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22/04/2005
-
15h50
da BBC Brasil, em Nova York
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, estará na América do Sul na semana que vem na sua primeira visita à região desde a posse, em janeiro.
O Brasil será uma das escalas programadas, não estando prevista uma parada no conturbado Equador.
Nesta quinta-feira, falando da distante Lituânia, Rice fez um apelo por calma, estabilidade e convocação de eleições no pequeno país andino.
É preciso mais uma destituição de presidente --a de Lucio Gutiérrez foi a terceira em oito anos-- para colocar o Equador no radar americano pelo menos por alguns momentos.
Degringolada
Mais do que isso, na avaliação do Centro Carter [ligado ao ex-presidente americano Jimmy Carter], a comunidade internacional "reagiu aos fatos" na crise equatoriana.
Por ora, há cautela em Washington na questão de reconhecimento do governo de Alfredo Palacio.
Michael Shifter, vice-presidente do respeitado Inter-American Dialogue, lamenta que o governo americano não estivesse prestando muita atenção na degringolada democrática no Equador, além de dar suporte protocolar ao processo constitucional.
É uma ironia porque o país foi um dos primeiros na América do Sul, em 1979, a fazer a transição de autoritarismo para democracia. A consolidação, como se vê, não vingou.
Semelhança
A chegada de Gutiérrez ao poder pelo voto em 2002 causou uma certa apreensão em Washington.
Era uma trajetória parecida com a do venezuelano Hugo Chávez, um militar com passado golpista e que depois venceu eleições democráticas.
A retórica populista de Gutiérrez cedeu lugar a uma política econômica de austeridade para atender ao receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI) --e pagar a pesada dívida externa-- e de aproximação com os EUA.
O populista ficou cada vez mais impopular, desgastou-se junto à base indígena e investiu cada vez mais em conchavos com partidos ligados a elites tradicionais e populistas retrógrados e folclóricos como o ex-presidente do Equador Abdalá Bucaram, também conhecido como "El Loco".
Do estilo Chávez sobrou em Gutiérrez um empenho para manipular as instituições democráticas conforme os seus interesses, o que culminou na reestruturação da Suprema Corte no final do ano passado. A partir daí foi a degringolada democrática.
Indiferença
Na avaliação de Michael Shifter, ao contrário da Venezuela --quarto fornecedor de petróleo dos EUA e objeto de obsessão do governo Bush-- o Equador é tratado com indiferença em Washington.
Tudo isso apesar de sua economia dolarizada, de possuir substanciais reservas de gás natural e de sediar a única base militar norte-americana na América do Sul (em Manta), conferindo sólido apoio ao Plano Colômbia, de ajuda americana no país vizinho para combater traficantes de drogas e guerrilheiros de esquerda.
Shifter é um dos analistas americanos que martelam na idéia de que existe um sentimento de negligência dos EUA em relação aos acontecimentos hemisféricos.
Mesmo um arco de governos esquerdistas [no geral adotando políticas econômicas de feitio ortodoxo] não faz Bush e seus diplomatas perderem o sono.
Há preocupações específicas como drogas, imigração, Chávez e o aparentemente eterno Fidel Castro, mas existe este quadro de indiferença geopolítica que não será alterado por mais uma troca palaciana no Equador.
Especial
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Análise: Só queda de presidente põe Equador no radar dos EUA
CAIO BLINDERda BBC Brasil, em Nova York
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, estará na América do Sul na semana que vem na sua primeira visita à região desde a posse, em janeiro.
O Brasil será uma das escalas programadas, não estando prevista uma parada no conturbado Equador.
Nesta quinta-feira, falando da distante Lituânia, Rice fez um apelo por calma, estabilidade e convocação de eleições no pequeno país andino.
É preciso mais uma destituição de presidente --a de Lucio Gutiérrez foi a terceira em oito anos-- para colocar o Equador no radar americano pelo menos por alguns momentos.
Degringolada
Mais do que isso, na avaliação do Centro Carter [ligado ao ex-presidente americano Jimmy Carter], a comunidade internacional "reagiu aos fatos" na crise equatoriana.
Por ora, há cautela em Washington na questão de reconhecimento do governo de Alfredo Palacio.
Michael Shifter, vice-presidente do respeitado Inter-American Dialogue, lamenta que o governo americano não estivesse prestando muita atenção na degringolada democrática no Equador, além de dar suporte protocolar ao processo constitucional.
É uma ironia porque o país foi um dos primeiros na América do Sul, em 1979, a fazer a transição de autoritarismo para democracia. A consolidação, como se vê, não vingou.
Semelhança
A chegada de Gutiérrez ao poder pelo voto em 2002 causou uma certa apreensão em Washington.
Era uma trajetória parecida com a do venezuelano Hugo Chávez, um militar com passado golpista e que depois venceu eleições democráticas.
A retórica populista de Gutiérrez cedeu lugar a uma política econômica de austeridade para atender ao receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI) --e pagar a pesada dívida externa-- e de aproximação com os EUA.
O populista ficou cada vez mais impopular, desgastou-se junto à base indígena e investiu cada vez mais em conchavos com partidos ligados a elites tradicionais e populistas retrógrados e folclóricos como o ex-presidente do Equador Abdalá Bucaram, também conhecido como "El Loco".
Do estilo Chávez sobrou em Gutiérrez um empenho para manipular as instituições democráticas conforme os seus interesses, o que culminou na reestruturação da Suprema Corte no final do ano passado. A partir daí foi a degringolada democrática.
Indiferença
Na avaliação de Michael Shifter, ao contrário da Venezuela --quarto fornecedor de petróleo dos EUA e objeto de obsessão do governo Bush-- o Equador é tratado com indiferença em Washington.
Tudo isso apesar de sua economia dolarizada, de possuir substanciais reservas de gás natural e de sediar a única base militar norte-americana na América do Sul (em Manta), conferindo sólido apoio ao Plano Colômbia, de ajuda americana no país vizinho para combater traficantes de drogas e guerrilheiros de esquerda.
Shifter é um dos analistas americanos que martelam na idéia de que existe um sentimento de negligência dos EUA em relação aos acontecimentos hemisféricos.
Mesmo um arco de governos esquerdistas [no geral adotando políticas econômicas de feitio ortodoxo] não faz Bush e seus diplomatas perderem o sono.
Há preocupações específicas como drogas, imigração, Chávez e o aparentemente eterno Fidel Castro, mas existe este quadro de indiferença geopolítica que não será alterado por mais uma troca palaciana no Equador.
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