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04/07/2005 - 19h33

Organização e resistência pacífica marcam protesto na Escócia

ANDREA WELLBAUM
da BBC Brasil, em Faslane, Escócia

Eram quatro horas da manhã em Edimburgo, tão cedo que, mesmo com os dias longos do verão escocês, ainda estava escuro. Dezenas de caras bocejantes, no entanto, já estavam enfileiradas em uma das principais ruas da cidade, aguardando para ser distribuídas entre os ônibus que saíam rumo à base naval Clyde, em Faslane.

Assim como a marcha "Make Poverty History" ("Faça da Pobreza Coisa do Passado", em tradução livre), realizada no último sábado em Edimburgo, o bloqueio da maior base militar da Escócia, nesta segunda-feira, contou com muita organização.

O objetivo era bloquear os quatro portões de entrada da base para evitar seu funcionamento durante toda esta segunda-feira. E lá foram todos para duas horas e meia de viagem.

Assim que as pessoas se acomodaram no ônibus, foram distribuídos formulários para preencher com alguns dados pessoais caso alguém fosse preso durante o ato.

Também foram fornecidos cartões com telefones de advogados e orientações do que fazer se o protesto acabasse na cela de uma delegacia. E um lembrete: melhor escrever pelo menos um dos telefones na mão.

Ajuda

As dicas iam desde os direitos e deveres de uma pessoa a ser presa até conselhos do que fazer para lidar com o tédio e o excesso de frio ou de calor dentro da cela.

Este foi o oitavo bloqueio da base militar em Faslane. E, segundo Elle Faye, do grupo G8 Alternatives, em todos os sete atos anteriores, houve várias detenções.

"Sempre existem algumas prisões, ou de pessoas que bloqueiam as estradas ou de gente que tenta invadir a área", disse ela.

A tática utilizada para evitar que trabalhadores consigam entrar no complexo é a pacífica desobediência civil, em que todos se sentam ou deitam em frente do portão até serem removidos pela polícia se necessário.

Às 6h (horário local), uma surpresa nada agradável para os manifestantes: chuva. Não bastasse a ausência de banheiro nas redondezas da base, ainda havia a possibilidade de todos terem de sentar no chão molhado e tomar chuva na cabeça.

"As pessoas se viram. Costuma chover por aqui, portanto acho que todos trouxeram capa de chuva. A coisa vai continuar acontecendo!", afirmou Faye.

Chegada

Para a sorte de todos, às 7h a chuva já tinha parado. Uma legião de câmeras de TV e máquinas fotográficas apontavam para os ônibus dos manifestantes quando eles se aproximaram dos portões. E a festa começou.

Animados ativistas saíram dos ônibus munidos de lanches, trompetes e tambores e coloriram o triste dia cinza, frio e úmido que amanhecia em Faslane.

Apesar do aparente caos, tudo continuava minuciosamente organizado. Havia grupos que estavam sempre juntos, não apenas porque as pessoas eram amigas e se conheciam entre si, mas também porque formavam os chamados "grupos de afinidades".

Segundo o integrante da equipe Faslane-G8 Joss Garman, por causa da grande quantidade de gente, não existe uma estrutura de organização centralizada.

"Em vez disso, existem muitos grupos pequenos, de oito a 15 pessoas, que tomam as decisões entre elas. O que elas vão fazer, onde vão estar e qual tipo de ação vão tomar. Então, esses grupos de afinidade podem ser formados tanto pelo local de onde as pessoas vêm, como de acordo com suas crenças políticas ou religiosas", disse ele.

Garman era um dos "homens da mídia". Não era possível entrevistar qualquer integrante de algum grupo. Tinha de ser aquela pessoa com o colete amarelo fosforescente e a palavra media estampada nas costas.

Talvez por isso, o discurso saía redondo: "Sete dos países do G8 estão entre os principais negociadores de armas do mundo. E eles abastecem os conflitos na África, o que significa pobreza. Queremos fazer todos perceberem que guerra e militarismo não estão separados da pobreza. Pelo contrário. Estão intrinsecamente ligados", afirmou Garman.

Cinco horas de protesto mais tarde, o ato continuava à toda. Ninguém passou pelos portões da base militar, e apenas alguns manifestantes tinham sido detidos. Todos fizeram uso daqueles telefones, distribuídos nos cartões no início da viagem.

E, no final do dia, os advogados do chamado "Apoio Legal de Faslane" já providenciavam a liberação deles.

Mais algumas horas e todos estavam de volta a Edimburgo, de onde saíram antes do raiar do dia. E nem pensar em ir para casa. Era hora de se juntar ao "carnaval" dos anarquistas que estava apenas começando a esquentar nas ruas da capital escocesa.
 

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