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29/04/2005 - 09h54

Jane Fonda acerta as contas com o Vietnã em suas memórias

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Vamos acolher com simpatia as memórias de Jane Fonda: Barbarella, Hanói Jane ou eco-cristã, ela é uma genuína celebridade, mulher de beleza estonteante, inteligência considerável, talento artístico e, sem ironia, um ícone.

Jane Fonda esteve na encruzilhada de momentos históricos da cultura e política da segunda metade do século 20. Aos 67 anos, no que define como apenas o terceiro ato de sua vida, ela segue procurando o seu caminho.

Nada mais americano do que esta capacidade de reinvenção.

São memórias que soam espontâneas, num ritmo fluente e com texto relativamente decente. Viva Jane: os exemplares não estão mofando nas livrarias.

O livro é um merecido best-seller. Nenhuma surpresa. Afinal, o manual de ginástica que ela escreveu nos anos 80 ficou na lista do New York Times por dois anos e o vídeo que o acompanhava ainda é o mais vendido na história americana.

Aqui nós vamos passar ao largo da infância trágica, o suicídio da mãe, a frieza do pai, os maridos famosos e infiéis, o bom sexo, o mau sexo, a aeróbica, a bulimia, os Oscars e o encontro com Cristo.

A autora célebre diz que o livro significa o fim de uma relativa aposentadoria da vida pública. Deixa para lá. Em todo caso, este retorno fulgurante coincide com o trigésimo aniversário do fim da Guerra do Vietnã, um dos eventos que tornaram Jane Fonda Jane Fonda.

O seu ativismo contra o envolvimento americano na guerra gerou ódio em alguns setores da sociedade americana. Até hoje não há perdão, em meio a acusações de antipatriotismo e mesmo traição.

No livro, Jane Fonda tira de letra. Ela continua orgulhosa da sua oposição no Vietnã, mas consegue ver o contexto emocional, admitindo que, como em outras situações, embarcou na canoa do marido de plantão. Na época era Tom Hayden.

Jane Fonda, no entanto, assume erros e se desculpa por um episódio durante sua infame viagem a Hanói em 1972, quando permitiu que fosse fotografada sorrindo, cantando e batendo palmas ao lado de uma bateria antiaérea com soldados norte-vietnamitas.

Ela escreve nas memórias que "aqueles dois minutos de lapso de sanidade vão me assombrar até que eu morra". E vai mais longe na reflexão: "Eu percebo que não sou apenas uma cidadã americana rindo e batendo palmas numa bateria antiaérea vietnamita. Eu sou a filha privilegiada de Henry Fonda que parece estar esfregando o nariz no país que me ofereceu todos aqueles privilégios".

O ressentimento de alguns contra Jane Fonda é exacerbado. As chaves para explicar tanta animosidade são sexo e politica; Barbarella e Hanói Jane.

No livro, ela pega o caminho certo com a especulação de que a bronca existe por seu rompimento do papel de símbolo sexual em um período de vertiginosas transformações sócio-culturais.

Quem mais via delírios políticos em Hanói Jane mais vivia a fantasia sexual de Barbarella.

Jane Fonda renegociou as regras do jogo. Não precisamos jogar com ela. Apenas respeitá-la. Foi um ato e tanto.

My life so far
Jane Fonda
Random House, 600 páginas, US$26.95

Especial
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