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17/04/2005 - 17h43

Argentinos mostram apatia com possibilidade de papa do país

MÁRCIA CARMO
da BBC Brasil

Os argentinos acompanham com apatia as discussões sobre a possibilidade de ter um conterrâneo como papa.

Por outro lado, o passado do candidato do país ao Vaticano, cardeal Jorge Bergoglio, desperta polêmica no país, com acusações de que ele teria denunciado dois sacerdotes na época da ditadura argentina.

Filho de italianos, arcebispo de Buenos Aires e primaz da Argentina, o cardeal de 68 anos é engenheiro químico, jesuíta e doutor em filosofia, título que obteve na Alemanha.

Bergoglio assumiu a Arquidiocese de Buenos Aires em 1998 e costuma fazer, nas suas homilias, fortes críticas à exclusão social. Também será o único argentino a votar --e ser votado-- na eleição do novo papa.

Mas a sua candidatura não despertou o fervor na Argentina, onde a maioria (92%) declara-se católica, mas apenas 20% freqüentam a missa.

"Conservador de espírito aberto"

"O cardeal é dono de um estilo sóbrio, centrado na pastoral e na Arquidiocese de Buenos Aires, é querido pelos seus pares e tem a política de percorrer as diferentes paróquias para conversar com os párocos", diz o editor de educação, cultura e temas religiosos do jornal La Nación, Mariano de Vedia.

"Se chegar a papa, fará um caminho parecido ao de João Paulo 2º. Ele é um conservador, mas de espírito aberto. Mas jamais estimularia na igreja discussões como a aceitação dos divorciados, o reconhecimento de casais homossexuais e o aborto."

Já o historiador Pacho O'Donnell entende que uma possível eleição de Bergoglio dependerá, fundamentalmente, do perfil que a igreja escolherá para o próximo papa.

"Se (o perfil escolhido) for um moderado e jesuíta, ele tem chances. Mas, no último papado, os jesuítas só perderam espaço, ocupado por representantes da Opus Dei", afirmou.

Na opinião do jornalista Horácio Verbitsky, Jorge Bergoglio "usaria o peso da Igreja" para impedir que os crimes da recente ditadura (1976-1983) fossem investigados.

"Essa sempre foi a sua postura, a de ser contra a reabertura dos processos daqueles anos e do castigo aos culpados."

Ditadura

Verbitsky é autor do livro El Silencio, no qual afirma que Bergoglio teria denunciado dois sacerdotes ao governo argentino. A obra foi lançada no mês passado, e sua primeira edição, de 12 mil exemplares, se esgotou.

O livro conta a história de um campo de concentração clandestino e a participação direta da Igreja Católica argentina durante os anos de repressão. Verbitsky diz, por exemplo, que em 1979, quando uma comissão interamericana de direitos humanos esteve no país, 60 presos políticos foram transferidos para uma ilha de propriedade da Arquidiocese de Buenos Aires.

Na publicação, o jornalista conta que dois sacerdotes jesuítas que trabalhavam sob o comando de Bergoglio, então superior provincial na Companhia de Jesus, Francisco Jalics e Orlando Yorio, foram afastados por ele da congregação. E, mais tarde, foram seqüestrados e detidos na Escola de Mecânica da Armada (Esma), conhecido centro de tortura.

"Jogo duplo"

Baseado em documentos que encontrou no Ministério das Relações Exteriores, Verbitsky afirma que o cardeal teria feito um "jogo duplo".

Primeiro, teria pedido que os dois sacerdotes fossem afastados para ser salvos dos repressores. Depois justificou o afastamento com o fato de se tratarem de simpatizantes de guerrilheiros.

O jornalista definiu o episódio como "amoral", mas não acredita que, pelo menos até aqui, existam provas para acusar Bergoglio judicialmente.

Quando perguntado sobre a razão da apatia dos argentinos em relação a um possível papa do próprio país, respondeu: "É nosso estilo mesmo. Como diz Caetano Veloso, argentino canta tango."

Já o editor do "La Nación", Mariano de Vedia, entende que medidas como a autorização do casamento entre gays, implementadas há quase dois anos na capital federal, são apenas uma de várias provas de que os argentinos, especialmente os de Buenos Aires, andam afastados da atual doutrina da Igreja Católica.

Para ele, a apatia também se explica pela distância que o governo do presidente Néstor Kirchner mantém da instituição.

No mês passado, Kirchner demitiu o capelão militar, Antonio Baseotto. O religioso tinha sugerido "pendurar uma pedra no pescoço do ministro da Saúde e jogá-lo no Rio da Prata" por sua defesa das discussões sobre o aborto.

A declaração fez com que muitos lembrassem dos anos de ditadura. O Vaticano classificou a decisão de Kirchner de "unilateral".

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