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15/04/2005 - 17h50

Em São Paulo, d. Cláudio prioriza caridade e despolitização

LUIZ HENRIQUE AMARAL
da BBC Brasil

Logo que assumiu a Arquidiocese de São Paulo, em maio de 1998, d. Cláudio Hummes buscou dar sinais que o diferenciassem da gestão anterior, de d. Paulo Evaristo Arns.

Para isso, ele substituiu a palavra de ordem da arquidiocese.

A pregação de "justiça social" de seu antecessor foi substituída por "caridade", palavra com menor acepção política e mais afinidade com os rumos ditados por João Paulo 2º.

Hoje, seu projeto mais importante é o "Seminário da Caridade", uma profunda pesquisa que mapeou todos os órgãos de atendimento social (como creches, hospitais e casas de repouso) da igreja paulistana e está discutindo formas de aperfeiçoar o atendimento aos pobres oferecidos por esses serviços.

Empregos

Outro projeto importante é o Ceat (Centro de Atendimento ao Trabalhador).

Trata-se de uma central computadorizada onde desempregados podem encontrar propostas de trabalho em empresas da cidade.

A igreja intermediou a contratação de 9.047 pessoas em 2004 e criou 23.832 vagas novas, captadas em empresas.

Talvez uma das mudanças mais claras no processo de "despolitização" da igreja de São Paulo comandada por d. Cláudio seja o formato das missas.

Na época de d. Paulo, era comum os fiéis levarem cartazes e faixas com frases defendendo a reforma agrária ou a luta por moradia nas cidades, dependendo do "tema" da missa.

Essas formas de expressão, que eram típicas das pastorais da Terra ou dos sem-teto, por exemplo, foram proibidas.

Por outro lado, o arcebispo abriu a igreja para movimentos outrora banidos, como os "Arautos do Evangelho", uma dissidência do grupo ultraconservador TFP (Tradição Família e Propriedade).

Fantasiados com roupas medievais, o coral do grupo cantou na missa oficial em memória do papa João Paulo 2º na semana passada na catedral da Sé.

Extrema confiança

A aproximação de d. Cláudio com João Paulo 2º e a Cúria Romana foi sacramentada em 2002, quando ele foi convidado para ministrar o retiro espiritual anual do próprio papa, um privilégio reservado apenas para prelados de extrema confiança do Vaticano.

Hoje, d. Cláudio participa de 10 conselhos pontifícios em Roma.

Afinado com as idéias do Vaticano, d. Cláudio é contra o aborto mesmo em casos permitidos pela lei brasileira, como o de estupro.

"Cabe à sociedade acolher as crianças rejeitadas pelas suas mães", costuma dizer.

Apesar de se opor a pesquisas com embriões e células-tronco, o cardeal tem defendido o diálogo entre a Igreja e a ciência.

"A Igreja não é obscurantista, não se opõe à ciência e à razão", afirmou em entrevista recente.

Afirma ainda que a igreja não considera a união civil entre pessoas do mesmo sexo como "um matrimônio", mas prefere tratar do assunto de maneira diplomática.

"É uma questão fluida", disse há três semanas em entrevista à Folha de S.Paulo.

Ascendência alemã

Sobre o uso de preservativos, também busca não radicalizar simplesmente vetando seu uso pelos católicos.

"Os valores representados pela camisinha não são os da Igreja, que se opõe à uma vida erotizada, em que a única coisa importante é fazer sexo seguro", afirmou.

Vale lembrar que d. Paulo Arns chegou a defender que a camisinha fosse usada "em casos extremos", como na relação sexual entre casais, quando um dos pares fosse portador do vírus da Aids.

Nascido em agosto de 1934 em Montenegro, pequena cidade de colonização alemã no Rio Grande do Sul, Hummes traz da ascendência germânica os olhos azuis e uma maneira franca e direta de falar.

É pouco afeito a sorrisos e ao bom humor.

E em comum com João Paulo 2º, além do ideário, tem o fato de dominar várias línguas --fala português, francês, inglês, espanhol, alemão e italiano.

Leia mais: Trajetória de d. Cláudio Hummes desafia definições
 

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