço que ele pagava para ganhar pontos junto à comunidade católica americana. Bush estava firmemente empenhado em romper as barreiras religiosas em nome de causas conservadoras e de valores morais.

A ofensiva foi bem sucedida e, nas eleições de novembro, Bush foi o primeiro republicano a ter maioria dos votos dos católicos, um bloco tradicional de sustentação do Partido Democrata.

O papa e Bush cerravam fileiras em quase todas as questões relacionadas à "cultura da vida". Eles falavam a mesma língua na oposição ao aborto e eutanásia.

A afinidade ficou flagrante na última cruzada que uniu o Vaticano e a Casa Branca, que foi o caso de Terri Schiavo, a mulher que vivia em estado vegetativo na Flórida e que morreu na quinta-feira passada, 13 dias após ser removido o tubo de alimentação, contra a vontade dos seus pais, católicos devotos.

O papa, no entanto, era mais coerente doutrinariamente do que o presidente republicano nas questões da "cultura da vida". O sumo pontíficie sempre expressou desalento com a aplicação da pena de morte nos EUA, que Bush endossou de forma pródiga quando era governador do Texas.

No caso de Ronald Reagan, a luta contra o comunismo soviético era um fator que ofuscava divergências entre o império geopolítico americano e o império espiritual comandado pelo papa polonês.

Lou Cannon, um dos mais respeitados biógrafos de Reagan, adverte contra exageros na afinidade entre o papa João Paulo 2º e o ex-presidente republicano que morreu no ano passado.

Não havia um eixo Washington-Vaticano ou um trabalho de coordenação formal para combater Moscou. Na verdade, cada um cumpria o seu papel, algo natural tanto para o ex-ator de teatro Karol Wojtyla, como para o homem de Hollywood.
 

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