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06/05/2005 - 18h25

Análise: Blair deve adotar uma política externa menos agressiva

PAUL REYNOLDS
da BBC Brasil

O número mais baixo de votos que o Partido Trabalhista recebeu do eleitorado britânico, muito provavelmente por causa do envolvimento do Reino Unido no Iraque, significa que a política externa altamente intervencionista e ativista dos dois últimos mandatos de Blair pode estar com os dias contados.

Após o Iraque, o governo pode ter menos estômago para operações militares que não tenham apoio popular e parlamentar.

Isso representaria uma mudança. Nas guerras na Sérvia e no Iraque, Blair estava na vanguarda. Agora, a aliança entre Blair e o presidente americano George W. Bush deve ser enfraquecida.

A política externa americana seria, portanto, planejada com uma menor participação britânica.

Distância

Blair pagou um preço alto por seu apoio a Bush e, agora, mesmo sem reconhecer os erros do passado, ele deve concentrar suas energias em políticas que tenham um maior apoio popular.

Em um futuro imediato, ele vai usar a atual presidência do G-8 (grupo das nações mais industrializadas) e da UE (União Européia) para pressionar por mais ações contra a pobreza e as mudanças climáticas.

Um alerta, entretanto: se surgir uma nova crise internacional, como é normal, suas velhas tendências intervencionistas podem voltar à tona.

Pode então haver um conflito entre os velhos instintos de Blair e qualquer nova medida cautelosa que ele decida adotar.

E como Blair mesmo disse que não concorre nas próximas eleições, a (provável) promoção do ministro das Finanças Gordon Brown para o posto de primeiro-ministro significaria ainda mais mudanças e uma maior distância de Washington.

A seguir, alguns dos assuntos que devem fazer parte da agenda de Blair em seu terceiro mandato:

Tropas britânicas no Iraque. O atual mandato dos soldados estrangeiros no Iraque, de acordo com a resolução 1546 do Conselho de Segurança da ONU, acaba no final do ano quando um governo inteiramente constitucional deve estar em vigor, embora possa haver um atraso de até um ano se o processo constitucional não for para frente.

Blair deve concordar com um eventual pedido do governo iraquiano para manter as tropas britânicas no país.

Irã e Coréia do Norte: Uma crise deve acontecer no meio do ano por causa da insistência iraniana de desenvolver seu programa de enriquecimento de urânio, após as eleições no país em 17 de junho e o fim do prazo das discussões com França, Reino Unido e Alemanha sobre o tema.

Se as discussões não forem bem-sucedidas, os Estados Unidos devem levar o assunto ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e o governo britânico deve ser obrigado a tomar uma posição.

Os problemas com a Coréia do Norte são ainda piores. O país anunciou que já tem armas nucleares e é provável que isto torne os norte-coreanos ainda mais isolados.

Os instintos de Blair recomendariam uma posição mais dura, embora não necessariamente militar.

Durante a campanha, ele mencionou que o Iraque seria o lugar para se começar a impedir a disseminação das armas de destruição em massa. Seguindo o raciocínio, outros lugares também mereceriam atenção.

Mas o Reino Unido chegaria a apoiar um ataque americano ou israelense a instalações nucleares iranianas?

Armas nucleares: Ao mesmo tempo em que tenta impedir que Estados não nucleares adquiram esta capacidade, o governo britânico vai enfrentar nos próximos anos a decisão de substituir os submarinos nucleares Trident e mísseis balísticos nucleares.

Blair já se posicionou a favor disso. O governo também deve decidir se vai procurar assistência americana novamente ou francesa.

O Reino Unido também busca ativamente apoio internacional para um acordo global sobre armas convencionais.

Constituição Européia: Um dos assuntos tratados na campanha, a constituição deve voltar à pauta com a realização de um referendo sobre o documento, provavelmente na primeira metade do ano que vem.

O governo vai pressionar pelo "sim".

A França já votou pelo "não". O tratado assume que todos os Estados membros vão passar por processos de ratificação.

Pobreza mundial: Este tema foi trazido durante a campanha eleitoral, em parte para ofuscar o assunto Iraque.

O plano de Gordon Brown é vender parte das reservas de ouro do FMI (Fundo Monetário Internacional) para pagar a dívida de países pobres, especialmente na África.

O plano, entretanto, já foi amplamente rejeitado por outros países.

Brown espera que se chegue a um acordo no encontro do G-8 em julho.

Mudanças climáticas: Blair vai pedir que o setor da aviação seja incorporado no sistema de emissões de poluentes introduzido pela União Européia.

Blair também pediu por um maior diálogo com os EUA, não sobre Kyoto, já rejeitado pelos americanos, mas sobre meios alternativos de cooperação, especialmente para o desenvolvimento de tecnologia não poluente.

Embargo de armas à China: a União Européia adiou a decisão de acabar com o embargo de armas à China e substitui-lo por um Código de Conduta englobando a venda de armas em todo o mundo.

Os EUA são contra e o Reino Unido está em cima do muro, mas não pode ficar assim para sempre. Uma confrontação com a administração Bush pode acontecer.

Oriente Médio: A ênfase deve ser ajudar os palestinos a fazerem da retirada israelense da faixa de Gaza, marcada para agosto, um sucesso. Isso vai requerer apoio político e financeiro.

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