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23/08/2005 - 16h09

Oposição democrata está no fogo cruzado iraquiano

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

George W. Bush finalmente saiu na segunda-feira do rancho, ou bolha, como preferem dizer os adversários do presidente americano. Bush estava recluso em Crawford, no Texas, desde o último dia 13.

Sua expedição teve riscos muito pequenos. Ele escolheu a convenção dos veteranos de guerra, em Salt Lake City, no Estado de Utah, para reafirmar o curso no Iraque.

Mesmo ali não deu para escapar. Em um parque, perto do local da convenção, centenas de pessoas participaram de um protesto contra a guerra no Iraque.

Nesta quarta-feira haverá um outro discurso de Bush no mesmo tom perseverante, igualmente num cenário amigável em Idaho, para um grupo da Guarda Nacional.

Enquanto isto, lá perto do rancho, ativistas anti e pró-guerra seguem acampados, unidos em torno da figura de Cindy Sheehan, a mãe de um soldado morto no Iraque no ano passado que iniciou uma vigília no começo do mês em Crawford, assim que o presidente chegou para suas longas férias de verão. A mãe convertida em ativista antiguerra queria ser recebida pelo presidente em busca de explicações sobre o sentido da morte do filho.

Bush se recusou, mantendo o curso de sua política de não "recompensar" manifestantes, embora seus assessores reconheçam que o governo minimizou o impacto da vigília de Cindy Sheenan num momento em que o desencanto popular com a guerra no Iraque está em alta, assim como o número de baixas americanas.

Catalisador

Como o presidente, a ativista também partiu de Crawford para cuidar da mãe que sofreu um derrame na Califórnia, mas ela deixou, lá atrás, a ebulição. Os discursos de Bush nesta semana são vistos como uma resposta direta à mãe do soldado morto.

Ativistas antiguerra dizem que a vigília de Cindy Sheenan, seguida por mais de mil em várias partes do país, foi um catalisador.

Eles exibem pesquisas indicando que o desencanto com o Iraque já atingiu um ponto de virada, com apenas um terço de aprovação popular ao curso presidencial, o mesmo nível amargado por Lyndon Johnson no Vietnã em 1968. Ecos do Vietnã, aliás, puderam ser ouvidos em Crawford no domingo à noite com um concerto pacifista de Joan Baez.

Partidários do presidente rebatem que as vigílias e Cindy Sheenan são fogo de palha, uma mera sensação de um verão morno em notícias. Mais do que isto, eles alegam que a mãe do soldado morto no Iraque perdeu credibilidade ao se tornar instrumento de ativistas e de suspeitos habituais como o cineasta Michael Moore.

A polêmica sobre Cindy Sheenan apenas acirrou os dilemas dentro da oposição democrata sobre o que fazer no Iraque. As lideranças que votaram a favor da guerra há três anos em linhas gerais querem manter o curso, mas elas confrontam ativistas e setores mais liberais dispostos a desafiar de forma agressiva o governo Bush. À frente da resistência está o senador Russell Feingold, o primeiro a pedir um cronograma (fim de 2006) para a retirada das tropas americanas do Iraque.

Mas há o coro daqueles dentro do partido que advertem contra estas propostas que podem ser vistas pelo eleitorado como derrotistas e reforçarem a vulnerabilidade democrata em questões de segurança nacional, algo que ficou patente na campanha eleitoral do ano passado, apesar da obsessão de John Kerry para exibir seu currículo de veterano do Vietnã.

Poucos políticos democratas se preocupam tanto em se desfazer da bagagem pacifista como a senadora democrata Hillary Clinton, candidata em potencial nas eleições presidenciais de 2008. Ela se posicionou contra o cronograma do senador Feingold e insiste que os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de cogitar neste momento uma retirada do Iraque.

Em função destes dilemas, os democratas permanecem divididos mesmo em relação a Cindy Sheenan. O presidente do partido, Howard Dean --que ganhou proeminência com o seu ativismo antiguerra-- endossou a vigília da mãe do soldado morto. Hillary Clinton preferiu não fincar acampamento.
 

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