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17/06/2005 - 06h10

Incomum mercado

da BBC Brasil

Eu vivo num mercado comum. Que eu digo e escrevo com minúsculas. São 25 países. Acho.

Tudo que é a respeito do mercado comum me é impreciso e às vezes sou capaz de jurar que tudo não passa de uma grande burla para enganar

Para enganar nem sei quem, tamanha é minha ignorância, minha incapacidade de viver não digo "num" mas mesmo nas cercanias de um mercado comum.

Entendo mais de feira. Me lembro das feiras do Rio. De seus odores, de seus restos, de pobre catando o que se chamava de xepa. Ainda há xepa?

Os pobres ainda catam xepa? Vou mais longe: ainda há feira? Esse meu esquecimento, ou falta de contato com a atualidade brasileira, é menos culpa de nosso bravio jornalismo do que a poção mágica e enganadora do raio do mercado comum.

Aqui só se fala em mercado comum. Ou melhor, pelo seu nome mais formal, nome de terno e gravatinha, em maiúsculas: Comunidade Européia.

Como Comunidade? Pois não se trata da mesma gente e dos mesmo países de ainda ontem mesmo? França, Alemanha, Itália, Portugal e outros que agora, por irritação, não mencionarei.

Lembro --eu que não faço outra coisa na vida a não ser lembrar-- lembro de quando a gente deixava o Reino Unido para um fim-de-semana prolongado. ou umas férias em Paris ou Lisboa, e era passar no banco antes para pegar as moedas correntes de uma ou outra cidade: eram aquelas notas enormes francesas crivadas de Napoleão em suas mais diversas poses, ou os simpáticos escudos com navegadores barbudos e naus bravias.

Era bom botar aquilo tudo junto com o passaporte e, de vez em quando, dar uma espiada na dinheirama gringa. Pegue um euro. Francês, português, italiano. De uma sem graceza infinita. Um dinheiro que, jogando Monopólio, uma pessoa sensata recusaria.

Depois esses referendos todos.

Os franceses tendo que dizer ou "oui" ou "non" a uma constituição européia.

Como se o "talvez" não fosse a mais precisa expressão de seu mais profundo ser.

Até os holandeses, que não se incomodam com o uso da maconha, outro dia mesmo tiveram de dizer "sim" ou "não" a uma dessas bobagens constitucionais.

Eu nunca li mais de duas linhas sobre a Comunidade Européia. Nada entendo dela.

Só sei que, como tudo mais que é do homem, não funciona. Minto. Aquelas feiras antigas funcionavam.
 

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