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05/04/2005 - 10h08

Igreja Católica americana combina força e fragilidade

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Com seu vigor pastoral e rigor doutrinário, João Paulo 2º foi um papa de paradoxos. Essa também é a situação da Igreja católica norte-americana.

Com as especulações se o novo papa será europeu ou do Terceiro Mundo (e a possibilidade praticamente descartada de que venha a ser norte-americano), às vezes se esquece a importância do catolicismo nos Estados Unidos.

Com 65 milhões de fiéis, o país tem a quarta maior população católica do mundo, vindo na frente da Itália e perdendo apenas para Brasil, México e Filipinas.

Os católicos americanos representam 23% da população e durante séculos foram discriminados pela maioria protestante. Emplacaram apenas um presidente, John Kennedy.

Pedofilia

Hoje é uma igreja poderosa, mas também frágil, abalada pela crise de pedofilia, concentrada na arquidiocese de Boston e desgastada por divisões internas.

Em nenhum país há tantas contribuições anuais às congregações católicas como nos Estados Unidos (US$ 7,5 bilhões). Em contrapartida, os acordos de pagamentos às vítimas de abuso sexual por padres já custaram US$ 500 milhões e o total pode chegar a US$ 1 bilhão.

A resposta ao escândalo de pedofilia foi lenta depois de acusações e ressentimento de fiéis pelo acobertamento feito por cardeais e bispos.

No entanto, mais de 700 padres predadores foram removidos, o que ironicamente agravou um dos maiores problemas da Igreja católica americana: a carência de pastores nas paróquias. Em 30 anos, o número de padres caiu de 59 mil para 43 mil e 25% deles têm mais de 75 anos.

Ativistas

Há divergências sobre o papel de ativistas laicos, que desafiam a hierarquia, e os próprios bispos discretamente pressionam por mais autonomia em relação ao Vaticano em meio a crescentes divisões entre conservadores e progressistas em questões como ordenação de mulheres, celibato, aborto, homossexualismo e liturgia.

De um lado cresceram movimentos tradicionalistas como Opus Dei, com a benção do próprio papa. De outro, o escândalo de abuso sexual semeou comunidades de base como A Voz dos Fiéis, que exigem mais transparência e participação nas atividades das dioceses. São clamores menos ouvidos do que os mais tradicionais.

Esse ativismo não deteve um declínio acentuado de frequência nas igrejas católicas nos últimos 25 anos.

Hoje, 27% dos católicos vão à missa pelo menos uma vez por semana em uma frequência um pouco acima da média nacional.

O fluxo incessante de imigrantes latino-americanos impede uma crise ainda maior. A inflexibilidade doutrinária ajuda a explicar o êxodo de padres e um número menor de seminaristas (assim como de crianças nas escolas paroquiais).

O entusiasmo popular que marcou as quatro visitas pastorais de João Paulo 2º aos Estados Unidos serviu para em alguns momentos ofuscar a crise católica no país. O papa ganhou status de celebridade, especialmente entre os jovens.

De acordo com os estudos do sociólogo Dean Hoge, da Catholic University, há menos seminaristas, mas aqueles que decidem vestir a batina são mais conservadores do que os padres mais velhos influenciados pelas reformas do Concílio do Vaticano 2, nos anos 60.

Como na Santa Sé, pastores muito tradicionais nas paróquias americanas deverão acalmar uma parcela dos fiéis, mas inquietar ainda mais uma outra parte do rebanho.
 

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