Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
02/05/2005 - 18h53

Análise: Diplomacia dos EUA é flexível para evitar derrota na OEA

CAIO BLINDER
da BBC Brasil

Desde a fundação da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1948, um candidato apoiado pelos Estados Unidos sempre ganhou a eleição para o posto de secretário-geral da instituição.

A tradição se confirmou por caminhos tortuosos. A formalização do nome do ministro do Interior do Chile, o socialista José Miguel Insulza, nesta segunda-feira, reflete um consenso costurado durante a visita na semana passada da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, à América Latina, em particular nas escalas em Brasília e Santiago.

Pela primeira vez na história da OEA, Washington não conseguira impor o seu candidato.

Isto era um ritual, em particular nos tempos da Guerra Fria quando a OEA era um instrumento da política externa americana. Basta ver que entre seus 34 integrantes não está a Cuba de Fidel Castro.

Impasse

Os americanos primeiro tentaram vender o nome do ex-presidente direitista de El Salvador, Francisco Flores. Negativo.

Em seguida, o governo Bush se rearticulou em torno do nome de Luis Ernesto Derbez, ministro das Relações Exteriores do governo conservador do México, presidido por Vicente Fox. Deu impasse.

Derbez e o chileno Insulza, que tinha o apoio do Brasil e de outros governos esquerdistas do continente, empataram com 17 votos cada um em cinco votações.

Sem condições de impor seu candidato, Washington estimou que era melhor um acordo.

Peter Hakim, presidente do grupo Diálogo Inter-Americano, diz ser positivo que Condoleezza Rice tenha reconhecido, durante sua viagem à América Latina, que um voto dividido na OEA era prejudicial aos interesses americanos, entre outras coisas pelo papel que a entidade deve exercer em crises regionais como Equador e Haiti.

Além disso, a OEA, que nunca foi um modelo de eficiência, saiu muito desgastada com a renúncia do seu ex-secretário-geral, o ex-presidente da Costa Rica, Miguel Angel Rodriguez, acusado de corrupção em seu país.

Petróleo x votos

Não há como o governo Bush, porém, esconder o fato de que ele carece de um bom posicionamento estratégico no continente.

O candidato chileno inclusive era apoiado pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, uma crescente pedra no sapato norte-americano na América Latina.
Ao estilo típico da diplomacia dos EUA, Chávez ofereceu para pequenos países da América Central e Caribe farto petróleo barato em troca de votos para o chileno.

Insulza integra um dos governos esquerdistas mais pragmáticos da América Latina, e ele é muito próximo do presidente Ricardo Lagos.

Não quis obviamente considerar sua vitória como um fracasso da diplomacia americana.

Como parte de sua eleição consensual, Insulza acatou pontos fundamentais da agenda de Washington, como fortalecer a Carta Democrática da OEA, firmada em 2001.

O chileno concordou com um monitoramento do desempenho democrático da Venezuela --embora Condoleezza Rice tenha recebido recados explícitos durante sua visita à região sobre a necessidade de respeitar a soberania do país de Hugo Chávez--, assim como a promoção de democracia em Cuba.

O acordo na OEA reflete um novo dinamismo na diplomacia americana sob a batuta de Condoleezza Rice neste começo do segundo mandato do presidente George W. Bush.

O governo americano pode expressar obstinação extremada como no caso da controvertida indicação de John Bolton para ser o seu embaixador na ONU, mas é capaz de lances realistas de flexibilidade como no exemplo da eleição do secretário-geral da OEA, onde uma derrota diplomática acabou tendo sabor de vitória.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a OEA
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página