Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/09/2005 - 11h51

Análise: Quatro anos depois, Iraque mudou legado do 11/9

PAULO REYNOLDS
da BBC

O mundo de fato mudou no dia 11 de setembro de 2001, mas de formas que não foram previstas na época.

Ele mudou porque os ataques levaram não apenas à chamada "guerra contra o terror", mas também à guerra no Iraque.

A primeira guerra foi lançada em um momento em que o mundo estava solidário com os Estados Unidos. A outra, porém, fez diminuir boa parte dessa simpatia para com os americanos.

Se apenas a guerra contra o terror tivesse ocorrido, as coisas teriam sido diferentes.

As relações americanas com a Europa não teriam se desgastado tanto. O ninho de vespas não teria sido cutucado no Iraque.

Defensores da democracia?

Independentemente de seu mérito, errada ou não, a ofensiva no Iraque mudou a equação. O esforço contra o terrorismo se misturou às divisões a respeito da estratégia agressiva. A perda de vidas estremeceu até mesmo aqueles que apoiaram a invasão.

E a falta de capacidade dos Estados Unidos em "pacificar" o Iraque colocou em dúvida sua própria habilidade de agir como defensor da democracia em todo o mundo.

Os outros elementos do chamado "eixo do mal" ficaram ilesos. A Coréia do Norte continua, como ela própria já admitiu, com armas nucleares. O Irã permanece com suas ambições de desenvolver tecnologia nuclear.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, também ainda não conseguiu estabelecer o Estado palestino que pediu que fosse criado.

Pouco depois dos ataques de 11/9, tudo parecia tão simples.
Na cabeça de Bush

O jornal francês "Le Monde" declarou no dia seguinte: "neste momento trágico, no qual palavras parecem ser tão inapropriadas para expressar o choque que sentiram as pessoas, a primeira coisa que vem à cabeça é: 'Nós somos todos americanos! Nós somos todos nova-iorquinos!'"

Bush foi ao Congresso na noite do dia 20 de setembro e anunciou: "Nossa guerra contra o terror começa com a Al Qaeda, mas não acaba com ela. Nós não vamos parar até que cada grupo terrorista de dimensão global seja encontrado, freado e derrotado".

Mas apesar disso, poucos diriam "nós somos todos americanos!" hoje em dia.

É possível que a guerra no Iraque fosse lançada pelos Estados Unidos de uma maneira ou de outra.

Eu me lembro de ter perguntado a Bush durante a campanha presidencial de 2000 se ele consideraria uma derrota se Saddam Hussein permanecesse no poder além do mandato de um segundo presidente George Bush.

Ele fez uma pausa, deu um dos seus enigmáticos sorrisos e simplesmente disse: "Boa pergunta". Não houve resposta nenhuma nisso, mas eu senti que a ofensiva estava em sua cabeça, ainda que não estivesse entre seus objetivos.

O argumento dos EUA

Mas os ataques de 11/9 fizeram que o tema fosse incluído entre os objetivos. Nós sabemos isso porque, em um encontro com ele em Camp David no fim de semana seguinte aos ataques, o então vice-secretário de Defesa Paul Wolfowitz propôs que não apenas o Afeganistão fosse invadido, mas também o Iraque.

Sua proposta não foi aceita. Foi colocada na gaveta. Mas, depois, foi trazida à tona.

Os ataques de 11 de Setembro facilitaram a invasão do Iraque por causa do argumento de que tudo havia mudado. O que se afirmava é que não era mais possível tolerar o risco de que armas de destruição em massa fossem parar nas mãos de terroristas.

Saddam Hussein disse (pelo menos se alegava que ele havia dito) que tinha essas armas. Ele poderia decidir usá-las. Por isso, ele precisava ser afastado.

Esse foi o argumento usado por Bush pouco antes da guerra:

"A ameaça está lá e todos aceitam isso: a ameaça das armas de destruição em massa, a ameaça das armas de destruição em massa nas mãos de terroristas que vão causar o máximo dano ao nosso povo", disse ele nos Açores em uma reunião com seus aliados britânico e espanhol, Tony Blair e José María Aznar.

Você podia acreditar ou não, mas o argumento foi apresentado e a guerra foi iniciada.

Grande prêmio

Na visão do presidente Bush, as duas guerras se transformaram em uma só.
Em junho deste ano, ele disse: "O Iraque é o mais recente campo de batalha nesta guerra".

Depois de descobrir que o Iraque não guardava arma de destruição em massa alguma, ele está argumentando que o país vai se tornar um exemplo de democracia para o "Grande Oriente Médio" e vai, dessa forma, ajudar a derrotar a ameaça do extremismo islâmico.

Se isso de fato acontecer, será um grande prêmio.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o 11 de Setembro
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página