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25/04/2005 - 17h16

Musa de Paulo Coelho diz que escritor 'roubou sua alma'

da BBC Brasil

"Ele roubou minha alma", disse a jornalista inglesa Christina Lamb, a musa que inspirou o escritor Paulo Coelho a criar a personagem Esther em seu mais recente livro, O Zahir.

A afirmação é o título de um artigo que Christina escreveu para a capa do suplemento News Review do jornal britânico The Sunday Times, onde trabalha como repórter especializada na cobertura de guerras.

No artigo, ela descreve o relacionamento que mantém com o escritor, construído especialmente por intermédio de e-mails.

A jornalista conta conheceu Paulo Coelho em 2003, ao entrevistá-lo quando do lançamento do livro Onze Minutos, logo depois que ela voltou de um período de um mês cobrindo a guerra do Iraque.

Arriscado

"Aprendi que entrevistar escritores que são celebridades pode ser mais arriscado do que cobrir guerras. Eles podem não atirar em você, mas podem roubar sua alma", escreveu ela.

Christina começa descrevendo como se encontrou pela primeira vez com Coelho num hotel no interior da França, onde ele estava morando com sua mulher.

Ela destaca no artigo a coincidência de a mulher do escritor também se chamar Christina, como ela. Num outro ponto do artigo, ela observa que seu marido, um português, também se chama Paulo, como o escritor.

Na entrevista, eles não conversaram apenas sobre o trabalho do escritor. A jornalista conta que Coelho se mostrou muito interessado em suas histórias de correspondente de guerra, desde a primeira, no Afeganistão, nos anos 80.

"Conversar sobre guerras me pareceu muito distante da espiritualidade de seus livros, que uma vez ele descreveu como contos de fadas para adultos."

"Comecei a sentir que tínhamos trocado os papéis de entrevistador e entrevistado."

E-mails

Terminada a entrevista, Christina voltou a sua rotina. Ela estava no Afeganistão, meses depois, quando recebeu o primeiro e-mail de Coelho. Na mensagem, o escritor brasileiro dizia à jornalista que tinha gostado muito do livro que ela tinha acabado de lançar sobre o Afeganistão, The Sewing Circles of Herat.

"Ele tinha gostado tanto que incluiu meu livro na sua lista de 'Top 10' no site da maior livraria americana, a Barnes & Noble", contou ela no Sunday Times.

Os dois começaram a trocar e-mails. Ela, de lugares como Kandahar ou Kabul. Ele, de países como a França ou o Iêmen.

"Passei a ficar ansiosa para ouvir o aviso 'Você tem e-mail' na minha caixa de mensagens e encontrar um e-mail de Paulo Coelho", diz.

Até que em junho do ano passado, quando ela estava em Portugal, recebeu um e-mail do escritor com um arquivo muito pesado. Era o manuscrito em português do livro que ele tinha acabado de concluir, O Zahir.

"O personagem feminino foi inspirado em você", dizia a mensagem de Coelho, segundo Christina.

Surpresa

"Eu fiquei em parte surpresa, em parte lisonjeada, em parte alarmada. Ele não me conhecia. Como ele poderia ter baseado um personagem em mim? Eu me senti quase nua."

"Tremendo um pouco, baixei o arquivo de 304 páginas. Ao ler o manuscrito, reconheci coisas que tinha dito a ele, visões do meu mundo particular, além de preocupações que discuti no meu próprio livro", afirma.

O primeiro parágrafo começa: "Seu nome é Esther; ela é uma correspondente de guerra que acabou de voltar do Iraque por causa da iminente invasão do país. Ela tem 30 anos, casada, sem filhos."

No artigo, Christina escreve: "Pelo menos ele me fez mais jovem". E continua: "O narrador é o marido de Esther, claramente baseado no próprio Coelho, um compositor de sucesso que se tornou escritor".

Ela diz que ficou um pouco preocupada com a descrição que ele faz da forma como Esther e seu marido se conheceram. No livro, ele conta que uma jornalista vai entrevistá-lo. Os dois se encontram de novo em uma festa e ele consegue "levá-la para a cama na mesma noite". Ele se apaixona, mas ela não está interessada. Paulo Coelho escreve em O Zahir: "Quanto mais ela me rejeita, mais interessado eu fico".

A jornalista conta que ficou surpresa, e contou à mãe e ao marido. "Em vez de ficar envaidecido como eu, ele ficou desconfiado sobre o por quê de um outro homem estar escrevendo um livro sobre sua mulher", diz ela.

Então, Coelho escreveu-lhe um e-mail dizendo que estava vindo a Londres para receber um prêmio, e queria convidá-la para jantar. Eles foram ao Frontline Club.

Com o lançamento de O Zahir no Brasil, ela conta, jornalistas passaram a tentar descobrir quem seria a musa do novo livro de Paulo Coelho.

Muitas se candidataram, como a mulher do ex-presidente argentino Carlos Menem, Cecilia Bolocco, uma atriz italiana e uma estilista russa, que dizia ter tido um caso com Coelho. No artigo no Sunday Times, Christina conta que o escritor divulgou uma declaração afirmando não ser nenhuma delas.

Sua musa era uma correspondente de guerra britânica, que o tinha inspirado "com sua coragem e sensibilidade".

"Quando me acostumei com a idéia, decidi que gostava de ser uma musa", escreveu.

Ela termina o artigo lembrando que O Zahir só será lançado na Grã-Bretanha em junho, quando possivelmente já terá vendido 8 milhões de exemplares em 83 países, em 42 línguas.
 

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