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09/05/2005 - 13h51

Política será tema secundário em cúpula árabe

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, no Cairo

A Cúpula América do Sul-Países Árabes, que acontece entre terça e quarta-feira em Brasília, deve se concentrar na promoção de negócios e na cooperação entre as duas regiões. As questões políticas do Oriente Médio devem ser deixadas em segundo plano.

"Não é necessariamente o nosso objetivo tratar de questões políticas da agenda internacional, como a questão palestina ou problemas que ocorrem na América do Sul", disse o diretor-geral do departamento de África do Itamaraty, Pedro Motta.

"A Declaração de Brasília, que vai ser adotada ao fim da reunião, vai incluir temas importantes da agenda internacional, que não podemos ignorar em um encontro desta dimensão. Mas o nosso objetivo é concentrar nossos esforços em aspectos de cooperação e de intensificação de comércio e investimentos", acrescentou.

Dos 34 países e nações participantes --22 árabes e 12 sul-americanos-- 16 devem enviar chefes de Estado ou de governo (oito árabes). Os demais serão representados por ministros e suas delegações.

Entre os convidados mais importantes devem estar os presidentes da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas; do Iraque, Jalal Talabani; da Venezuela, Hugo Chávez; e da Argentina, Néstor Kirchner. No entanto, importantes nações como Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Colômbia não vão mandar suas mais altas autoridades.

Leia também: Cúpula aposta em união de países em desenvolvimento

Comércio

No ano passado, o fluxo de comércio entre a América do Sul e o mundo árabe foi de cerca de US$ 10 bilhões. Só o Brasil respondeu por US$ 8 bilhões, com exportações e importações divididas praticamente em meio-a-meio.

No lado árabe há também muito interesse em desenvolver negócios com a América do Sul. No entanto, empresários admitem que ainda há problemas sérios a serem resolvidos antes que um grande número de companhias troque parceiros tradicionais na Europa e nos Estados Unidos por outros sul-americanos.

"O Brasil pode apresentar a América do Sul para o mundo árabes e os países árabes vão encontrar oportunidades de investimento e negócios. Há benefícios para os dois lados nesta aproximação", disse o diretor do departamento de América Latina da Liga Árabe, Ebrahim Mohie El-Din, que está em Brasília para participar do encontro.

Mohie El-Din diz que a idéia do encontro foi muito bem recebida por todos os países árabes, que já haviam aprovado a estratégia de aproximação com a América do Sul em reuniões de cúpula e ministeriais da Liga Árabe.

Sul-sul

Mas apesar de os dois lados deixarem as questões políticas em segundo plano, o tema aparece com mais força quando se trata de falar das relações sul-sul (entre países em desenvolvimento), uma das bases da política externa do governo Lula.

"Há desafios comuns para o desenvolvimento que as duas regiões enfrentam, e encontros como este são uma oportunidade de reforçar as relações sul-sul. Sei que sempre há grande grande apoio dos países da América do Sul às causas árabes na ONU e os países árabe também apoiaram as nações sul-americanas em diversas questões", disse Mohie El-Din.

O embaixador Pedro Motta lembra que a estratégia sul-sul vai bem além dos países árabes.

"Politicamente é importante lembrar que estamos trabalhando no contexto sul-sul, buscando oportunidades econômicas e comerciais, mas também políticas. Isso vale para a América do Sul, para a África e para a Ásia", disse.

A reunião também deve servir para que os chefes de Estado e ministros presentes promovam encontros bilaterais que, muitas vezes, acabam tendo tanta importância quanto a cúpula em si. O palestino Mahmoud Abbas vai também aproveitar a passagem pela região para uma vista ao Chile na quinta-feira, dia seguinte ao encontro.

Dificuldades

A identificação histórica entre as duas regiões --da presença árabe na península ibérica à onda de imigração árabe para a América do Sul no fim do século 19 e início do século 20-- está sempre nos discursos de autoridades dos dois lados do mundo. Mas há muito tempo as relações andam estagnadas, com algumas poucas exceções, como os negócios com petróleo.

O comércio tem aumentado nos últimos anos mas um desenvolvimento mais significativo pode acabar sendo bloqueado pelos gargalos que dificultam o contato entre as duas regiões.

O empresário egípcio Magdy Tolba diz que o mais grave deles é o transporte. "Não há navios ligando diretamente o Oriente Médio à América do Sul. Qualquer carga para fazer este caminho tem que passar pela Europa", diz.

"Uma viagem como essa provoca um demora de 45 a 60 dias, o que dificulta muito os negócios", disse o empresário.

Apesar dos problemas, Tolba diz que está muito animado com as perspectivas de negócios com a América do Sul e com o Brasil em especial. Atualmente, o empresário já importa autopeças brasileiras e agora quer exportar tecidos e roupas.

"O Brasil já importa muito tecido e quase tudo da China e da Índia. Podemos também oferecer estes produtos com qualidade", diz.

Integração

A subsecretária de política do Itamaraty, embaixadora Vera Pedrosa, observa que o envolvimento de toda a América do Sul no processo pode ajudar a resolver parte desses problemas.

"A visão [do presidente Lula] é de que os benefícios da aproximação com o mundo árabe deveriam se ampliar para toda a América do Sul. Se isso acontecer, há uma facilitação das comunicações e transportes benéfica para todos", disse.

Outros problemas nas negociações com diversos dos países árabes são a instabilidade política, a burocracia e a corrupção.

"Nós reconhecemos que há dificuldades, das quais o Brasil ou os países sul-americanos também não estão livres. Temos também problemas de corrupção e de burocracia e acho que este projeto é conjunto no qual todos nós podemos trabalhar", disse.

No caso das instabilidades políticas, o Brasil diz que segue o seu princípio de não intervenção.

"Sabemos que há fragilidades institucionais em países árabes como também em nações da América do Sul. Nós trabalhamos com cada país de acordo com sua realidade e seguimos a doutrina brasileira de não interferência em temas domésticos de outros países."

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