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10/06/2005 - 13h33

Índios Xavante mostram rituais em festival em Veneza

GUILHERME AQUINO
da BBC Brasil, em Veneza

Índios Xavante brasileiros foram destaque no Festival Internacional de Dança de Veneza - parte da Bienal de Veneza, um dos mais prestigiados eventos de cultura no mundo -, apresentando pela primeira vez seus rituais tribais na Itália.

Durante 1h20 na quarta-feira e na quinta-feira, os Xavante da tribo Etenhiritipá, de Mato Grosso, mostraram danças e cânticos de antigos rituais.

Segundo o líder dos índios, Paulo Francisco Supretaprã, os rituais foram ensaiados durante três meses para a apresentação no festival, organizado pelo brasileiro Ismael Ivo.

Supretaprã disse que os Xavante se sentiram em casa porque, apesar do frio e da distância das reservas onde vivem, ninguém em Veneza, segundo ele, os olhou "com jeito curioso".

"Aqui nós somos muito mais respeitados pelos estrangeiros do que pelos brasileiros", disse.

"Canseira"

Clique aqui para ver fotos do espetáculo.

"Esses rituais que mostramos aqui são a nossa tradição mesmo. Essas danças dão uma canseira danada", explicou Supretaprã.

O encontro entre o povo da floresta e o das águas de Veneza aconteceu nas Gaggiandre, um espaço ao ar livre às margens de um dos canais da famosa cidade italiana.

As 15 principais cerimônias foram "condensadas" em dois atos, com a "troca de roupa" em cena aberta.

Os guerreiros Xavante entraram em cena em silêncio, saindo por trás das seculares colunas de pedra do velho Arsenale e ocuparam um tatame circular coberto de terra e grama, com uma fogueira acesa no meio.

O único som vinha do bater seco dos pés no chão e do chocalho preso nas pernas.

Espelhos e pentes

Descalços e com a pele pintada de preto do urucum e do carvão, e do vermelho de jenipapo, eles traziam o corpo adornado por objetos típicos como braceletes,
máscaras e cocares. E, com a ajuda de instrumentos de sopro e de percussão indígenas, os Xavante entoaram as canções na língua original A'uwê, do tronco Macro Jê.

Ela é apenas falada por cinco grupos e é a única conhecida da maioria dos 30 índios presentes em Veneza.

De mãos e braços dados, eles rodavam ao redor do fogo, gritando e cantando a trilha sonora dos ritos de passagem aos quais são submetidos os jovens e os adultos da tribo.

Respectivamente, elas indicam a preparação da pintura dos padrinhos, os cantos deles para os afilhados e os pedidos à natureza de garantia de uma futura e fértil a colheita. Os índios Xavante também apresentaram o Wai'a, o canto de cura.

Os índios mudavam os ornamentos e a pintura dos corpos - de desenhos abstratos à representação de animais da floresta -, exatamente como fazem nas tabas, com algumas adaptações ocidentais. Uma delas, por exemplo, é o uso
de espelhos e pentes de plástico para arrumar mais rapidamente os cabelos e criar o novo penteado amarrado com fios de buriti e penas de pássaros.

Para contrabalançar, eles não escondiam o uso da saliva para molhar e espalhar melhor o uso das tintas naturais no rosto e no resto do corpo, um costume exótico aos olhos do público.

Short de nylon

O uso de shorts de nylon vermelho e preto no lugar de tangas e folhas para se cobrir causou estranhamento na platéia.

"Eu espera que eles estivessem nus ou de tanga, como se via nos filmes. Reconheço que é uma visão romântica", disse a italiana Manuela Trione.

"Até na África já usam bermudas e camisetas, mas isso não compromete o valor do espetáculo. Ao contrário, (o uso dessas roupas) deve ser um elemento de protesto contra a invasão dos brancos", analisou.

Outra diferença entre as celebrações originais e a versão trazida para Veneza foi no tempo de duração. Na tribo elas continuam por até três meses.

Os Xavante voltam ao Brasil neste sábado, não antes de admirar os antigos palácios, igrejas e praças da velha "Repubblica Marinaia" e de passear de gôndola em Veneza.
 

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