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05/10/2005 - 07h21

Disputa com Brasil é 'conflito menor' para China, dizem analistas

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil

O anúncio do governo do Brasil de que deverá impor salvaguardas contra produtos da China não deve causar preocupação entre as autoridades chinesas, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

A medida foi defendida pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que retornou recentemente de uma viagem a Pequim. A iniciativa brasileira permitirá que setores que se sintam prejudicados pela concorrência chinesa possam pedir proteção através de cotas ou de sobretaxas.

"O governo chinês está mais centrado em restrições semelhantes adotadas por países com os quais tem maior volume de comércio, como a União Européia e os Estados Unidos", afirma Patrick Tilbury, editor-sênior da região asiática da empresa de consultoria Oxford Analytica, ligada à Universidade de Oxford.

O economista e investidor Peter West, da Piolim Investment minimiza qualquer possível crise existente entre Brasil e China. "É preciso distingüir entre disputas maiores e menores. Nenhum dos dois países permitiria que isto se torne uma grande divergência."

No entender de Linda Yuan, economista da London School of Economics, ao reconhecer a China como uma economia de mercado, o Brasil colheu vantagens, mas também caiu em uma armadilha.

"Ao reconhecer a China, alguns laços comerciais entre os dois países foram facilitados. Mas, por outro lado, isso torna mais difícil argumentar que os chineses estão infringindo regras antidumping", diz a economista.

Sem efeito

Segundo Peter West, o efeito das possíveis salvaguardas brasileiras "quase não foi notado no mercado financeiro", o que, segundo ele, explicaria o fato de que a China não deverá impor retaliações a produtos brasileiros.

Mas ele acrescenta que "o Brasil não deve ir muito além" em quaisquer possíveis restrições contra a China, uma vez que o país depende da importação de têxteis e calçados chineses.

Segundo Linda Yuan, "quando o presidente Lula visitou a China, em novembro do ano passado, havia uma expectativa de que o comércio entre os dois países atingiria a faixa de US$ 20 bilhões nos próximos três anos. Agora, a sensação no Brasil é de que é improvável que esta meta seja atingida".

De acordo com a economista, cifras mais vultosas no comércio entre Brasil e China deverão ser obtidas, sim, mas os principais beneficiários devem ser os chineses. "Os chineses deverão ter os maiores lucros, graças aos produtos que exportam. A questão é como manter uma parceria entre Brasil e China, que estimule o crescimento em ambos os países", diz Linda Yuan.

A economista acrescenta que "o crescimento da China tem sido fantástico desde que o país entrou para a Organização Mundial do Comércio e sofreu um aumento considerável dos têxteis e calçados que fabrica. Claro, fabricantes destes produtos em outros países irão sofrer os efeitos. Isso é fácil de notar, já que antes a China não participava desse processo".

Segundo Patrick Tilbury, "é desconfortável para ambos os países entrar em uma disputa. A China tem certa identificação tanto política como econômica com o Brasil e ambos exercem papel de liderança dentro do G-20".

Mas, segundo ele, parece que o Brasil não sente que foi tratado com a devida generosidade ao haver dado status de economia de mercado à China, como que o país fizesse "investimentos mais pesados no Brasil, possivelmente no setor de infra-estrutura".

Mas o economista afirma que o reconhecimento não foi um erro estratégico por parte do Brasil. "Devido a fatores políticos, muitos outros países reconheceram a China como uma economia de mercado na mesma época. A China não crê que esteja demonstrando ingratidão, mas sim que existe hoje um novo cenário comercial diante dela."
 

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