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17/06/2005 - 17h50

Queda-de-braço entre Blair e Chirac pode rachar a UE

GIANNI CARTA
da BBC Brasil, em Paris

A queda-de-braço entre o presidente francê,s Jacques Chirac, e o premiê britânico, Tony Blair, poderá agrupar a União Européia (UE) em dois blocos.

E, de lideranças, esta desnorteada Europa precisa mais do que nunca.

Isso ficou claro, nesta semana, no encontro de cúpula da União UE, em Bruxelas. A Constituição Européia foi "congelada" --quem sabe "enterrada". E o novo orçamento, para o período 2007-2013, aumentou as fissuras entre os 25 países membros do bloco.

De um lado, Chirac encarnaria a chamada "Velha Europa", onde o Estado do bem-estar social deveria prevalecer sobre uma economia de mercado.

Do outro, Blair pilotaria uma "Nova Europa", na qual reformas econômicas seriam necessárias, às vezes em detrimento do bem-estar social.

Blair, cujo país assumirá, em julho, a presidência rotativa de seis meses da UE, está levando a melhor. Embora tenha vencido por uma pequena margem as recentes legislativas, o primeiro-ministro britânico é o político com maior credibilidade na Europa.

Afinal, numa época em que chefes europeus de Estado são punidos por um mar de razões, o Partido Trabalhista de Blair venceu pela terceira vez consecutiva.

Impopular

Por sua vez, Chirac sagrou-se o presidente mais impopular desde o início da era de pesquisas, segundo as próprias sondagens. Prova de sua baixa popularidade foi o retumbante "não" que 55% dos franceses disseram à Constituição Européia, no referendo no final de maio.

O exemplo francês encorajou um comparecimento maior do que previsto às urnas na já eurocética Holanda, onde 62% rejeitaram o documento. Para ser aprovada, a Constituição teria de ser ratificada por cada um dos 25 países da UE.

Chirac, há dez anos presidente da França, era, como todos os líderes da UE, favorável à Carta.

Sua derrota no referendo francês deu maior confiança para Blair num palco europeu, até agora dominado pela França e Alemanha. Isso ficou claro em Bruxelas, no encontro de cúpula desta semana.

De saída, o primeiro-ministro britânico --certamente aliviado porque graças aos resultados na França e Holanda pôde cancelar o referendo sobre a Constituição no eurocético Reino Unido-- martelou que esse será um período de ''reflexão'', para a UE.

Em seguida, Blair voltou a insistir que só renegociaria cortes no reembolso britânico anual se a França estivesse disposta a reformular outro assunto contencioso: a Política Agrícola Comum (PAC).

Trocando em miúdos, Blair quer dizer que o reembolso é consequencia da PAC.

O reembolso britânico, ou seja, um cheque entregue ao Reino Unido pela UE que corresponde a uma redução anual da contribuição britânica ao orçamento europeu, remonta a 1984.

Baseia-se no seguinte princípio: se o Reino Unido, após a Alemanha, é o segundo maior contribuinte da UE, e ao mesmo tempo um dos maiores importadores do bloco, particularmente na área alimentar, deve, por tabela, receber um cheque anual, o reembolso.

E para Blair não faz sentido 43% do orçamento europeu ser direcionado para a agricultura, área que corresponde a apenas 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB)da UE.

A França, de fato, não somente recebe a maior fatia do orçamento agrícola, de 22%, mas subsidia seu mercado graças a esses 8 bilhões de euros anuais.

Por sua vez, Chirac e outros líderes europeus rebatem que o reembolso afeta os dez novos e mais pobres Estados membros da UE. Eles têm de desembolsar um total de mais de 250 milhões de euros anuais.

Quanto à PAC, Chirac argumenta que a agricultura francesa gera dezenas de milhares de empregos na área agroalimentar da Europa, uma das mais potentes do mundo. Além disso, acrescenta Chirac, os financiamentos para a política agrícola foram aceitos, em bloco, em 2002. E valeriam até 2013.

A queda-de-braço entre Chirac e Blair continua.
 

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