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11/07/2005
-
07h47
da BBC Brasil
Em férias de seu posto como ministro da Cultura, Gilberto Gil disse que a série de denúncias envolvendo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva causa um desconforto duplo.
"Existem duas formas de desconforto comuns a todos com relação a qualquer coisa desse tipo", disse ele em Londres, em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
"Uma é o desconforto das dificuldades e o desenvolvimento que as ações governamentais podem ter com acontecimentos desse tipo."
Segundo o ministro, "a outra é o desconforto da cidadania".
Motivação
"É natural, porque a cidadania busca o tempo todo o aperfeiçoamento da vida, e essas erupções são sinais de que temos muito ainda o que fazer."
Apesar de reconhecer que "a perfeição não está batendo à porta", o ministro disse não estar encarando a situação com pessimismo.
"Essa sensação de imperfeição é desconfortável para muita gente, mas, para mim, não é tanto", afirmou.
"Eu não me sinto tão desconfortável com a realidade da vida. Ela é assim, não me surpreendo tanto, não fico abatido, deprimido. Pelo contrário, elas nos devem dar mais ânimo", disse Gil.
Poesia
Ele diz que, em seu caso específico como titular da pasta da Cultura, as crises servem "para que se trabalhe ainda mais".
"Se elas (as crises) ameaçam paralisar o governo, a gente tem que se mexer mais", disse ele, que está em Londres por causa da turnê do show Eletroacústico.
"Estou de férias, mas estou todos os dias ligando, trabalhando com secretários, com outros ministros, para que o trabalho continue sendo feito."
"É o meu lado de poeta, aperfeiçoando o imperfeito", diz Gil, que admitiu não ter escrito nenhuma canção desde que assumiu o cargo ministerial.
Missão
Segundo ele, a maior missão que estipulou para seu posto ministerial é conseguir "uma maior compreensão e o alargamento do conceito de cultura no país, tanto para o governo como para a sociedade".
"A cultura como diálogo constante entre as linguagens, entre as formas de expressão, sejam elas artísticas, discursivas ou expressivas."
Ele diz que uma das maiores dificuldades que está enfrentando para isso é "o descaso histórico".
"A cultura sempre foi tratada um pouco como o jarro de flores das classes dominantes, aquela coisa ornamental."
Gil também afirmou que a falta de recursos é "outro calvário da área cultural, é uma briga para se conseguir dinheiro".
Stones no parque
Gilberto Gil se apresenta nesta segunda-feira na casa Coliseum. O show traz versões de sucessos seus e de outros compositores em roupagens que mesclam instrumentos acústicos tradicionais com elementos eletrônicos modernos.
Ele diz não ter achado a capital britânica muito diferente após os atentados da última quinta-feira, que deixaram pelo menos 49 mortos.
Ao contrário, Gil diz que estar em Londres evoca lembranças carinhosas da época em que viveu na cidade.
"Londres é gozado. É a única cidade fora do Brasil que eu considero como uma cidade minha."
"Tive um filho aqui, morei nela por três anos", diz o músico, lembrando do período em que foi exilado pela ditadura militar, no final dos anos 1960.
Vasculhando a memoria, Gil diz que andou "muito pelas calçadas de South Kensington" e revela que chegou à cidade no dia da lendária apresentação dos Rolling Stones no Hyde Park, em 5 de maio de 1969.
"Mas não deu tempo de ver o show. Só vi o parque vazio, cheio de lixo", diz ele.
Crise no governo causa 'desconforto duplo', diz Gilberto Gil
RODRIGO DURÃO COELHOda BBC Brasil
Em férias de seu posto como ministro da Cultura, Gilberto Gil disse que a série de denúncias envolvendo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva causa um desconforto duplo.
"Existem duas formas de desconforto comuns a todos com relação a qualquer coisa desse tipo", disse ele em Londres, em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
"Uma é o desconforto das dificuldades e o desenvolvimento que as ações governamentais podem ter com acontecimentos desse tipo."
Segundo o ministro, "a outra é o desconforto da cidadania".
Motivação
"É natural, porque a cidadania busca o tempo todo o aperfeiçoamento da vida, e essas erupções são sinais de que temos muito ainda o que fazer."
Apesar de reconhecer que "a perfeição não está batendo à porta", o ministro disse não estar encarando a situação com pessimismo.
"Essa sensação de imperfeição é desconfortável para muita gente, mas, para mim, não é tanto", afirmou.
"Eu não me sinto tão desconfortável com a realidade da vida. Ela é assim, não me surpreendo tanto, não fico abatido, deprimido. Pelo contrário, elas nos devem dar mais ânimo", disse Gil.
Poesia
Ele diz que, em seu caso específico como titular da pasta da Cultura, as crises servem "para que se trabalhe ainda mais".
"Se elas (as crises) ameaçam paralisar o governo, a gente tem que se mexer mais", disse ele, que está em Londres por causa da turnê do show Eletroacústico.
"Estou de férias, mas estou todos os dias ligando, trabalhando com secretários, com outros ministros, para que o trabalho continue sendo feito."
"É o meu lado de poeta, aperfeiçoando o imperfeito", diz Gil, que admitiu não ter escrito nenhuma canção desde que assumiu o cargo ministerial.
Missão
Segundo ele, a maior missão que estipulou para seu posto ministerial é conseguir "uma maior compreensão e o alargamento do conceito de cultura no país, tanto para o governo como para a sociedade".
"A cultura como diálogo constante entre as linguagens, entre as formas de expressão, sejam elas artísticas, discursivas ou expressivas."
Ele diz que uma das maiores dificuldades que está enfrentando para isso é "o descaso histórico".
"A cultura sempre foi tratada um pouco como o jarro de flores das classes dominantes, aquela coisa ornamental."
Gil também afirmou que a falta de recursos é "outro calvário da área cultural, é uma briga para se conseguir dinheiro".
Stones no parque
Gilberto Gil se apresenta nesta segunda-feira na casa Coliseum. O show traz versões de sucessos seus e de outros compositores em roupagens que mesclam instrumentos acústicos tradicionais com elementos eletrônicos modernos.
Ele diz não ter achado a capital britânica muito diferente após os atentados da última quinta-feira, que deixaram pelo menos 49 mortos.
Ao contrário, Gil diz que estar em Londres evoca lembranças carinhosas da época em que viveu na cidade.
"Londres é gozado. É a única cidade fora do Brasil que eu considero como uma cidade minha."
"Tive um filho aqui, morei nela por três anos", diz o músico, lembrando do período em que foi exilado pela ditadura militar, no final dos anos 1960.
Vasculhando a memoria, Gil diz que andou "muito pelas calçadas de South Kensington" e revela que chegou à cidade no dia da lendária apresentação dos Rolling Stones no Hyde Park, em 5 de maio de 1969.
"Mas não deu tempo de ver o show. Só vi o parque vazio, cheio de lixo", diz ele.
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