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30/05/2005
-
07h52
da BBC Brasil, em Nova York
A batalha pela confirmação de John Bolton como embaixador dos EUA nas Nações Unidas se arrasta no Senado desde abril. Nenhuma indicação da Casa Branca para o alto escalão gerou tantas controvérsias.
Senadores da minoria democrata secundados por alguns republicanos denunciam que, por seu estilo truculento e propensão para ajustar dados de inteligência à sua agenda ideológica conservadora, Bolton não é o diplomata ideal para representar o país no cenário internacional justamente quando o antiamericanismo está em voga.
A Casa Branca rebate que é na verdade a postura combativa de Bolton que o torna sob medida para pressionar por reformas na ONU.
O fogo cruzado e os ânimos exaltados ofuscam um ponto de consenso: a relevância das Nações Unidas para a diplomacia americana. A própria ferocidade da batalha em torno de Bolton evidencia o quanto está em jogo.
Nenhuma surpresa aqui no caso dos democratas. Além do oportunismo que é usar alguém tão controvertido como Bolton para tentar obstruir as iniciativas do governo Bush, os senadores democratas de fato prezam a ONU e por isso insistem que os interesses da política externa americana serão prejudicados caso seja confirmado o nome indicado pela Casa Branca.
Embora sem a virulência de alguns setores republicanos, os democratas reconhecem que a implantação de reformas é urgente nas Nações Unidas para torná-la mais eficiente e transparente, mas argumentam que isso não será possível com o bulldozer Bolton.
Internacionalistas
Entre os republicanos, existem alas que nunca expressaram dúvidas sobre a relevância da ONU, apesar de queixas sobre os seus descaminhos.
Esses setores, normalmente conhecidos como internacionalistas, integram um establishment bipartidário nos EUA para o qual os interesses do país são bem servidos por um ativo engajamento em órgãos multilaterais como ONU, Otan ou FMI-Banco Mundial.
São setores em baixa no partido (basta ver o destino de Colin Powell), mas ainda com capacidade de combate como mostra a mobilização de senadores moderados que questionam as credenciais de Bolton.
Uma rápida e irônica lição de história. Um consagrado internacionalista no Partido Republicano chama-se George Bush, o ex-presidente que é pai do atual. No seu extenso currículo de servidor público consta o cargo de embaixador dos EUA na ONU entre 1971 e 73.
Na brincadeira, Madeleine Albright, a ex-secretária de Estado democrata e que também foi embaixadora na ONU, disse que a Casa Branca resolveria o impasse sobre o seu representante nas Nações Unidas se indicasse o ex-presidente Bush para reassumir o cargo.
Mas o compromisso da Casa Branca com a ONU tampouco deve ser descartado, apesar do pendor unilateralista que marca o governo Bush desde o começo.
Pendor não é o mesmo que profissão de fé. Neste segundo mandato, o presidente republicano foi à luta para colocar falcões notórios em ninhos multilateralistas como a ONU (Bolton) e Banco Mundial (Paul Wolfowitz).
Existem alterações táticas na grande estratégia. Guerra permanente é impossível e uma pedra-de-toque é uma diplomacia muscular para aprofundar a "pax americana", ou seja, a promoção de liberdade econômica e democracia política nos parâmetros estabelecidos pelo governo republicano.
Em uma entrevista ao jornal "The Washington Post" em abril, o todo-poderoso vice-presidente Dick Cheney deixou claro que a Casa Branca não tem nada contra o multilateralismo em si. A prática vale quando oferece resultados aos interesses americanos.
É o chamado multilateralismo à la carte. Bush espera que venha a ser servido muito em breve nas Nações Unidas por John Bolton.
Análise: Batalha sobre Bolton mostra relevância da ONU para os EUA
CAIO BLINDERda BBC Brasil, em Nova York
A batalha pela confirmação de John Bolton como embaixador dos EUA nas Nações Unidas se arrasta no Senado desde abril. Nenhuma indicação da Casa Branca para o alto escalão gerou tantas controvérsias.
Senadores da minoria democrata secundados por alguns republicanos denunciam que, por seu estilo truculento e propensão para ajustar dados de inteligência à sua agenda ideológica conservadora, Bolton não é o diplomata ideal para representar o país no cenário internacional justamente quando o antiamericanismo está em voga.
A Casa Branca rebate que é na verdade a postura combativa de Bolton que o torna sob medida para pressionar por reformas na ONU.
O fogo cruzado e os ânimos exaltados ofuscam um ponto de consenso: a relevância das Nações Unidas para a diplomacia americana. A própria ferocidade da batalha em torno de Bolton evidencia o quanto está em jogo.
Nenhuma surpresa aqui no caso dos democratas. Além do oportunismo que é usar alguém tão controvertido como Bolton para tentar obstruir as iniciativas do governo Bush, os senadores democratas de fato prezam a ONU e por isso insistem que os interesses da política externa americana serão prejudicados caso seja confirmado o nome indicado pela Casa Branca.
Embora sem a virulência de alguns setores republicanos, os democratas reconhecem que a implantação de reformas é urgente nas Nações Unidas para torná-la mais eficiente e transparente, mas argumentam que isso não será possível com o bulldozer Bolton.
Internacionalistas
Entre os republicanos, existem alas que nunca expressaram dúvidas sobre a relevância da ONU, apesar de queixas sobre os seus descaminhos.
Esses setores, normalmente conhecidos como internacionalistas, integram um establishment bipartidário nos EUA para o qual os interesses do país são bem servidos por um ativo engajamento em órgãos multilaterais como ONU, Otan ou FMI-Banco Mundial.
São setores em baixa no partido (basta ver o destino de Colin Powell), mas ainda com capacidade de combate como mostra a mobilização de senadores moderados que questionam as credenciais de Bolton.
Uma rápida e irônica lição de história. Um consagrado internacionalista no Partido Republicano chama-se George Bush, o ex-presidente que é pai do atual. No seu extenso currículo de servidor público consta o cargo de embaixador dos EUA na ONU entre 1971 e 73.
Na brincadeira, Madeleine Albright, a ex-secretária de Estado democrata e que também foi embaixadora na ONU, disse que a Casa Branca resolveria o impasse sobre o seu representante nas Nações Unidas se indicasse o ex-presidente Bush para reassumir o cargo.
Mas o compromisso da Casa Branca com a ONU tampouco deve ser descartado, apesar do pendor unilateralista que marca o governo Bush desde o começo.
Pendor não é o mesmo que profissão de fé. Neste segundo mandato, o presidente republicano foi à luta para colocar falcões notórios em ninhos multilateralistas como a ONU (Bolton) e Banco Mundial (Paul Wolfowitz).
Existem alterações táticas na grande estratégia. Guerra permanente é impossível e uma pedra-de-toque é uma diplomacia muscular para aprofundar a "pax americana", ou seja, a promoção de liberdade econômica e democracia política nos parâmetros estabelecidos pelo governo republicano.
Em uma entrevista ao jornal "The Washington Post" em abril, o todo-poderoso vice-presidente Dick Cheney deixou claro que a Casa Branca não tem nada contra o multilateralismo em si. A prática vale quando oferece resultados aos interesses americanos.
É o chamado multilateralismo à la carte. Bush espera que venha a ser servido muito em breve nas Nações Unidas por John Bolton.
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