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15/06/2005 - 14h32

Arábicas: Qual é o líquido mais valioso do Oriente Médio?

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, no Cairo

Qual o líquido que está por trás dos grandes conflitos do Oriente Médio?

Petróleo pode ser uma das respostas certas, mas não é com certeza a única.

A briga pela água fica bem mais longe da mídia do que as disputas pelo "ouro negro", mas está na raiz de grande parte dos problemas enfrentados no Oriente Médio.

No conflito entre palestinos e israelenses, por exemplo, a disputa sobre uso da água acumulada em imensos lençóis no subsolo da Cisjordânia fica escondida debaixo das discussões sobre fronteiras e refugiados, mas é a que mais afeta o dia-a-dia das populações envolvidas.

Falhas

Até a guerra de 1967, os palestinos usavam essa água à vontade, mas depois da ocupação o recurso passou a ser controlado pelos militares israelenses.

Atualmente, cerca de 25% da água utilizada em Israel é captada nestas fontes em territórios ocupados.

As autoridades israelenses "dizem que a rede de distribuição de água melhorou desde 1967 e que agora os palestinos recebem 20% mais água do que recebiam em 1967. E que, se a água não basta é culpa de falhas na administração dos próprios palestinos", escreve o pesquisador belga Stefan Deconinck em seu livro A Água no Conflito Palestino-Israelense.

"Por sua vez, as autoridades palestinas dizem que, na prática, houve uma redução na disponibilidade de água per capita desde 1967, porque no período a população aumentou 84%."

Também faz parte do conflito entre árabes e israelenses o uso da água na bacia do Rio Jordão, que inclui Israel, Síria, Jordânia e os territórios palestinos.

Desde os anos 50, já houve diversas tentativas de criação de um regime internacional para disciplinar o uso das águas do Jordão, sem sucesso.

Acordo

Os rios Tigre e Eufrates --no meio dos quais nasceu a Mesopotâmia, uma das grandes civilizações da história-- são fonte de intermináveis conflitos envolvendo a Turquia, a Síria e o Iraque.

"Na falta de um acordo entre todos os países (da bacia do Tigre e do Eufrates) determinando como cada um vai usar as águas dos rios, a Turquia, como o Estado mais forte da região e dono das nascentes, pode tirar o que quiser dos rios, enquanto a Síria e o Iraque têm que sofrer as conseqüências. Em diversas ocasiões o fluxo de água chegando a esses dois países diminuiu consideravelmente, provocando grandes reclamações", diz a pesquisadora Miriam Lowi em um artigo sobre o assunto.

A Síria é acusada de ter auxiliado no financiamento e nas operações dos separatistas curdos, em cujo território estão as nascentes desses rios.

Os sírios teriam interesse em dificultar projetos hídricos em território turco que reduzem o fluxo de água para seu próprio país.

No fim das contas, os turcos acabaram vencendo os rebeldes curdos exatamente através de projetos nos rios --como usinas hidrelétricas-- que contentaram a população e provocaram a temida redução do fluxo de água para a Síria.

Relações

O uso da água da bacia do Tigre e Eufrates também já teve impactos nas relações entre a Síria e o Iraque, que está ainda mais abaixo no curso do rio.

As diferenças entre os dois países só foram relativamente amenizadas depois da primeira Guerra do Golfo, quando a inimizade em comum com os Estados Unidos os colocou no mesmo campo.

Outro bom exemplo é a disputa pela Fazenda Shaba, no sul do Líbano.

Trata-se de uma faixa de terra com 14 quilômetros de extensão por 2 quilômetros de largura, onde "a água brota naturalmente das paredes de pedra", como me disse um impressionado libanês que visitou a área.

O local está ocupado pelos israelenses, que dizem que o território lhes pertence.

Mas mesmo entre árabes a região é disputada: Síria e Líbano alegam que a Fazenda Shaba faz parte de seu território histórico.

No Ocidente, bem mais rico em água do que o desértico Oriente Médio, estas questões chamam pouco a atenção e é o petróleo a principal motivação para que europeus e americanos se envolvam no conflitos da região.

Mas para quem vive por aqui, a questão da água é, no mínimo, tão importante quanto.
 

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