Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/08/2005 - 16h17

Família de Jean Charles pede inquérito público

ANDREA WELLBAUM
da BBC, em Londres

Representantes da família do eletricista Jean Charles de Menezes, morto pela polícia britânica no mês passado, pediram nesta quarta-feira a abertura de um novo inquérito --desta vez público-- sobre o caso.

Para o porta-voz da família de Jean Charles em Londres, Assad Rehman, "o vazamento de informações e o fato de a investigação ter começado com vários dias de atraso (...) significam que a maioria das pessoas tem pouca ou nenhuma confiança na investigação atual".

"A investigação agora está comprometida. Acho que a seriedade do caso e o horror provocado por ele pedem um inquérito público completo que deve ser transparente e que esteja de acordo com todos os padrões internacionais para reforçar a confiança pública na investigação."

Divulgação/Reuters
Jean Charles (à esq.), confundido com o suspeito de terrorismo Hussain Osman
A nova investigação seria feita por uma comissão e um juiz independentes da polícia e da Comissão Independente de Queixas sobre a Polícia (IPCC, na sigla em inglês), que investiga o caso.

O pedido foi feito depois de a rede de TV britânica ITV News ter divulgado documentos e fotos das investigações sigilosas que estão sendo realizadas por uma comissão independente para apurar possíveis erros da polícia na ação do mês passado na estação de metrô de Stockwell.

"Mentiras"

De acordo com a advogada que representa a família do brasileiro no Reino Unido, Harriet Wistrich, a família de Menezes pede "a divulgação urgente de toda a verdade que envolve a morte de Jean Charles".

"O interesse público coincide completamente com os interesses da família. Desde o início, as mais altas autoridades da polícia e ministros do governo, incluindo o primeiro-ministro, afirmaram que a morte de Jean Charles foi um acidente infeliz, que ocorreu no contexto de uma política absolutamente legítima, justificável, dentro da lei e necessária."

"No contexto das mentiras reveladas agora, essas afirmações se tornaram ainda mais insustentáveis e até mais alarmantes. É inconcebível que os verdadeiros fatos, revelados ontem, não tenham sido comunicados às mais altas autoridades policiais e aos ministros imediatamente", afirmou a advogada num comunicado.

Rehman concorda. "A posição do chefe da polícia é delicada. Se for provado que ele fez falsas alegações à família intencionalmente, acho que não existe outra opção senão renunciar ao cargo."

"Está muito claro que a polícia tem muito a esconder neste caso. Mas nós estamos muito determinados em garantir com que a verdade seja revelada e que justiça seja feita", acrescentou o porta-voz.

"Transparência"

Um comunicado, a polícia metropolitana rebate apenas uma das acusações feitas tanto por Rehman como por Wistrich: a de desrespeitar o dever de convocar o IPCC para iniciar suas investigações imediatamente após os tiros disparados no trem em Stockwell no dia 22 de Julho.

"O chefe da polícia escreveu para o secretário do Ministério do Interior, com uma cópia ao IPCC, na manhã da sexta-feira, dia 22 de julho, para esclarecer o papel do IPCC caso, como parecia naquele momento, os tiros na estação de metrô em Stockwell envolvessem um homem-bomba envolvido nos incidentes do dia anterior."

A nota diz ainda que, depois do comunicado, se seguiram mais conversas durante o mesmo dia e chegou-se a um acordo de que a polícia metropolitana repassaria a responsabilidade pelas investigações ao IPCC na segunda-feira seguinte, ressaltando que as conversas sobre o assunto foram "absolutamente transparentes".

Mas os representantes da família de Jean Charles não acreditam mais na transparência da polícia e defendem, inclusive, o fim da política de "atirar para matar".

"Tem de haver uma suspensão imediata da política de 'atirar para matar'. Vimos em sua aplicação no caso de Jean Charles que ela não é apropriada para as ruas de Londres. Vimos que um homem inocente, a caminho do trabalho, sentado na poltrona do metrô, foi abordado por um policial e morto a tiros", disse o porta-voz.

"Se a política continuar, como o chefe da polícia metropolitana indicou, eu, você ou qualquer uma das milhões de pessoas que usam o metrô podem ser as próximas vítimas. Não queremos esse tipo de cidade."

"Temos de garantir uma polícia eficaz, mas uma que seja profissional, que utilize inteligência baseada em investigações e não uma que aja da forma como parece ter agido no assassinato de Jean Charles", afirmou Rehman.

Descrédito

Segundo um dos primos de Jean Charles, Alessandro Alves, o brasileiro costumava elogiar a polícia britânica.

"O próprio Jean Charles falava que o trabalho da polícia sempre foi bem-feito, de uma maneira correta, que a polícia não usava arma e resolvia as coisas por meio do diálogo. Ele sempre elogiava a polícia. Agora foi morto pelas mãos de quem ele tanto admirava", disse Alves.

O rapaz também defende a suspensão da política de "atirar para matar". "Tem muitas outras maneiras de identificar a pessoa sem a necessidade de atirar para depois saber quem é. Eu acho que essa política de atirar para matar tem de acabar, tem de se arranjar um outro jeito de identificar os culpados."

Apesar de ter ficado chocado com as imagens de Jean Charles morto no vagão do metrô, seu primo disse que a divulgação delas "foi um bom começo".

"Por enquanto, só vimos as fotos com ele, ou seja, o trem já estava vazio e não tinha policial nenhum. Mas já é um bom começo. Mas a gente tem de ficar insistindo, querendo ver as imagens de quando ele entrou, com os policiais atrás e tudo."

Como Alves é o único parente do eletricista que permaneceu em Londres depois do assassinato, ele foi o primeiro a ver as fotos obtidas pela ITV News.

"Vi uma foto da poltrona onde ele estava sentado. Não sei se ele estava sentado ou colocaram a cabeça dele em cima da poltrona e atiraram, porque tem uma poça de sangue do lado direito de onde ele estava sentado - e é muito, muito sangue mesmo", afirmou.

O primo de Jean Charles também afirmou ter visto uma foto inteira do primo já no chão. "A cabeça estava totalmente irreconhecível, porque ele estava cheio de sangue. O cabelo meio loiro ficou totalmente escuro por causa do sangue e tinha a marca de onde a bala entrou.é difícil."

Leia mais
  • Advogada da família de Menezes defendeu casos polêmicos
  • Veja a reconstrução dos últimos passos do brasileiro em Londres

    Especial
  • Leia cobertura completa sobre os ataques em Londres
  • Leia o que já foi publicado sobre Jean Charles de Menezes
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página