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22/09/2005
-
07h30
da BBC Brasil, em Nova York
Há exatamente 25 anos, 22 de setembro de 1980, as forças iraquianas de Saddam Hussein lançaram um ataque aéreo e terrestre contra o relativamente recente regime dos aiatolás xiitas no Irã.
Foram oito anos de uma guerra notável pelo sacrifício de vidas humanas e armas químicas.
Algumas estimativas mencionam 1,5 milhão de mortos. O conflito que teve disputas territoriais como estopim terminou em agosto de 1988 com as fronteiras inalteradas.
Mas, 25 anos mais tarde, não há dúvida que o Irã saiu vencedor.
Com a invasão americana do Iraque em 2003, Saddam Hussein está preso, aguardando julgamento, previsto para começar no próximo dia 19.
O país é laboratório de um experimento que pode levar a uma guerra civil aberta ou ao seu esfacelamento entre xiitas, sunitas e curdos.
Já no Irã, com o presidente Mahmoud Ahmadinejad, uma nova geração de revolucionários xiitas está no poder em Teerã.
O seu discurso populista lhe conferiu uma base genuína, especialmente entre os pobres que se sentiam abandonados por líderes religiosos corruptos.
Virulência
Com a ascensão de Ahmadinejad foram ceifadas as esperanças de moderação e se tornou ainda mais difícil um compromisso para a eliminação das ambições nucleares do país.
A militância ficou claríssima no virulento discurso do novo presidente feito sábado passado diante da Assembléia Geral das Nações Unidas.
O Irã está confiante que os EUA e o trio europeu (Grã-Bretanha, França e Alemanha) não conseguirão levar a questão do seu programa nuclear, com vistas a sanções, para o Conselho de Segurança da ONU, diante da resistência de Rússia, China e potências emergentes como o Brasil.
As ambições geopolíticas do Irã são incontestáveis, até megalomaníacas.
O general Yahya Safavi, comandante da Guarda Revolucionária, disse recentemente que a missão de Teerã é criar "um mundo multipolar no qual o Irã tenha um papel de liderança", enquanto o presidente Ahmadinejad afirmou que o dominio geopolitico no Oriente Médio "é um direito incontestável da nação iraniana".
Com o fim do regime de Saddam Hussein, estas ambições - pelo menos as regionais --foram facilitadas.
Na verdade, a ofensiva geopolítica do governo George W. Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001 se converteu em uma vantagem estratégica para o regime xiita de Teerã.
Inimigos nos dois lados - o Partido Baath em Bagdá e o Talebã em Cabul - foram afastados do poder.
A cruzada democrática americana no Oriente Médio minou rivais tradicionais do Irã, como a Arábia Saudita e o Egito.
E, no Líbano, a expulsão das tropas sírias, fortaleceu ainda mais a influência iraniana.
O establishment sunita no mundo árabe teme um arco xiita na região.
Em Bagdá, o frágil poder está nas mãos do primeiro-ministro xiita Ibrahim Al Jaafari, que passou em Teerã parte do seu exílio nos tempos de Saddam Hussein.
Jafari tem estreitado as relações com o regime iraniano e, como lembra Ray Takeyh, do Conselho de Relações Externas, em Washington, esta iniciativa altera profundamente o cenário geopolitico na região, marcado por décadas pelo antagonismo entre Teerã e Bagdá.
Um ponto culminante deste antagonismo obviamente foi a guerra entre 1980 e 1988.
Lá na prisão, Saddam Hussein tem tempo para refletir sobre o seu erro de cálculo de 25 anos atrás.
Análise: 25 anos depois, Irã é claro vencedor da guerra com o Iraque
CAIO BLINDERda BBC Brasil, em Nova York
Há exatamente 25 anos, 22 de setembro de 1980, as forças iraquianas de Saddam Hussein lançaram um ataque aéreo e terrestre contra o relativamente recente regime dos aiatolás xiitas no Irã.
Foram oito anos de uma guerra notável pelo sacrifício de vidas humanas e armas químicas.
Algumas estimativas mencionam 1,5 milhão de mortos. O conflito que teve disputas territoriais como estopim terminou em agosto de 1988 com as fronteiras inalteradas.
Mas, 25 anos mais tarde, não há dúvida que o Irã saiu vencedor.
Com a invasão americana do Iraque em 2003, Saddam Hussein está preso, aguardando julgamento, previsto para começar no próximo dia 19.
O país é laboratório de um experimento que pode levar a uma guerra civil aberta ou ao seu esfacelamento entre xiitas, sunitas e curdos.
Já no Irã, com o presidente Mahmoud Ahmadinejad, uma nova geração de revolucionários xiitas está no poder em Teerã.
O seu discurso populista lhe conferiu uma base genuína, especialmente entre os pobres que se sentiam abandonados por líderes religiosos corruptos.
Virulência
Com a ascensão de Ahmadinejad foram ceifadas as esperanças de moderação e se tornou ainda mais difícil um compromisso para a eliminação das ambições nucleares do país.
A militância ficou claríssima no virulento discurso do novo presidente feito sábado passado diante da Assembléia Geral das Nações Unidas.
O Irã está confiante que os EUA e o trio europeu (Grã-Bretanha, França e Alemanha) não conseguirão levar a questão do seu programa nuclear, com vistas a sanções, para o Conselho de Segurança da ONU, diante da resistência de Rússia, China e potências emergentes como o Brasil.
As ambições geopolíticas do Irã são incontestáveis, até megalomaníacas.
O general Yahya Safavi, comandante da Guarda Revolucionária, disse recentemente que a missão de Teerã é criar "um mundo multipolar no qual o Irã tenha um papel de liderança", enquanto o presidente Ahmadinejad afirmou que o dominio geopolitico no Oriente Médio "é um direito incontestável da nação iraniana".
Com o fim do regime de Saddam Hussein, estas ambições - pelo menos as regionais --foram facilitadas.
Na verdade, a ofensiva geopolítica do governo George W. Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001 se converteu em uma vantagem estratégica para o regime xiita de Teerã.
Inimigos nos dois lados - o Partido Baath em Bagdá e o Talebã em Cabul - foram afastados do poder.
A cruzada democrática americana no Oriente Médio minou rivais tradicionais do Irã, como a Arábia Saudita e o Egito.
E, no Líbano, a expulsão das tropas sírias, fortaleceu ainda mais a influência iraniana.
O establishment sunita no mundo árabe teme um arco xiita na região.
Em Bagdá, o frágil poder está nas mãos do primeiro-ministro xiita Ibrahim Al Jaafari, que passou em Teerã parte do seu exílio nos tempos de Saddam Hussein.
Jafari tem estreitado as relações com o regime iraniano e, como lembra Ray Takeyh, do Conselho de Relações Externas, em Washington, esta iniciativa altera profundamente o cenário geopolitico na região, marcado por décadas pelo antagonismo entre Teerã e Bagdá.
Um ponto culminante deste antagonismo obviamente foi a guerra entre 1980 e 1988.
Lá na prisão, Saddam Hussein tem tempo para refletir sobre o seu erro de cálculo de 25 anos atrás.
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