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10/10/2005 - 13h26

Terremoto na Ásia traz oportunidades políticas

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Diante da imensa tragédia no subcontinente indiano no fim de semana, o presidente dos EUA, George W. Bush, agiu com uma rapidez que inexistiu tanto no tsunami asiático em dezembro passado como no furacão Katrina semanas atrás.

O governo americano foi ágil para anunciar uma "contribuição inicial" de US$ 50 milhões para tarefas de salvamento no Paquistão, assim como o despacho de helicópteros e aviões, cuja missão básica na região é caçar integrantes da rede Al Qaeda e garantir o que pode ser definido como estabilidade no vizinho Afeganistão.

O Pentágono garante que esta transferência de recursos para o Paquistão não irá prejudicar as tarefas militares essenciais na região.

Para Bush, além da óbvia necessidade de se redimir da imagem de lentidão e insensibilidade em desastres naturais, existe um foco geopolítico.

O regime do presidente Pervez Musharraf é crucial na luta contra Osama Bin Laden e na repressão de extremistas islâmicos.

Na sociedade paquistanesa, o antiamericanismo é uma marca registrada e, da mesma forma que aconteceu no ano passado com o tsunami, a generosidade do país mais rico do mundo em um momento de emergência em partes miseráveis do mundo pode ajudar a suavizar os sentimentos políticos e culturais negativos.

O status de Musharraf é, para dizer o mínimo, precário. Ele foi alvo de pelo menos duas tentativas de assassinato, e dentro do seu regime existe uma dinâmica de duplicidade na chamada guerra contra o terror.

Vulnerabilidade

As pressões americanas por uma postura mais clara e incisiva do Paquistão na campanha contra o extremismo islâmico têm sido crescentes, o que torna Musharraf mais vulnerável diante de setores da sociedade e mesmo militares que o consideram subserviente aos interesses de Washington.

Vale lembrar que Musharraf é um general que tomou o poder em um golpe de Estado em 1999.

Os atentados do 11 de setembro geraram uma nova dinâmica política no subcontinente e contribuíram para uma aproximação entre os EUA e a Índia, o tradicional rival do Paquistão.

Para o governo Bush, tem sido um balé diplomático delicado dançar com os dois países que, como parte de sua disputa estratégica e territorial, se tornaram membros do clube nuclear.

Neste contexto, esfriar as tensões e minimizar os riscos nucleares no subcontinente indiano são prioridades geopolíticas dos EUA.

Como no resto do mundo, existe a expectativa de que a destruição causada pelo terremoto possa ser um incentivo para cimentar o tênue cessar-fogo dos últimos anos.

Os americanos têm sido muito ativos nas pressões por uma solução na disputa na Caxemira, região mais afetada pelo terremoto e epicentro do conflito regional.

Os dois países rivais reivindicam a soberania na Caxemira, uma das regiões mais militarizadas do mundo e pivô de duas das três guerras travadas desde o fim do domínio colonial britânico em 1947, que resultou na partilha do subcontinente indiano.

Uma preocupação central do governo Bush é o fim dos ataques contra a Índia empreendidos por militantes islâmicos paquistaneses que usam a Caxemira como base logística e de recrutamento.

Com a tragédia natural, Índia e Paquistão expressaram gestos de boa vontade humanitária e política.

No rastro de destruição, talvez seja possível alargar uma trilha de reconciliação. Para o governo Bush, interessa ao máximo estar na linha de frente nesta missão de reconstrução e também de exploração política.
 

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