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13/06/2005 - 13h13

Análise: Crise na Bolívia reforça hostilidade EUA-Venezuela

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

A crise na Bolívia se converteu em um campo de manobras ideal para o reforço das hostilidades mútuas entre os Estados Unidos e a Venezuela. Existe uma profunda suspeita em Washington em relação ao líder esquerdista boliviano Evo Morales, cujos seguidores forçaram a renúncia do presidente Carlos Mesa na segunda-feira passada (6).

Para o governo Bush, uma possível vitória de Morales em eleições que serão convocadas pelo presidente interino Eduardo Rodríguez será uma nova prova de que o receituário populista e de antiamericanismo do presidente venezuelano Hugo Chávez ganha ímpeto no continente e, em consequência, diminui a influência de governos esquerdistas com uma política econômica pragmática, como é o caso do Brasil do presidente Lula.

A instabilidade na Bolívia tem duradouros componentes domésticos, mas para os formuladores de política latino-americana no Departamento de Estado não há dúvida que Hugo Chávez é uma grande fonte de inspiração [e apoio] nas mobilizações de setores esquerdistas e indígenas bolivianos e também nas reivindicações pela nacionalização de recursos naturais.

Na reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), realizada na semana passada em Fort Lauderdale, na Flórida, a diplomacia americana fracassou no seu propósito para formalizar mecanismos de fiscalização democrática no continente, tendo a Venezuela como alvo preferencial, mas o encontro foi mais uma oportunidade para denunciar Chávez.

Troco de Chávez

Roger Noriega, o subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, afirmou ser "óbvio" o papel desestabilizador do presidente venezuelano na crise boliviana. O troco veio rápido, por meio do próprio Chávez.

No domingo (12), ele também carregou na retórica e atribuiu a crise na Bolívia ao "remédio envenenado" da política de livre mercado que Washington quer impor na América Latina.

Noriega e Otto Reich, seu antecessor no cargo e eminência parda da política de Bush para o hemisfério, forjaram sua visão de mundo com as lentes do anticastrismo e da contra-insurgência na América Central nos anos 70 e 80.

As turbulências na região andina [e aqui é preciso incluir a o quadro de precariedade no Equador e a narcoguerrilha na Colômbia] são consideradas uma nova etapa de desafios aos interesses americanos no continente.

Não é uma visão de mundo completamente imaginária, pois Chávez assumiu com gosto o papel histórico e as ambições de Fidel Castro.

E não custa lembrar que Ernesto "Che" Guevara escolheu a Bolívia em 1967 para ser o "foco" da revolução continental. Deu em delírio político e na morte do ícone da esquerda armada romântica.

Vozes fora do governo Bush alertam contra os argumentos de Noriega e Reich a favor de um ativo engajamento americano na região andina para impedir o alastramento do receituário de Chávez.

Decanos acadêmicos, como William LeoGrande, da American University, em Washington, advertem que, no caso da Bolívia, o envolvimento americano será interpretado como apoio a empresas estrangeiras que exploram gás e também às elites tradicionais.

Já em um editorial no domingo (12), o jornal "The Miami Herald" advertiu que o governo Bush "deve resistir à tentação" de culpar Chávez pelos problemas da Bolívia e buscar a cooperação de líderes pragmáticos na América Latina como Lula para impedir o alastramento do "vírus populista" no continente.

No geral, o caos na Bolívia é visto nos Estados Unidos como um revés para esta corrente esquerdista pragmática. O "The Wall Street Journal" avalia que talvez seja tarde para o governo brasileiro exercer um papel moderador na Bolívia quando ele atravessa sua "própria crise de legitimidade".

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