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19/05/2005 - 08h13

Análise: Prisão de dissidente cubano expõe dilemas de Bush

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

O cubano anticastrista Luis Posada Carriles há décadas caminha em um terreno minado. É ele um terrorista ou um combatente da liberdade?

Para o governo Bush não há dúvida que Posada Carriles, detido terça-feira pelas autoridades de imigração, é carga explosiva e pesada. Suspeito, entre outras coisas, de envolvimento no atentado de 1976 contra um avião de passageiros cubano que provocou a morte de 73 pessoas, ele deu as caras (e ilegalmente) em Miami na pior hora possível.

Afinal, o que fazer quando há uma colisão de prioridades? Uma é a guerra contra o terror (supostamente de qualquer gênero, apesar das dificuldades para defini-lo). A outra é o vínculo supostamente inquebrantável do presidente Bush e de seu irmão Jeb, governador da Flórida, com a comunidade anticastrista no Estado.

Em meio aos dilemas políticos e morais, há três opções legais: extraditar Posada Carriles para a Venezuela, onde ele é procurado pelo atentado de 1976 contra o avião que fazia a rota Caracas-Havana; enviá-lo para um terceiro país disposto a recebê-lo; ou permitir que ele fique no país, uma prática que privilegia cubanos, ao contrário de refugiados de tantos outros povos.

Fidel e Chávez

O incidente deu munição para Fidel Castro e o presidente venezuelano Hugo Chávez - os grandes adversários dos EUA na América Latina - baterem na tecla de hipocrisia do governo Bush na luta contra o terror.

O ex-diplomata Wayne Smith, um dos maiores especialistas em Cuba nos EUA, ressalta que Washington vai perder credibilidade se Posada Carriles permanecer no país. Mas os irmãos Bush podem perder pontos na Flórida se ele partir.

É verdade que há sinais que o incidente de agora não está provocando na comunidade cubana da Flórida a mesma comoção que marcou a batalha da custódia do garoto Elian González há cinco anos, que acabou retornando para Cuba.

Damian Fernandez, professor da Universidade Internacional da Flórida, lembra que o caso atual carece de "certeza moral" devido ao passado militante de Posada Carriles (terrorista ou combatente da liberdade?).

Armadilha

De qualquer forma, os dilemas do governo Bush comprovam como a inflexível política para Cuba é uma armadilha.

Fidel Castro, de 78 anos, e Posada Carriles, de 77, são relíquias de um período em que uma pequena ilha no Caribe era um foco nevrálgico da Guerra Fria. A grande Washington até hoje é refém da "Little Havana" de Miami.

A Casa Branca não negocia uma transição com Fidel Castro. O governo Bush está convencido que a morte do veterano dirigente está mais próxima do que nunca (o que foi por ele ridicularizado na segunda-feira passada quando surgiram os periódicos rumores em Miami sobre o agravamento do seu estado de saúde).

Mais do que isso, Bush é o presidente mais agressivo desde John Kennedy para tentar acabar com o regime de Fidel.

Não há indicações de operações militares (o Pentágono já está suficientemente ocupado no Oriente), mas estão sendo feitos investimentos de dezenas de milhões de dólares como parte de uma estrátégia para minar o regime cubano nos próximos dois anos. Inclui assistência a dissidentes e guerra de propaganda.

"Iraque 2"

A avaliação geral no mundo acadêmico americano é de que não haverá mudanças radicais em Cuba antes da morte de Fidel.

O governo Bush se prepara ativamente para um cenário pós-Castro e pretende na seqüência assumir um papel profundo no país. Há planos de supervisão de detalhes como a desregulamentação dos preços de energia, treinamento de guardas florestais e até imunização de crianças.

Acidamente, Wayne Smith diz que se trata de "Iraque 2".

Um recente relatório da Rand Corporation traça um quadro pouco animador. Ressalta que após a morte de Fidel, o país irá alcançar uma encruzilhada. Um regime posterior que tente manter seus pilares irá desmoronar.

Mas para a Rand, a ascensão de um governo democrático "é uma possibilidade remota", pois a sociedade civil é muito embrionária. Com o vácuo, a maior probabilidade é que os militares assumam o controle.

James Cason, o principal diplomata americano em Cuba, também adverte contra as expectativas otimistas. Em uma conferência na Flórida no final do ano passado, ele concluiu que "irá levar pelo menos uma geração para se adquirir os hábitos de uma democracia na ilha".

Cuba será um fardo pesado na política americana por um longo tempo.
 

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