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10/08/2005 - 11h56

Cinema nacional é "brasileiro demais", diz diretor em Veneza

VALQUÍRIA REY
da BBC Brasil, em Roma

O diretor da Mostra Internacional de Cinema de Veneza, Marco Muller, disse que os filmes brasileiros teriam muito mais chance de sucesso no exterior se não fossem "brasileiros demais".

"O problema é que os bons filmes falam dos problemas do Brasil de uma forma tão brasileira que os estrangeiros não entendem", diz Muller, diretor pelo segundo ano seguido do festival, que chega neste ano à sua 62ª edição. "A discussão sobre os filmes brasileiros foi para mim uma luta contínua com o comitê de seleção", completou.

Isso não significa, porém, que a edição 2005 do festival, que vai de 31 de agosto a 10 de setembro, não vá ter a presença do Brasil. Ele vai marcar a estréia mundial de "O Jardineiro Fiel", de Fernando Meirelles, que participa da disputa do Leão de Ouro, a principal da mostra competitiva.

O filme de Meirelles, na visão do diretor da mostra, é uma exceção: é falado em inglês, numa produção dividida por Alemanha, Grã-Bretanha e Quênia.

"Brasileiros demais"

Segundo Muller, o rótulo de "brasileiros demais" foi dado a filmes de Andrucha Waddington, Sérgio Bianchi e Beto Brant, que foram apresentados aos organizadores do festival e que acabaram sendo rejeitados pelo comitê de seleção.

"Eu gostei muito dos três filmes, mas o comitê não entendeu nada. Eles precisam compreender mais o cinema brasileiro. Mas os diretores também devem pensar na possibilidade de exportar seus filmes."

Nascido em Roma e filho de uma brasileira, Muller é um veterano na área. Produtor de filmes, vencedor de um Oscar e ex-organizador dos festivais de Locarno, na Suíça, e de Roterdã, na Holanda, ele está à frente da seleção de Veneza pelo segundo ano.

Em 2004, Muller foi criticado pela grande presença do cinema dos Estados Unidos e pela desorganização do evento.

As críticas não o intimidaram. Neste ano, o festival tem 11 produções americanas, duas na corrida ao Leão de Ouro: "Goodnight and Good Luck", de George Clooney, e "Romance and Cigarettes", de John Turturro.

A intenção continua sendo resgatar a primazia há muito perdida para o Festival de Cinema de Cannes.

Críticos

Mauricio Porro, crítico de cinema do jornal "Corriere della Sera" diz que o estilo e as preferências de Muller já se destacam.

"Com Muller, está sendo dada uma preferência à cinematografia asiática, em especial, à chinesa, que antes não era tão presente e, em 2005, abrirá e fechará o festival. No ano passado, ele foi bem e queremos que continue assim", disse Porro.

"Apesar da grande participação americana, Cannes é um pouco mais comercial do que Veneza, porque tem um mercado de compra e venda de filmes."

A crítica de cinema Roberta Bottari diz que hoje as duas mostras brigam em pé de igualdade pelas estréias mundiais. Mas, para ela, Muller está dando mais atenção aos filmes e menos ao charme. "É um festival que está avançando", afirmou. "Aos poucos, está se aproximando do nível de Cannes."

Meirelles

Tanto Bottari como Porro gostaram de Cidade de Deus e acreditam que Meirelles pode surpreender novamente com O Jardineiro Fiel, uma adaptação do livro de John Le Carré e protagonizado por Ralph Fiennes.

De acordo com Bottari, Meirelles lembra muito o cinema italiano dos anos 50. Já Porro elogia o jeito duro de dirigir do brasileiro.

Segundo Muller, o novo trabalho de Meirelles merece tantos elogios quanto "Cidade de Deus". "O filme do Meirelles é a encarnação do espírito do cinema do sul", diz Muller. "Tem elementos dos cinemas americano, britânico e do próprio Meirelles. É um filme com diretor brasileiro, filmado no Quênia, que fala de uma história política da globalização dos países do sul."

Lírio Ferreira

Apesar de mais conhecido, Meirelles não será a única presença brasileira em Veneza. O pernambucano Lírio Ferreira, que dirigiu "Baile Perfumado" em 1996 junto com Paulo Caldas, também estará lá. Ferreira participa com "Árido Movie" na mostra Horizontes, dedicada a novas tendências do cinema.

"Fiquei surpreso com o resultado do trabalho do Ferreira. Gostei muito de "Baile Perfumado" e sou um apaixonado por histórias de cangaceiros", afirmou entusiasmado Muller. "'Árido Movie' parece um poema épico, como foi 'A Idade da Terra', do Gláuber Rocha".

O Brasil também marca presença no festival com o curta-metragem "De Glauber para Jirges", do cineasta André Ristum e com a participação da diretora Katia Lund no filme "All the Invisible Children" que não disputa prêmios.

"All The Invisible Children" é uma produção italiana com conta com a participação de vários outros diretores como Spike Lee, Emir Kusturica e Ridley Scott.

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