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14/10/2005 - 18h07

Aftosa faz crescer medo de gripe aviária no Brasil

DIEGO TOLEDO
da BBC Brasil, em São Paulo

O surgimento do novo foco de febre aftosa no Brasil revelou, na opinião de criadores e exportadores de frangos, falhas no controle sanitário animal que aumentam a preocupação quanto ao possível aparecimento de casos de gripe aviária no país.

"É inadmissível que nós tenhamos um plantel de 190 milhões de bovinos, a gente abata 4,6 bilhões de aves por ano, 35 milhões de suínos e a gente não tenha um controle eficiente em cima desse plantel", afirma Clóvis Pupperi, diretor-executivo da União Brasileira de Avicultura (UBA).

"Tem que haver uma defesa sanitária animal mais eficiente para tomar conta desse nosso plantel porque, senão, amanhã ou depois, nós podemos sair do mercado internacional", acrescenta Pupperi.

Para Antenor Nogueira, da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), o caso de febre aftosa no Mato Grosso do Sul demonstrou que faltou verba ao Ministério da Agricultura para uma fiscalização mais rigorosa.

"A insensibilidade do setor financeiro brasileiro é que tem gerado esse problema para o Ministério da Agricultura", diz Nogueira. "O ministro da Agricultura não pode ficar mais com o chapéu na mão, pedindo verbas para esse setor, que é de suma importância."

Prejuízo e verbas

A CNA avalia que o Brasil deve deixar de exportar cerca de US$ 1 bilhão em carne bovina devido ao novo foco de febre aftosa no país. Apesar da doença não atingir os frangos, o risco de falhas na fiscalização também preocupa os avicultores.

"Nós queremos exportar, mas temos que ter controle sanitário, rastreabilidade e sanidade nos nossos plantéis", afirma Pupperi. "Hoje é mais importante nos mercados internacionais o controle sanitário do que a qualidade."

"Isso é muito ruim para um país que hoje detém o primeiro lugar em termos de exportação de carnes, de modo geral, do mundo. Nós não podemos passar por isso mais. Chega", reclama Antenor Nogueira.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, diz que o orçamento de defesa sanitária do Brasil para 2005 era o melhor da década, mas admite que os recursos foram reduzidos devido a um "contingenciamento" nas contas do governo.

Rodrigues afirma que parte do orçamento inicial foi recuperada ao longo dos últimos meses a partir de negociações com os ministérios da Fazenda e do Planejamento.

De acordo com o ministro, mais da metade desses recursos já foram aplicados no combate a doenças como a febre aftosa e a brucelose e na prevenção contra o mal da vaca louca e a gripe aviária.

Em entrevista ao telejornal Bom Dia Brasil, da TV Globo, Rodrigues revelou que o governo está preparando um projeto emergencial de prevenção à gripe aviária e disse que a responsabilidade pelo controle sanitário deve ser compartilhada entre os Estados e a União.

"Parte dos recursos do governo federal são repassados aos governos estaduais, mas isso precisa de plano para ter um projeto acabado, completo, com começo, meio e fim", disse o ministro na entrevista à Globo. "Alguns Estados ainda não apresentaram esses programas."

Prevenção

Diante do temor, cada vez maior em todo o mundo, de que a gripe aviária se espalhe por mais países, a União Brasileira de Avicultura diz que os criadores de frango têm adotado uma série de precauções para evitar que a doença chegue ao Brasil.

"Há uma série de medidas sanitárias que não evitam 100%, mas colaboram muito para não ocorrer casos (de gripe aviária)", afirma Clóvis Pupperi. "É difícil você dizer: 'olha, nós não vamos ter'. A gente espera não ter, mas, se tiver, temos que agir muito rápido e de uma maneira eficiente para que os importadores aceitem que nós fizemos o melhor."

Entre outras ações preventivas, o diretor da UBA cita práticas como uma maior proteção das rações, impedir o contato com aves selvagens, utilizar telas pequenas nos aviários, controlar melhor a qualidade da água para as aves e higienizar por completo os aviários.

Pupperi reforça, no entanto, a importância de que o Ministério da Agricultura promova um controle sanitário mais eficiente como forma de cooperar com o trabalho dos avicultores.

"Quem dá o aval de sanidade não é a indústria privada, é o Ministério da Agricultura", afirma. "Para exportar, nós precisamos do ministério. Tem que ter mais verbas."

De acordo com o diretor da UBA, a informação de que o caso de gripe aviária registrado na Colômbia foi causado por um vírus menos perigoso do que o que vem causando estragos na Ásia foi recebida com alívio.

"Graças a Deus nós estamos em uma área ainda um pouco protegida, que é a América do Sul, mas a gente nunca sabe", diz Pupperi. "Se (a gripe aviária) vier aqui, nós vamos ter um problema social muito grande porque quem cria boi é gente de dinheiro, é fazendeiro, mas quem cria frango é o pequeno proprietário."
 

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