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19/04/2005
-
19h42
da BBC Brasil
O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirmou nesta terça-feira, em entrevista à BBC Brasil, que recebeu com "perplexidade" a notícia de que o cardeal alemão Joseph Ratzinger foi eleito como novo papa.
"Recebi com perplexidade e surpresa porque uma igreja conservadora chamou o guardião do conservadorismo para o papado", afirmou Boff. "Como cristão, a gente acolhe, a gente respeita, mas ficamos cheios de preocupações pela imagem da igreja no mundo."
Na opinião do ex-sacerdote, o novo papa não só vai repetir o pontificado de João Paulo 2º como também vai radicalizar a doutrina moral da Igreja Católica.
"João Paulo 2º criou muitas feridas: muitos cristãos emigraram da igreja porque não a sentiam mais como lar espiritual", diz o teólogo. "Tememos que esse inverno eclesial continue. A igreja vai conhecer um inverno mais rigoroso."
Teologia da Libertação
Principal ícone da Teologia da Libertação no Brasil, Leonardo Boff sofreu um processo judicial na Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, em 1984. Na época, o organismo da igreja já era dirigido pelo cardeal Ratzinger.
"Fui interrogado por ele durante três horas", conta Boff. "E também fui por ele punido com o silêncio obsequioso, deposição da cátedra e proibição de escrever e falar."
"Depois, por intervenção do próprio papa (João Paulo 2º), que não queria se equiparar aos líderes brasileiros que silenciavam jornalistas, ele permitiu que eu continuasse a falar e escrever", acrescenta o teólogo.
Apesar das duras críticas à escolha do novo papa e da punição sofrida na década de 80, Leonardo Boff descreve Ratzinger como um homem "extremamente gentil" e "fino" e lembra que, quando era estudante, recebeu a ajuda do cardeal alemão.
"Eu o conhecia antes como professor de teologia, extremamente afável e que sempre gastou metade do salário dele de professor para ajudar estudantes do Terceiro Mundo", lembra Boff.
"A mim, ele ajudou a publicar a minha tese doutoral: ajudou, encontrando uma editora, e ajudou financeiramente", diz o brasileiro. "Coisa que eu agradeço até no prefácio do livro."
Bento 16
Em meio às lembranças e opiniões sobre o novo papa, Leonardo Boff diz acreditar que o nome escolhido por Ratzinger como sumo pontífice, Bento 16, indica uma das possíveis preocupações do novo líder máximo da Igreja Católica.
"Acho que ele quer marcar alguma diferença", afirma o teólogo. "Bento 15 era um papa que tentou buscar paz em tempo de guerra. Talvez, ele (Ratzinger) entenda que a missão da igreja é mediar os conflitos mundiais e ajudar na paz. Se for esse o propósito, acho que foi um nome bem escolhido."
De acordo com Boff, no entanto, o novo papa vai manter o controle rígido sobre a igreja e, por isso, o estilo do novo sumo pontífice pode afastar mais fiéis do catolicismo.
"É um papa que tem um perfil de usar o poder para sistematizar e criar ordem na igreja", avalia. "Essa estratégia, no meu modo de ver, vai isolar mais ainda a igreja e vai permitir que mais cristãos a abandonem."
Na opinião do teólogo brasileiro, se quiser evitar a perda de mais fiéis, inclusive no Brasil, o papa Bento 16 terá de fortalecer as igrejas locais e as conferências nacionais de bispos.
No entanto, diz Boff, o novo sumo pontífice vai procurar fazer isso sem deixar de reforçar os laços de "comunhão" com a centralidade do Vaticano.
"Ele dará importância, reforçará as igrejas locais", afirma. "É a única maneira de garantir uma igreja forte na América Latina e limitar a emigração de católicos na direção de outras igrejas evangélicas", afirmou Boff.
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Leonardo Boff diz estar perplexo e surpreso com escolha de papa
DIEGO TOLEDOda BBC Brasil
O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirmou nesta terça-feira, em entrevista à BBC Brasil, que recebeu com "perplexidade" a notícia de que o cardeal alemão Joseph Ratzinger foi eleito como novo papa.
"Recebi com perplexidade e surpresa porque uma igreja conservadora chamou o guardião do conservadorismo para o papado", afirmou Boff. "Como cristão, a gente acolhe, a gente respeita, mas ficamos cheios de preocupações pela imagem da igreja no mundo."
Na opinião do ex-sacerdote, o novo papa não só vai repetir o pontificado de João Paulo 2º como também vai radicalizar a doutrina moral da Igreja Católica.
"João Paulo 2º criou muitas feridas: muitos cristãos emigraram da igreja porque não a sentiam mais como lar espiritual", diz o teólogo. "Tememos que esse inverno eclesial continue. A igreja vai conhecer um inverno mais rigoroso."
Teologia da Libertação
Principal ícone da Teologia da Libertação no Brasil, Leonardo Boff sofreu um processo judicial na Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, em 1984. Na época, o organismo da igreja já era dirigido pelo cardeal Ratzinger.
"Fui interrogado por ele durante três horas", conta Boff. "E também fui por ele punido com o silêncio obsequioso, deposição da cátedra e proibição de escrever e falar."
"Depois, por intervenção do próprio papa (João Paulo 2º), que não queria se equiparar aos líderes brasileiros que silenciavam jornalistas, ele permitiu que eu continuasse a falar e escrever", acrescenta o teólogo.
Apesar das duras críticas à escolha do novo papa e da punição sofrida na década de 80, Leonardo Boff descreve Ratzinger como um homem "extremamente gentil" e "fino" e lembra que, quando era estudante, recebeu a ajuda do cardeal alemão.
"Eu o conhecia antes como professor de teologia, extremamente afável e que sempre gastou metade do salário dele de professor para ajudar estudantes do Terceiro Mundo", lembra Boff.
"A mim, ele ajudou a publicar a minha tese doutoral: ajudou, encontrando uma editora, e ajudou financeiramente", diz o brasileiro. "Coisa que eu agradeço até no prefácio do livro."
Bento 16
Em meio às lembranças e opiniões sobre o novo papa, Leonardo Boff diz acreditar que o nome escolhido por Ratzinger como sumo pontífice, Bento 16, indica uma das possíveis preocupações do novo líder máximo da Igreja Católica.
"Acho que ele quer marcar alguma diferença", afirma o teólogo. "Bento 15 era um papa que tentou buscar paz em tempo de guerra. Talvez, ele (Ratzinger) entenda que a missão da igreja é mediar os conflitos mundiais e ajudar na paz. Se for esse o propósito, acho que foi um nome bem escolhido."
De acordo com Boff, no entanto, o novo papa vai manter o controle rígido sobre a igreja e, por isso, o estilo do novo sumo pontífice pode afastar mais fiéis do catolicismo.
"É um papa que tem um perfil de usar o poder para sistematizar e criar ordem na igreja", avalia. "Essa estratégia, no meu modo de ver, vai isolar mais ainda a igreja e vai permitir que mais cristãos a abandonem."
Na opinião do teólogo brasileiro, se quiser evitar a perda de mais fiéis, inclusive no Brasil, o papa Bento 16 terá de fortalecer as igrejas locais e as conferências nacionais de bispos.
No entanto, diz Boff, o novo sumo pontífice vai procurar fazer isso sem deixar de reforçar os laços de "comunhão" com a centralidade do Vaticano.
"Ele dará importância, reforçará as igrejas locais", afirma. "É a única maneira de garantir uma igreja forte na América Latina e limitar a emigração de católicos na direção de outras igrejas evangélicas", afirmou Boff.
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