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20/04/2005
-
15h12
da BBC Brasil, em Roma
Os principais cardeais da ala mais liberal da Igreja Católica preferiram apoiar a candidatura do alemão Joseph Ratzinger em vez de produzir um impasse no conclave, afirmam especialistas em Vaticano da Itália.
Segundo o vaticanista Marco Politi, do jornal La Repubblica, teria sido o cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão e símbolo dos progressistas no conclave, quem convenceu seus aliados a votar em Ratzinger.
Esta decisão teria sido tomada depois de ter verificado que o apoio ao cardeal alemão era muito amplo.
Também teria sido decisivo, segundo os analistas, o apoio que Ratzinger recebeu dos grandes eleitores Angelo Sodano, Camillo Ruini e Giovanni Battista Re.
Apoio
Segundo o vaticanista Andrea Tornielli, os grandes eleitores italianos, inicialmente contrários ao cardeal alemão, decidiram apoiá-lo "em vez de criar uma situação de impasse ou tentar um compromisso com candidatos de mediação".
Antes do conclave, previa-se que, em caso de divisão dos 115 cardeais entre a ala liberal e conservadora nas primeiras votações, a tendência seria a busca de candidatos moderados capazes de gerar consenso.
O nome do arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, era citado como uma das opções nessa eventualidade, que não chegou a acontecer.
Na opinião de Politi, foi muito importante, para a eleição do novo papa, a campanha eleitoral feita pela Opus Dei, com o especialista de textos legislativos Julian Herranz.
Tiveram papel importante também alguns cardeais latino-americanos da cúria, como os colombianos Alfonso Lopes Trujillo, ex-prefeito do conselho para a família, e Dario Castrillon Hoyos --ex-responsável pela congregação do clero.
Plebiscito
Para Andrea Tornielli, o papa Bento 16 teria sido eleito numa espécie de plebiscito.
O sucessor de João Paulo 2º, eleito na terça-feira, teria recebido muito mais do que os 77 votos previstos pelo sistema do conclave, que prevê a vitória daquele que conseguir obter apoio de dois terços dos 115 cardeais.
Os cardeais que estiveram no conclave, vinculados pelo juramento de manter segredo sobre tudo o que diz respeito à eleição do papa sob pena de serem excomungados, não fazem comentários explícitos.
Todos, por ora, concordam em dizer que não houve divisões no colégio cardinalício durante as eleições.
A votação durou pouco. Foram necessários apenas quatro escrutínios, um dos conclaves mais rápidos da história. Isto, na opinião dos observadores, é sinal que não houve tanta discordância ou debate em torno do nome de Joseph Ratzinger.
Doutrina do medo
De acordo com a análise de Tornielli, a eleição de Ratzinger indica que os receios que ele expressou no sermão de início do conclave convenceram os eleitores.
Na missa de segunda-feira de manhã, o cardeal Ratzinger alertou para os perigos do relativismo e das novas ideologias e doutrinas.
Segundo ele, elas representam uma ameaça à fé. É da mesma opinião o analista Giovanni Avena. Ele disse à BBC Brasil que Ratzinger assustou o colégio cardinalício.
Em sua opinião, o atual pontífice passou a idéia de que sem ele e sem o poder doutrinal, a igreja poderia correr riscos de extinção.
"João Paulo 2º começou seu pontificado dizendo 'não tenham medo' e Bento 16 começou assustando", comentou.
Para alguns analistas, o próprio papa João Paulo 2º poderia ter indicado seu colaborador mais próximo como a pessoa mais apropriada para continuar seu pontificado.
A decisão de ter confiado a Ratzinger a leitura da mensagem da via sacra durante a Páscoa, pouco antes de morrer, é vista como uma espécie de sinal nesse sentido.
Naquela ocasião, o atual papa Bento 16 alertou para a "sujeira" que existiria no interior da Igreja, que chegou a definir como "um barco que está prestes a afundar".
Análise: Liberais teriam aceitado Ratzinger para evitar impasse
ASSIMINA VLAHOUda BBC Brasil, em Roma
Os principais cardeais da ala mais liberal da Igreja Católica preferiram apoiar a candidatura do alemão Joseph Ratzinger em vez de produzir um impasse no conclave, afirmam especialistas em Vaticano da Itália.
Segundo o vaticanista Marco Politi, do jornal La Repubblica, teria sido o cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão e símbolo dos progressistas no conclave, quem convenceu seus aliados a votar em Ratzinger.
Esta decisão teria sido tomada depois de ter verificado que o apoio ao cardeal alemão era muito amplo.
Também teria sido decisivo, segundo os analistas, o apoio que Ratzinger recebeu dos grandes eleitores Angelo Sodano, Camillo Ruini e Giovanni Battista Re.
Apoio
Segundo o vaticanista Andrea Tornielli, os grandes eleitores italianos, inicialmente contrários ao cardeal alemão, decidiram apoiá-lo "em vez de criar uma situação de impasse ou tentar um compromisso com candidatos de mediação".
Antes do conclave, previa-se que, em caso de divisão dos 115 cardeais entre a ala liberal e conservadora nas primeiras votações, a tendência seria a busca de candidatos moderados capazes de gerar consenso.
O nome do arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, era citado como uma das opções nessa eventualidade, que não chegou a acontecer.
Na opinião de Politi, foi muito importante, para a eleição do novo papa, a campanha eleitoral feita pela Opus Dei, com o especialista de textos legislativos Julian Herranz.
Tiveram papel importante também alguns cardeais latino-americanos da cúria, como os colombianos Alfonso Lopes Trujillo, ex-prefeito do conselho para a família, e Dario Castrillon Hoyos --ex-responsável pela congregação do clero.
Plebiscito
Para Andrea Tornielli, o papa Bento 16 teria sido eleito numa espécie de plebiscito.
O sucessor de João Paulo 2º, eleito na terça-feira, teria recebido muito mais do que os 77 votos previstos pelo sistema do conclave, que prevê a vitória daquele que conseguir obter apoio de dois terços dos 115 cardeais.
Os cardeais que estiveram no conclave, vinculados pelo juramento de manter segredo sobre tudo o que diz respeito à eleição do papa sob pena de serem excomungados, não fazem comentários explícitos.
Todos, por ora, concordam em dizer que não houve divisões no colégio cardinalício durante as eleições.
A votação durou pouco. Foram necessários apenas quatro escrutínios, um dos conclaves mais rápidos da história. Isto, na opinião dos observadores, é sinal que não houve tanta discordância ou debate em torno do nome de Joseph Ratzinger.
Doutrina do medo
De acordo com a análise de Tornielli, a eleição de Ratzinger indica que os receios que ele expressou no sermão de início do conclave convenceram os eleitores.
Na missa de segunda-feira de manhã, o cardeal Ratzinger alertou para os perigos do relativismo e das novas ideologias e doutrinas.
Segundo ele, elas representam uma ameaça à fé. É da mesma opinião o analista Giovanni Avena. Ele disse à BBC Brasil que Ratzinger assustou o colégio cardinalício.
Em sua opinião, o atual pontífice passou a idéia de que sem ele e sem o poder doutrinal, a igreja poderia correr riscos de extinção.
"João Paulo 2º começou seu pontificado dizendo 'não tenham medo' e Bento 16 começou assustando", comentou.
Para alguns analistas, o próprio papa João Paulo 2º poderia ter indicado seu colaborador mais próximo como a pessoa mais apropriada para continuar seu pontificado.
A decisão de ter confiado a Ratzinger a leitura da mensagem da via sacra durante a Páscoa, pouco antes de morrer, é vista como uma espécie de sinal nesse sentido.
Naquela ocasião, o atual papa Bento 16 alertou para a "sujeira" que existiria no interior da Igreja, que chegou a definir como "um barco que está prestes a afundar".
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