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17/05/2005 - 12h40

Análise: Referendo sobre UE põe em jogo modelo social francês

GIANNI CARTA
da BBC, em Paris

A menos de duas semanas do referendo sobre a Constituição européia, a França permanece dividida.

Para os franceses, em jogo está seu próprio modelo econômico e social, num mercado europeu cada vez mais próximo do anglo-saxão.

Para a Europa, uma rejeição da Constituição na França, no próximo dia 29 de maio, postergaria outro alargamento da União Européia, previsto para 2007.

Pior: mergulharia a União Européia (UE) numa profunda crise.
Uma crise contornável, em parte através de tentativas da inserção, em outros tratados, de medidas propostas no atual documento.

Mas a UE, que busca maior governabilidade, continuaria sem Constituição.

Repercussões

Para ser adotada, a Constituição tem de ser ratificada por cada um dos 25 países da UE. O que poderá ser feito, até novembro de 2006, via referendo ou votação nos Parlamentos nacionais.

O resultado, na França, é primordial para o futuro da Constituição, já que este é um dos seis países fundadores do bloco. E, ao lado da Alemanha, onde na semana passada o documento foi aprovado na Câmara Baixa do Parlamento, o Bundestag, a França tem sido uma das locomotivas da UE.

Uma vitória do non ("não" em francês) --ou do oui ("sim")-- na França repercutiria, três dias mais tarde, no referendo na Holanda, outro país fundador da UE.

Por sua vez, o primeiro-ministro britânico Tony Blair declarou à rede de TV Sky News que, se os franceses disserem "não" à Constituição, o referendo no Reino Unido não será mais realizado.

Até agora, sete países ratificaram a Constituição através de seus Parlamentos. Apenas a Espanha a aprovou via referendo, em fevereiro passado.

Na Alemanha, o resultado no Bundestag será certamente ratificado pelo Senado, o Bundesrat, em 27 de maio, dois dias antes do referendo na França.

Mas a aprovação dos parlamentares alemães dificilmente terá algum impacto no eleitorado francês. Isso, em parte, se deve ao fato de que na Alemanha quem dá seu parecer sobre a Constituição são os parlamentares, e não o povo.

Pesquisas

Além disso, o povo francês é volátil. Se em março as enquetes de intenção de votos indicavam que o documento seria rejeitado por uma pequena margem, o país agora está dividido.

E uma enquete realizada pela CSA deu a vitória ao "sim" por 51% a 49%.
Talvez um dos motivos que tenha feito o pêndulo eleitoral oscilar para o lado do "sim" tenha sido a entrada em cena de celebridades como o ator Gérard Depardieu, a atriz Jeanne Moureau e o roqueiro Johnny Hallyday.

Por sua vez, o presidente francês Jacques Chirac dobrou seus esforços. Em duas recentes aparições televisivas tentou explicar o documento recheado de ambigüidades, que a maioria do povo não leu ou não entende, segundo enquetes.

As reformas econômicas, martelou Chirac, continuariam tendo de ser aprovadas no Parlamento Europeu.
Pelo "não"

É o que diz François Hollande, o Secretário-Geral do Partido Socialista (PS). Mas o número 2 do PS, o ex-ministro das Finanças Laurent Fabius, faz campanha contra a Constituição Européia.

Seguem a linha de Fabius outros políticos de centro-direita, a extrema direita de Jean-Marie Le Pen, o Partido Comunista e vários sindicatos.

Os partidários do "não" temem que uma maior liberalização da economia destruiria sua generosa Previdência Social.
E a questão principal é a do desemprego crônico, de 10%. O qual, argumentam, só pode piorar com chegada de mão-de-obra barata de cidadãos de outros países do Leste Europeu, a partir de 2007.

Também assusta a perspectiva de que empresas francesas poderiam mudar suas sedes para países como a Romênia.
Outra questão sensível é a Turquia, que também bate à porta da UE. Esse país de população muçulmana não é bem-vindo pela maioria na França e na Holanda. Motivo: acabaria com a "identidade cristã" da UE.

Um terço dos franceses, segundo enquetes, continua sem saber como votará no dia 29. É esse segmento que decidirá se a Europa terá sua Constituição.
 

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