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20/07/2005 - 09h36

Análise: Bush completa seis meses aos tropeções

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

São seis meses no segundo mandato e, a três anos e meio da aposentadoria, George W. Bush já vive um pesadelo típico de presidentes americanos reeleitos: a impressão de que governa como um "pato manco", ou seja, incapaz de impor sua agenda e à espera da passagem do poder para o sucessor. Talvez não manco, mas seguramente aos tropeções.

É um cenário bem distinto do de novembro de 2004, quando Bush conseguiu a reeleição sobre o democrata John Kerry e desta vez podia apregoar um mandato indiscutivelmente legítimo, ao contrário das controvérsias que tinham marcado sua vitória sobre Al Gore quatro anos antes.

É um mandato legítimo, mas não consagrador e aí está um ponto de partida para explicar o sentimento de desolação seis meses após a segunda posse de Bush. Assim que se anunciou a vitória em novembro, o presidente bravateou que tinha ganho "capital político"e iria gastá-lo.

Parece que foi desperdício e isto apesar do triunfo que foi o alargamento da maioria republicana nas duas Casas do Congresso. Bush não costurou compromissos e se distanciou não apenas dos interesses da população, mas do seu próprio partido.

Os resultados qualitativos e quantitativos estão aí. Há uma erosão da confiança popular no presidente, o apoio à guerra no Iraque sofreu um colapso e a agenda doméstica da Casa Branca está desfigurada.

As cenas de júbilo de iraquianos votando em janeiro foram rapidamente ofuscadas pelas imagens da violência indiscriminada. Hoje mais americanos são contrários ao envolvimento no Iraque do que a favor. "Falcões" republicanos se rebelam e cobram uma estratégia de saída do país invadido em março de 2003. Bush rebate que não vai fixar um cronograma.

A maioria republicana no Congresso não dá a margem de manobra que o presidente esperava. Os democratas ainda estão combalidos com a derrota em novembro, mas tiveram capacidade de se reagrupar e numa humilhação para a Casa Branca há meses bloqueiam no Senado a confirmação de John Bolton como embaixador dos Estados Unidos nas Nações Unidas.

Bush fez um erro de cálculo que teria condições de avançar com seu projeto de reforma do sistema de previdência social, pedra de toque de sua agenda doméstica. Mas quanto mais ele viaja pelo país para vender o seu projeto em eventos rigidamente orquestrados, menor é o apoio popular.

Por algumas pesquisas, como a do jornal "The New York Times", o apoio à reforma é de apenas 25%. Como no caso do Iraque, congressistas republicanos falam em uma estratégia de saída nesta reforma previdenciária, deixando o sistema mais ou menos como está, sem forçar a sua privatização parcial, como deseja o presidente.

Bush também é acossado pela direita, especialmente por sua ala religiosa, que cobra uma agenda social mais incisivamente conservadora.

Mas a insatisfação popular com o ativismo do presidente e da liderança republicana no Congresso para manter viva Terri Schiavo mostrou o risco de uma guinada radical para a direita em questões sociais. O presidente agora espera que o juiz John Roberts, o seu indicado para a primeira vaga aberta na Corte Suprema em 11 anos, não acirre as batalhas ideológicas, apesar de suas impecáveis credenciais conservadoras.

Mas as batalhas estão em todas as partes. A decantada disciplina republicana se desintegra. Congressistas do partido estão mais preocupados com sua reeleição no ano que vem do que em ecoar as palavras de ordem de Bush, que está no seu segundo e último mandato. Republicanos que são candidatos potenciais à presidência em 2008 também se distanciam da Casa Branca.

E dentro da Casa Branca, o clima é intranqüilo. Nas últimas semanas o país ficou obcecado com os detalhes bizantinos do vazamento da identidade de uma agente da CIA. Tudo indica que o vazamento fez parte de uma campanha empreendida por Karl Rove, o principal assessor político de Bush, para desacreditar o ex-diplomata Joe Wilson, marido desta agente, e que foi a público acusar o governo de ter manipulado dados de inteligência para justificar a invasão do Iraque.

Alguns políticos democratas e críticos de Bush se apressam nas analogias. O Iraque é seu Vietnã e este bizantino caso de vazamento lembra Watergate. Bush tem alguns trunfos. A imagem da oposição democrata também é negativa e uma postura meramente destrutiva não ajuda muito. O 11 de setembro mostrou que Bush cresce com uma crise. Talvez ele nunca mais recupere a firmeza, mas ainda é prematuro dizer que até o final do mandato o presidente irá caminhar como um "pato manco".
 

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